45 do Segundo Tempo: Tony Ramos tem crise existencial em filme tocante

Novo projeto do diretor Luiz Villaça (De Onde Eu Te Vejo), 45 do Segundo Tempo é o tipo de filme cujo título pode enganar alguns desavisados. A referência ao futebol, somada a algumas cenas de Tony Ramos vestindo a camisa do Palmeiras no trailer, pode passar a impressão de que se trata de mais uma produção sobre o esporte bretão, tal como Boleiros: Era Uma Vez o Futebol (1998) ou até mesmo O Casamento de Romeu e Julieta (2005). No entanto, o novo longa traz reflexões que vão muito além das quatro linhas do campo.

Na trama, Tony Ramos dá vida a Pedro Baresi, palmeirense fanático e dono de uma tradicional cantina italiana no Bixiga, em São Paulo, fundada há cinco décadas por seu avô. Sem família e com graves problemas financeiros, ele luta para manter o restaurante aberto, mas perde todas as esperanças após a morte de Calabresa, sua cadelinha e única companheira.

Neste meio tempo, Pedro reencontra dois de seus melhores amigos da época do colégio: Ivan (Cássio Gabus Mendes), que se tornou um respeitado advogado, e Mariano (Ary França), jovem que abraçou a religião e virou padre. O trio se reúne a convite de uma fotógrafa para refazer uma imagem dos anos 1970, quando eles, ainda adolescentes, estamparam um jornal na inauguração do metrô de São Paulo.

Desolado com a perda de cachorrinha, Pedro confidencia aos antigos amigos que decidiu tomar uma decisão drástica: ele vai tirar a própria vida. Quando? Logo após o fim do campeonato que pode dar o título brasileiro ao Palmeiras após vários anos.

A revelação bombástica do palmeirense acaba por reaproximar o trio, já que Ivan e Mariano se veem na obrigação de tentar mudar a cabeça do velho amigo. O problema é que ambos também enfrentam as próprias questões, seja na profissão, na família ou na fé.

Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes e Ary França

Divulgação/Globo Filmes

Além das várias referências ao futebol, 45 do Segundo Tempo é uma alegoria sobre as várias escolhas que fazemos durante a vida e de como as enxergamos na reta final. A citação ao momento derradeiro de uma partida também é uma alusão ao último terço da vida, quanto o indivíduo olha para trás e reflete sobre a própria existência.

Desta forma, o texto coescrito por Villaça mescla drama e comédia da maneira mais deliciosa que o cinema brasileiro pode oferecer. O longa consegue abordar vários temas espinhosos, da homofobia à religião, de forma sensível, mas nunca rasa. Ao abordar a nostalgia que aflige muitos, 45 do Segundo Tempo torna-se uma obra atemporal, daquelas que consegue tocar até mesmo quem não está na mesma faixa etária dos personagens.

A química do trio protagonista também funciona de forma adorável. Tony Ramos brilha como Pedro e seu sotaque de paulistano do Bixiga e trejeitos de “carcamano”, assim como o inseguro padre Mariano de Ary, que questiona a própria fé enquanto luta para controlar os desejos carnais de um adulto ainda virgem. Até mesmo Cássio, que interpreta o personagem mais “falho” entre os três, é capaz de fazer o público criar empatia.

Na vontade de reviver a nostalgia dos melhores anos de suas vidas, o trio decide viajar até a cidade na qual passaram tantas férias de verão com os amigos. Reencontrar uma antiga paixão e rever paisagens tão queridas os fazem repensar a vida, mesmo que esta reflexão seja mais dolorosa do que eles imaginam.

45 do Segundo Tempo é um filme que fala sobre amizade e como, mesmo após anos sem se ver, três velhos amigos mantém forte uma ligação que vai além dos limites do tempo. Algo com que jovens e adultos conseguem se identificar, mesmo os que ainda estão apenas na metade desta incrível e complicada partida de futebol chamada vida.

45 do Segundo Tempo

Confira o trailer oficial