FILMES E SÉRIES

Bill Hader em cena de Barry, série da HBO

(Foto: Divulgação/HBO)

Barry

A série da HBO com 98% de aprovação que quase ninguém comenta

Episódios curtos e temporadas enxutas dificultam o surgimento daquele tipo de debate semanal prolongado que costuma acompanhar séries maiores

Victor Cierro
Victor Cierro

Apesar de ter conquistado a crítica ao longo de quatro temporadas, Barry não alcançou o mesmo nível de conversa pública que outras grandes produções da HBO. A série criada, dirigida e estrelada por Bill Hader manteve 98% de aprovação no Rotten Tomatoes e venceu 10 Emmys, incluindo Melhor Ator em Comédia e Melhor Direção. Ainda assim, ficou longe de virar fenômeno de cultura pop. O curioso é que tudo nela parecia apontar para o contrário.

A premissa sempre foi forte. A história acompanha Barry Berkman, um assassino de aluguel depressivo que tenta abandonar a vida criminosa quando descobre, por acaso, o mundo do teatro em Los Angeles. A partir daí, ele passa a dividir sua rotina entre assassinatos contratados e aulas de atuação, criando uma mistura de humor ácido, violência repentina e tragédia emocional. Essa fusão de tons é um dos motivos pelos quais críticos sempre destacaram a originalidade da série.

Com o passar das temporadas, Barry se tornou mais densa e menos fácil de rotular. A comédia nunca desapareceu, mas o drama ganhou contornos mais pesados, explorando culpa, trauma, vício de violência e identidade. Esse movimento, embora elogiado por muitos, pode ter afastado parte do público que entrou esperando algo mais leve ou mais próximo de uma sitcom com um anti-herói excêntrico.

Outro ponto que pode ter contribuído para a conversa limitada é o formato. Episódios curtos e temporadas enxutas, com ritmo direto, dificultam o surgimento daquele tipo de debate semanal prolongado que costuma acompanhar séries maiores. No lugar de grandes cliffhangers, Barry trabalha com silêncios, escolhas morais e respiros interpretativos. É uma série que continua reverberando depois do episódio, não durante ele.

Barry é uma joia escondida na HBO

Além disso, nenhum dos personagens segue o caminho tradicional do carisma absoluto. Barry é complexo e frequentemente faz escolhas questionáveis. Sally (Sarah Goldberg) é ambiciosa e frágil ao mesmo tempo. Fuches (Stephen Root) é manipulador e carente. E Gene Cousineau, interpretado por Henry Winkler, equilibra ternura e vaidade em uma linha tênue. Essa construção mais humana, sem heróis óbvios, pode tornar a experiência menos confortável para quem busca identificação total com um protagonista.

Mesmo com esses elementos que a mantêm em um espaço mais nichado, Barry permanece como uma das obras mais inventivas da televisão recente. Ao mesmo tempo em que faz rir, ela desmonta a comédia para mostrar o que há de mais solitário e desesperado nela. E, quando faz drama, nunca perde de vista o absurdo de suas situações.

Hoje, revisitar Barry significa ver uma série que teve controle artístico real, que começou e terminou sabendo exatamente o que queria dizer. Um feito cada vez mais raro na era do conteúdo infinito. Talvez não tenha sido uma série comentada em massa. Mas dificilmente será esquecida por quem a viu.

Barry está disponível na HBO Max. Assista abaixo ao trailer da série:

Informar Erro
Falar com a equipe
QUEM FEZ
Victor Cierro

Victor Cierro

Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.

Ver mais conteúdos de Victor Cierro

0 comentário

Tangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.

Acesse sua conta para comentar

Ainda não tem uma conta?