FILMES E SÉRIES

Aneurin Barnard, Emily Beecham e Andreas Pietschmann

Divulgação/Netflix

CRÍTICA

1899: ‘Nova Dark’ da Netflix tropeça nos próprios mistérios

Dos mesmos criadores do fenômeno alemão, série chegou ao streaming com novos segredos, mas sem o mesmo apelo da original

André Zuliani

Considerada uma das melhores séries da história da Netflix, Dark (2017-2020) foi um dos títulos internacionais que furou a bolha de Hollywood e alcançou sucesso mundial. Mesmo sem o reconhecimento de La Casa de Papel (2017-2021) ou Round 6, a atração alemã revelou talentos locais para o mundo e causou um alvoroço nas redes sociais com inúmeras teorias criadas pelos fãs. Foi com essa bagagem que 1899, nova aposta da gigante do streaming, estreou na plataforma na quinta (17).

Criada por Jantje Friese e Baran bo Odar, mesma dupla responsável por Dark, 1899 traz consigo quase todos os elementos que tornaram a série alemã um hit do streaming. Para os órfãos da trama situada na cidade de Winden, a nova atração introduz uma narrativa recheada de mistérios, reviravoltas e personagens com passados sombrios.

Tal como sua antecessora, 1899 é um quebra-cabeça narrativo que flutua entre o horror e a ficção científica. Neste caso, a história deixa o interior e vai para o alto-mar, com os personagens principais se dividindo entre passageiros e tripulação do luxuoso navio Cerberus –na mitologia grega, é o nome dado ao cão de três cabeças que guarda os portões do submundo controlado por Hades.

Para tornar as coisas ainda mais sinistras, quatro meses antes de o Cerberus zarpar, um navio com a mesma rota havia desaparecido sem deixar vestígios. Intitulada Prometheus, a embarcação perdida emite um sinal de socorro que é detectado pelo Cerberus no meio da viagem e, após um breve debate, o capitão Eyk Larsen (Andreas Pietschmann, o Jonas adulto de Dark) decide que eles precisam ir ao resgate.

Emily Beecham

Emily Beecham é Maura Franklin

Divulgação/Netflix

A bordo do Cerberus está uma tripulação com habitantes de todo o mundo. Durante toda a primeira temporada, 1899 exibe diálogos em francês, inglês, cantonês, polonês, português, espanhol, dinamarquês e, claro, alemão –mesmo que nem todo personagem entenda o que o outro está lhe dizendo. No centro da trama está Maura Franklin (Emily Beecham), uma médica com um passado sombrio cujo destino envolve mistérios ligados ao Prometheus.

É no encontro entre os dois navios que 1899 começa a se afogar nos próprios mistérios. Eyk e sua equipe percebem que toda a tripulação do Prometheus sumiu e restou apenas um garoto (Fflyn Edwards). Aparentemente em choque, o garoto não abre a boca e deixa todos com a pulga atrás da orelha para descobrir o que aconteceu com as outras pessoas. De volta ao Cerberus, a tripulação descobre que alguns dos passageiros estão morrendo misteriosamente, até que o caos toma conta da embarcação.

Em Dark, Jantje e Odar se aproveitaram de uma narrativa lenta para prender a atenção do público e entregar respostas em migalhas. A atração era o tipo de série em que qualquer detalhe importava, não sendo possível dividir a atenção com outras coisas. Com 1899, a dupla tenta repetir o processo, mas tantas são as perguntas jogadas em tela que a experiência de acompanhar os eventos vai se tornando maçante a cada episódio.

Fflyn Edwards

Fflyn Edwards em cena de 1899

Divulgação/Netflix

Com a descoberta do Prometheus e do garoto solitário, 1899 tem início promissor. Fica claro que os mistérios envolvendo os dois navios fazem parte de uma conspiração ainda maior, mas o roteiro se perde ao tentar adicionar mais camadas de dúvidas ao explorar o passado duvidoso de seus personagens. Assim como em Lost (2004-2010), a maioria dos passageiros tem um motivo para estar ali, mas nem todos ganham espaço o bastante para explorar essas possibilidades.

Embora alguns conflitos causados por decisões equivocadas do capitão façam sentido, há alianças e aproximações entre personagens que surgem apenas como muleta para ver a interação entre povos diferentes. Até a parceria entre os protagonistas Maura e Eyk, interligados pelo luto do passado, é pouco crível em vários momentos.

Em síntese, 1899 falha por ir com muita sede ao pote desde o início. Se em Dark os mistérios da trama cresceram progressivamente sem se amontoar, a nova série da Netflix cair na armadinha de querer instigar o público sem realmente capturar a sua atenção. No fim, há uma sensação de urgência para que aquelas perguntas sejam respondidas não pela curiosidade, mas sim para acabar de vez com o sofrimento do espectador de estar acompanhando aquele quebra-cabeça muitas vezes sem sentido.

Caso seja renovada para um segundo ano, 1899 tem muito o que melhorar para ser, quem sabe, capaz de honrar o legado brilhante deixado por Dark. Por enquanto, a aposta da Netflix fica como uma mera sombra do sucesso de sua antecessora.

Aneurin Barnard, Emily Beecham e Andreas Pietschmann

1899

Trailer legendado

Cartaz de 1899

1899 - 1ª temporada

Aventura, Ficção
16

Direção

Vários

Produção

Netflix

Onde assistir

Netflix

Elenco

Emily Beecham
Andreas Piestchmann
Aneurin Barnard
Miguel Bernardeau
Isabella Wei
José Pimentão
Mathilde Ollivier
Isaak Dentler
Clara Rosager
Jonas Bloquet
Yann Gael
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QUEM FEZ

André Zuliani

Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.

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