Reprodução/Crunchyroll
Luísa Viotti é responsável por dublar a versão dublada de Makima no anime; primeira temporada está disponível completa na Crunchyroll
Novo fenômeno dos animes, Chainsaw Man encerrou a sua primeira temporada com episódios dublados na última terça-feira (17) e fez jus ao hype que antecipava sua estreia. Criado por Tatsuki Fujimoto, o mangá original tem tudo o que a comunidade otaku sempre gostou nas produções do estilo shounen (voltadas para o público infantojuvenil masculino): lutas emocionantes e muito humor. No entanto, a obra também conta com um dos principais motivos de críticas do público feminino: a intensa sexualização das mulheres.
Para os que consomem conteúdos como animes e mangás, é comum ver personagens femininas com seus corpos em destaque. Cenas nas quais o tamanho de seus peitos e bundas é realçado nas telas e páginas acabam viralizando nas redes sociais, alimentando a sexualização do corpo da mulher e provocando um debate importante para a comunidade otaku: isso é realmente necessário?
No caso de Chainsaw Man, a discussão pode ser feita desde o início. Denji, protagonista da trama, é um jovem órfão que cresceu renegado pela sociedade e sem o afeto de alguém próximo. Por causa disso, ele entra na adolescência sem sequer vivenciar o contato com alguém do sexo oposto. Quando ele conhece Makima, uma das chefes de um esquadrão do governo criado para combater criaturas demoníacas, seu desejo passa a ser um só: cumprir as ordens direcionadas a ele para realizar o sonho de pegar nos peitos de sua superiora.
Conforme a trama avança, Denji é apresentado a outras personagens femininas, como a demônio Power e a humana Himeno. Assim como com Makima, todas as relações do garoto com outras mulheres passam por momentos de forte sexualização. Algumas cenas do mangá/anime vão de apalpar os seios até uma quase transa, sempre, claro, com destaque em certas partes dos corpos destas personagens.
Na visão de Luísa Viotti, atriz responsável por dublar Makima na versão brasileira, a personagem não se encaixa na objetificação da mulher gratuita como visto em outras produções. Para ela, a chefe de Denji se aproveita de sua sexualidade para conquistar seus objetivos.
Luísa Viotti fez cosplay de Makima durante a CCXP22
Reprodução/Instagram
“Curiosamente, eu não acho que a Makima esteja nesse lugar de objetificação. Eu acho que ela se utiliza de sua sexualidade para conseguir algumas coisas específicas, e isso eu não julgo. A mulher tem um lugar na sociedade em que às vezes é preciso usar essa artimanha. ‘Às vezes’ eu fui delicada, né? Vira e mexe a mulher precisa dessas artimanhas. Mas eu acho que ela [Makima] o faz de forma tão consciente que eu penso: ‘Eu não julgo a colega, não'”, disse Luísa em entrevista exclusiva à Tangerina.
“Eu não quero julgar outra mulher. Ela faz porque tem o objetivo dela e vai fazer o que precisar para atingi-lo. Ela não é objetificada tanto pelos outros, ela se coloca nesse lugar de dar uma sensualizada para conseguir o que quer. Eu acho até interessante no ponto de vista dela”, completou.
Apesar de não considerar Makima um exemplo da objetificação em excesso de personagens femininas, Luísa destacou que vê muito esse exagero em outras obras de animes enquanto dubladora. Na opinião da atriz, isso tem a ver com a cultura extremamente conservadora vivida no Japão.
“Nós vemos isso em muita coisa que dublamos e acho que é algo que é muito cultural no Oriente. Eles são mais reprimidos sexualmente porque, enfim, existe toda uma questão cultural envolvida. Tem coisas muito sexualizadas, como a novinha que se abaixa para pegar a caneta, a saia sobe e ela tem uma puta bunda, ou então um decote com uns peitões gigantes. Eu acho sempre muito curioso porque não era para a gente estar nesse lugar, né? Mas ao mesmo tempo isso vende e é o que o jovem consome. Para eles [Japão], culturalmente, isso faz muito sentido porque eles não têm acesso”, destacou.
“Dentro da própria sexualidade eles não têm isso. Eles não têm como descobrir a própria sexualidade de outra forma, então, ao mesmo tempo que é incômodo, eu espero que a gente supere isso para colocar cada vez mais personagens femininas sendo as mulheres incríveis que nós somos. Mas eu entendo que vem de uma condição cultural e que, enfim, acontece a evolução da humanidade. Estamos aí para isso mesmo. Está tudo certo.”
Apesar do excelente trabalho feito pela equipe de dublagem brasileira de Chainsaw Man, liderada pelo estúdio Som de Vera Cruz, alguns fãs do anime questionaram uma escolha feita para a adaptação. Em um dos episódios da primeira parte, o renomado dublador Guilherme Briggs, responsável pela voz do Demônio do Futuro, utiliza a frase “O futuro é show”, que traduz para a linguagem popular nacional uma das passagens do mangá original.
O problema é que, antes mesmo da chegada do mangá oficial no Brasil pela editora Panini, alguns otakus acompanhavam a trama de Chainsaw Man por meios nada ortodoxos. Desta forma, as traduções não oficiais utilizavam expressões escolhidas sem o crivo de uma equipe profissional. No caso da cena em questão, a frase vista nestas versões era “O futuro é pica”.
Ao ver que a tradução do Som de Vera Cruz não seguia a mesma replicada pelas não oficiais, uma parcela dos fãs se revoltou com Briggs e o diretor de dublagem Leonardo Santhos. A treta escalou de tal maneira que alguns passaram a utilizar as redes sociais para atacar o dublador, que optou por deixar oficialmente a produção após o início da confusão.
“Pessoal, compreendo as reclamações da versão dublada da fala do Demônio do Futuro, mas a explicação foi dada e muitos entenderam. Só não aceito desrespeito comigo e agressão. Quem fizer isso será infelizmente bloqueado. Vamos manter a paz, a educação, o bom senso”, escreveu Briggs em seu perfil oficial no Twitter.
A resposta do dublador, um dos mais queridos pela comunidade otaku brasileira, revoltou ainda mais os fãs que ficaram infelizes com a dublagem oficial. Logo após a publicação de Briggs, alguns tentaram invadir suas redes sociais e hackear seus perfis no Twitter e Instagram. Ele precisou bloquear sua conta para evitar novos ataques.
Após Gulherme Briggs pedir para sair da equipe de dublagem, Leonardo Santhos também se manifestou e detonou os fãs que iniciaram a confusão. Em suas redes sociais, o diretor não poupou xingamentos. “Falta estudo, interpretação de texto e bom senso pra essa garotada. Jamais encontrei um fandom tão pútrido como esse. Vergonhoso, patético e deplorável. O futuro pra vocês é lamentável”, escreveu Santhos no Twitter.
A primeira parte de Chainsaw Man está disponível completa na Crunchyroll nas versões legendadas e dubladas. Confira abaixo a manifestação de Leonardo Santhos, além dos posicionamentos oficiais da Crunchyroll e da Panini sobre a dublagem do anime:
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
Ver mais conteúdos de André ZulianiTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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