Divulgação/Manequim Filmes
A Porta ao Lado levanta questões sobre monogamia, fidelidade e desejos; elenco conta com Bárbara Paz, Dan Ferreira e Túlio Starling
A Porta ao Lado, que estreia nos cinemas nacionais nesta quinta-feira (9), é o tipo de filme que vai deixar o espectador com a cabeça fritando do começo ao fim. Com Letícia Colin, Bárbara Paz, Túlio Starling e Dan Ferreira no elenco, a trama amplia o debate sobre a monogamia, aprofunda questões inerentes do próprio ser humano e ainda se mostra uma afronta ao conservadorismo.
Dirigido por Júlia Rezende (Ponte Aérea), A Porta ao Lado segue um casal daqueles bem estabelecidos. Mari (Letícia Colin) é chef de um restaurante e tem um relacionamento com Rafa (Dan Ferreira) há anos. Mas tudo começa a dar uma balançada quando Ísis (Bárbara Paz) e Fred (Túlio Starling), um casal “moderninho”, se mudam para o apartamento ao lado.
Enquanto Mari e Rafa são monogâmicos e “certinhos”, Ísis e Fred beijam outras pessoas na frente um do outro, usam drogas e têm uma vida bem diferente do casal que mora ao lado. A colisão desses dois mundos abre fissuras nunca antes escancaradas, nos dois relacionamentos –e, principalmente, em cada um deles individualmente.
As inseguranças de Mari, que acaba sendo o grande fio condutor da história, se afloram no decorrer do filme. Ela se vê questionando seu futuro, seu relacionamento insosso e até a sua falta de coragem para viver os próprios desejos. O filme costura a história de Mari a partir de suas relações com seus pais, seus vizinhos e seu marido, e mostra um buraco sufocante no qual ela se enfiou por conta própria, por deixar que outras pessoas conduzissem sua vida em vez de ela mesma assumir o controle.
Ainda que haja certa superficialidade na abordagem de alguns temas, Julia Rezende convida o público a refletir não somente sobre os modelos de relacionamento, mas também sobre a definição de lealdade –afinal, ser fiel ao outro e não a si mesmo também é uma forma de traição?–, sinceridade e os limites do desejo.
A questão da fidelidade é um ponto-chave da narrativa, explorada das formas mais variadas. Para um casal monogâmico, ser fiel significa apenas não se envolver de maneira carnal com outras pessoas durante o relacionamento? Ou isso pode ir muito além?
Enquanto Mari acaba cedendo ao desejo e transando com Fred, Rafa está cada vez mais afastado da própria mulher e se doando emocionalmente para outra. Ísis, que se relaciona com Fred e com outra mulher ao mesmo tempo, se vê em um dilema quando descobre uma gravidez que nunca desejou. Quando toma uma decisão sozinha a respeito, Fred também se sente traído.
Relações de opressão também são exploradas no decorrer da narrativa. Em determinado momento, Rafa contesta o sofrimento de Mari por ela ser uma mulher branca e, ele, um homem negro. Já Ísis e Fred têm uma diferença de idade significativa, que por vezes parece comandar a trajetória dos dois. O problema é que o filme peca na exploração de temas mais profundos como esses, que acabam sendo mero enfeite para a narrativa.
Um dos pontos fortes, porém, é não retratar a rivalidade feminina tão exaustivamente explorada em outras obras. A cineasta conhece o caminho de uma representação de mulheres que pode ser diferente do estereótipo e faz isso com maestria no longa-metragem.
Apesar de algumas falhas, A Porta ao Lado não tem nenhuma pretensão de ser um filme que julga, justamente para fazer com o espectador se questione, se identifique e reflita. Na universalidade do amor romântico, o diferente pode assustar, mas não há certo ou errado –há riscos e tentativas, sem resposta concreta para o que funciona ou não.
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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