FILMES E SÉRIES

Jonathan Groff e Holt McCallany em cena de Mindhunter, da Netflix

(Foto: Divulgação/Netflix)

Séries Canceladas

Acordo com a Warner Bros. expõe o maior paradoxo da Netflix

A possível transação bilionária reforça algo que muita gente já apontava sobre a gigante do streaming

Victor Cierro
Victor Cierro

A compra da Warner Bros. pela Netflix por cerca de US$ 83 bilhões (R$ 450 bilhões) virou o assunto do momento e mexeu com toda a indústria. O movimento coloca a gigante do streaming em uma posição inédita, capaz de redefinir a disputa que marcou os últimos dez anos. Mas, enquanto o mercado tenta entender o impacto dessa fusão, um detalhe chama ainda mais atenção: a empresa colocou bilhões na mesa depois de anos justificando cancelamentos por falta de orçamento ou custo alto de produção.

Essa contradição reacende debates antigos entre fãs e criadores. Mindhunter é o exemplo mais contundente. A série de David Fincher, uma das produções mais elogiadas da plataforma, perdeu a chance de ganhar uma terceira temporada porque o estúdio considerava o projeto caro demais. O diretor revelou que recebeu pressão para tornar a série mais pop, algo incompatível com a proposta original. Outras produções também ficaram pelo caminho, como GLOW, Travelers e Daybreak, todas encerradas com justificativas genéricas sobre desempenho ou dificuldades de produção.

O contraste entre esses cortes e o investimento bilionário na Warner abre uma discussão inevitável. Como a empresa que dizia não conseguir sustentar séries autorais assume agora um dos acordos mais caros da história do entretenimento? A incoerência repercute mal entre assinantes e profissionais, especialmente diante do padrão da Netflix de encerrar rapidamente projetos que ainda estão construindo seu público.

Netflix e a disputa pela Warner

A disputa corporativa esquentou ainda mais. Pouco depois do anúncio da Netflix, a Paramount-Skydance apresentou uma oferta hostil de US$ 108 bilhões (R$ 588 bilhões) para assumir a Warner Bros. Discovery. O grupo de David Ellison ofereceu US$ 30 (R$ 162) por ação, em dinheiro, e pretende controlar também toda a operação de TV, que inclui CNN, TBS e TNT.

O CEO ainda promete lançar mais de 30 filmes nos cinemas para reposicionar o estúdio e disputar diretamente o futuro do conglomerado. A guerra pelo controle da Warner adiciona uma camada extra de tensão ao mercado.

A postura da Netflix revela uma estratégia marcada por grandes apostas. A empresa busca constantemente um novo fenômeno capaz de repetir o impacto de Stranger Things ou Wandinha. Novas séries são lançadas em ritmo acelerado, mas recebem pouco tempo para crescer, e qualquer resultado considerado insuficiente leva ao cancelamento. Essa prática já era duramente criticada e agora ganha ainda mais peso diante de um investimento tão gigantesco.

O acordo ainda deve levar meses, mas a pressão para mudar a relação com o próprio catálogo já é evidente. A Netflix afirma querer oferecer mais escolha e maior valor ao público, e fortalecer suas produções originais seria o caminho mais direto para isso. Evitar decisões abruptas como o fim de Mindhunter continua sendo uma das reivindicações mais frequentes entre os fãs.

No fim, a transação bilionária reforça algo que muita gente já apontava. O cancelamento de séries queridas nunca foi apenas sobre custo. E, agora que o mercado viu o tamanho das jogadas envolvidas, as antigas justificativas soam mais frágeis do que nunca.

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Victor Cierro

Victor Cierro

Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.

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