(Foto: Divulgação/HBO)
Episódios curtos e temporadas enxutas dificultam o surgimento daquele tipo de debate semanal prolongado que costuma acompanhar séries maiores
Apesar de ter conquistado a crítica ao longo de quatro temporadas, Barry não alcançou o mesmo nível de conversa pública que outras grandes produções da HBO. A série criada, dirigida e estrelada por Bill Hader manteve 98% de aprovação no Rotten Tomatoes e venceu 10 Emmys, incluindo Melhor Ator em Comédia e Melhor Direção. Ainda assim, ficou longe de virar fenômeno de cultura pop. O curioso é que tudo nela parecia apontar para o contrário.
A premissa sempre foi forte. A história acompanha Barry Berkman, um assassino de aluguel depressivo que tenta abandonar a vida criminosa quando descobre, por acaso, o mundo do teatro em Los Angeles. A partir daí, ele passa a dividir sua rotina entre assassinatos contratados e aulas de atuação, criando uma mistura de humor ácido, violência repentina e tragédia emocional. Essa fusão de tons é um dos motivos pelos quais críticos sempre destacaram a originalidade da série.
Com o passar das temporadas, Barry se tornou mais densa e menos fácil de rotular. A comédia nunca desapareceu, mas o drama ganhou contornos mais pesados, explorando culpa, trauma, vício de violência e identidade. Esse movimento, embora elogiado por muitos, pode ter afastado parte do público que entrou esperando algo mais leve ou mais próximo de uma sitcom com um anti-herói excêntrico.
Outro ponto que pode ter contribuído para a conversa limitada é o formato. Episódios curtos e temporadas enxutas, com ritmo direto, dificultam o surgimento daquele tipo de debate semanal prolongado que costuma acompanhar séries maiores. No lugar de grandes cliffhangers, Barry trabalha com silêncios, escolhas morais e respiros interpretativos. É uma série que continua reverberando depois do episódio, não durante ele.
Além disso, nenhum dos personagens segue o caminho tradicional do carisma absoluto. Barry é complexo e frequentemente faz escolhas questionáveis. Sally (Sarah Goldberg) é ambiciosa e frágil ao mesmo tempo. Fuches (Stephen Root) é manipulador e carente. E Gene Cousineau, interpretado por Henry Winkler, equilibra ternura e vaidade em uma linha tênue. Essa construção mais humana, sem heróis óbvios, pode tornar a experiência menos confortável para quem busca identificação total com um protagonista.
Mesmo com esses elementos que a mantêm em um espaço mais nichado, Barry permanece como uma das obras mais inventivas da televisão recente. Ao mesmo tempo em que faz rir, ela desmonta a comédia para mostrar o que há de mais solitário e desesperado nela. E, quando faz drama, nunca perde de vista o absurdo de suas situações.
Hoje, revisitar Barry significa ver uma série que teve controle artístico real, que começou e terminou sabendo exatamente o que queria dizer. Um feito cada vez mais raro na era do conteúdo infinito. Talvez não tenha sido uma série comentada em massa. Mas dificilmente será esquecida por quem a viu.
Barry está disponível na HBO Max. Assista abaixo ao trailer da série:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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