Divulgação/Paramount Pictures
Dirigido por Damien Chazelle (La La Land), longa estreia nos cinemas nesta quinta-feira (19); Brad Pitt e Margot Robbie encabeçam o elenco
Um dos principais cotados ao Oscar 2023, Babilônia (2022) é um filme que vai do céu ao inferno em suas mais de três horas de duração. Dirigido por Damien Chazelle (La La Land), cineasta mais novo a levar a estatueta dourada, o longa apresenta uma trama que escala de maneira fulminante desde o início, mas deixa um gosto agridoce na boca conforme se aproxima do final.
Para os padrões do cinema moderno, Babilônia pode ser descrito como um épico sobre o início de Hollywood. O termo “épico” não condiz com as cifras de Hollywood voltadas para filmes de super-heróis, mas com a megalomania com que Chazelle apresenta ao público o antigo universo dos astros que passaram pela transição do cinema mudo para o falado.
O regresso ao passado na narrativa do longa é feito através do ponto de vista de quatro protagonistas com sonhos semelhantes e personalidades distintas: Jack Conrad (Brad Pitt), grande astro do cinema mudo que deseja se manter no topo; Nellie LaRoy (Margot Robbie), jovem pobre do interior dos Estados Unidos cuja ambição é se tornar a maior estrela de Hollywood; Manny Torres (Diego Calva), imigrante mexicano que trabalhada como um “faz-tudo” de um dos grandes produtores do cinema; e Sidney Palmer (Jovan Adepo), músico negro que vê no showbiz a sua grande chance de explodir.
Caso dependesse apenas de sua sequência inicial, Babilônia seria favoritíssimo ao Oscar. Uma festa organizada por um dos grandes produtores da indústria pinta um retrato exagerado e sedutor do caos que vem junto com a fama. Salas lotadas de pessoas transando explicitamente, bebidas e jogos de azar dominando rodas de conversas, uma banda tocando a plenos pulmões e cocaína para dar e vender. Ah, claro, é impossível se esquecer do elefante que surge no meio da mansão quando alguns seguranças querem esconder o corpo de uma jovem que acaba de ter uma overdose.
Margot Robbie em cena de Babilônia
Divulgação/Paramount Pictures
Embora seja pouco crível para algumas pessoas, a caótica abertura do longa é uma pincelada da homenagem que Chazelle busca fazer aos primórdios do cinema norte-americano. Entre as coisas boas e ruins que habitavam este universo, o diretor tem como missão não deixar nada de fora, desde o lado promíscuo envolvendo as figuras da indústria aos métodos abusivos sob os quais os funcionários de Hollywood trabalhavam.
Hollywood, afinal, sempre foi uma indústria em que predominavam aqueles com poder. Sejam diretores, produtores ou artistas, aqueles que tinham voz (sobretudo homens brancos e héteros) dominavam o jogo. Até mesmo a ascensão de figuras como Nellie e Manny, membros de minorias em busca de glórias em um universo opressivo, se davam sob o olhar daqueles que comandam. Nellie surpreende como atriz, mas tem na sensualidade o grande trunfo. Já Manny, competente como poucos, traz nos ombros a visão colonial dos norte-americanos, na qual o mexicano cresceria fazendo tudo o que lhe mandassem.
No caso de Jack Conrad, é no retrato da ascensão e da queda de um astro que se aproxima de seu ato final que Babilônia reflete a mudança dos tempos. Outrora o ator mais bem pago do estúdio e sinônimo de sucessos, ele passa a cair no esquecimento e a lidar com as dores de ser substituído pelo ídolo da vez. É a bagunça megalomaníaca que faz jus ao título do filme.
Para completar a salada mista que era Hollywood nos anos 1920, Chazelle ainda evoca Elinor St. John (Jean Smart) como a repórter capaz de colocar atores e atrizes no centro das atenções da indústria. O poder de influência da mídia vem desde os primórdios, mas a crítica de Babilônia se envolve neste universo como se fosse uma das estrelas das telonas. É através dela, inclusive, que o diretor destaca a importância da sétima arte: mesmo mortos há décadas, os astros de Hollywood sempre ressuscitaram quando o público dá play em um de seus filmes. Afinal, histórias, em suas mais variadas formas, são eternas.
Jean Smart
Divulgação/Paramount Pictures
Enquanto constrói a sua história baseado nas jornadas de crescimentos de seus personagens, o longa prende a atenção do espectador com sequências escandalosas, diálogos absurdos e cenas capaz de arrancar gargalhadas do público. É por ter tantas qualidades que, ao chegar na segunda metade do filme, Babilônia se torna uma experiência quase sofrível.
Competente em todos os longa-metragens de sua carreira até aqui, Chazelle mostra em Babilônia que também é suscetível para sucumbir à própria ambição. Fazer um épico de mais de 180 minutos de duração sempre apresenta armadilhas nas quais é preciso muito esmero para não cair, mas o cineasta que completa 38 anos nesta quinta (19) acaba por falhar em sua própria missão.
A ambição (justa, convenhamos) de Chazelle se volta contra ele pelo simples motivo de usar o filme para explorar os inúmeros gêneros que marcam a tão rica indústria do cinema. Babilônia tem momentos de tensão, drama, comédia e romance, mas é ao tentar abraçar o suspense –e uma pitada de terror– que a narrativa parece sair dos trilhos. É triste ver uma produção com um começo tão surpreendente se despedaçar de maneira tão marcante em seu ato final.
O desastre narrativo de último terço, no entanto, não faz de Babilônia o primeiro fracasso de Damien Chazelle. Melhor dizendo, é possível analisar o filme sob o mesmo olhar que o diretor teve sobre os primórdios de Hollywood: entre festas de arromba e o charme de se viver no topo do mundo, sempre há percalços e más fases que completam a vida de um artista e daqueles que o rodeiam. Para o bem ou para o mal, nós sempre procuramos olhar para o copo meio cheio. Para que sua presença no Oscar 2023 seja possível, é necessário torcer para que os votantes da Academia vejam o filme dessa maneira.
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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