Empolgantes cenas de patinação no gelo não bastam para segurar a onda de filme da Netflix estrelado pela sueca Noomi Rapace
“No futuro, todos terão direito a 15 minutos de fama”, disse Andy Warhol. Visionário como sempre foi em toda a sua trajetória, a previsão do célebre artista plástico/cineasta norte-americano feita lá nos anos 1960 não poderia ser mais precisa. E olha que ele não estava falando exatamente das redes sociais, que, claro, não existiam naquela época. Mas o quanto a arte –e nossa relação com ela– é fugaz. Caranguejo Negro, que estreou nesta sexta (18) já no topo do ranking da Netflix, é um bom exemplo disso.
Um das frequentes produções “estrangeiras” da gigante dos streamings é um daqueles tópicos “sucessos de duas semanas” da plataforma. Assim como o dinamarquês Contra o Gelo (2022) foi no começo do mês de março. Todo mundo vê, comenta no Twitter, faz listas de filmes semelhantes e, duas semanas depois, o filme some no limbo de um catálogo de conteúdo a granel.
Baseado no livro de Jerker Virdborg lançado em 2002, Caranguejo Negro não é bem uma trama pós-apocalíptica como sua sinopse afirma. A história, na verdade, se passa durante um apocalipse, não após ele. A motivação para tal destruição não é o aquecimento global ou uma pandemia mortal, mas uma guerra.
Veja o trailer do Filme Caranguejo Negro (2022)
Noomi Rapace atravessa de patins uma mar congelado para reencontrar sua filha perdida
Porém, nenhum detalhe sobre esse conflito nos é dado. O cenário parece ser a Suécia. O inimigo é sempre referido como “o inimigo”, nada mais específico. Mas o que quer que tenha desencadeado essa guerra, ela tem consequências devastadoras. E nós seguimos de perto o lado que está perdendo.
Noomi Rapace –tão determinada quanto sua Lisbeth Salander em Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2009)– é Caroline Edh, uma soldado que aceita fazer parte de uma operação chamada Caranguejo Negro porque sua filha desaparecida supostamente foi encontrada no destino de sua perigosa missão. O objetivo: atravessar um mar congelado de patins para levar um recipiente misterioso a uma base militar de uma ilha remota.
Esse pequeno detalhe é o único floco de originalidade do filme dirigido pelo estreante Adam Berg. Misturar suspense com guerra e patinação é algo bem diferente. São nesses momentos que o filme brilha como uma lâmina d’água congelada. O apelo visual de uma pequena equipe de soldados deslizando silenciosamente por um deserto branco frágil e misterioso salta aos olhos.
Mas isso não é suficiente para carregar uma trama sobre um conflito do qual não sabemos nenhum detalhe. A falta de informação aqui tira toda a tensão que a situação poderia gerar. É um filme frio em todos os sentidos, mas que chega em um momento em que a Europa ferve com uma guerra real. Outro motivo que joga contra Caranguejo Negro. Ainda mais quando se aposta em um final sombrio.
No entanto, na era dos filmes que terão suas “duas semanas de fama”, o impacto de nada disso importará. Pois, como sabemos, daqui uns 15 dias –ou até menos do que isso– outro filme genérico tomará o seu lugar no pódio da Netflix.
Dois pelo preço de um: Outro filme com muita neve, ação e uma estrela nórdica? Vá de Polar, com Mads Mikkelsen.
Presta atenção, freguesia: Na cenas de patinação, que são realmente empolgantes.
Rafael Argemon
Rafael Argemon é criador do perfil O Cara da Locadora no Instagram e também assina uma coluna com o mesmo nome na Tangerina, onde indica as pérolas escondidas nas plataformas de streaming. Cinéfilo e maratonador de séries profissional, passou por Estadão, R7, UOL, Time Out e Huffpost. Apaixonado por pugs, sagu e jogos do Mario.
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