FILMES E SÉRIES

A Princesa da Yakuza

Divulgação/Netflix

Crítica

A Princesa da Yakuza não passa de sessão da tarde ultraviolenta

O filme, que estreou nesta quarta (20) na Netflix, é baseado nos quadrinhos Samurai Shirô, de Danilo Beyruth e se inspira nos filmes de samurais e máfia japoneses

Gabriela Franco
Gabi Franco

A Princesa da Yakuza, nova produção original da Netflix que conta com participações de brasileiros e nomes ilustres do cinema internacional, preenche uma lacuna que existia até então no cinema brasileiro: o de filmes de ação sobre máfia. Sim, temos filmes sobre organizações criminosas aos montes, mas não sobre máfia no sentido clássico: clãs, famílias milenares com códigos de honra próprios etc.

Baseado na HQ Samurai Shirô, escrita e ilustrada pelo quadrinista Danilo Beyruth (Bando de Dois) e dirigida por Vicente Amorim (Corações Sujos), o filme, que estreia nesta quarta (20), vem para explorar esse nicho. E aproveita que no estado de São Paulo, tanto na capital quanto no interior, temos a maior colônia de japoneses fora do Japão, trazendo esses elementos para um contexto brasileiro.
O filme se passa quase que inteiramente no Brasil e é falado em inglês, um pouco de português e japonês, o que causa certo estranhamento e problemas de verossimilhança por conta da mistura de línguas em terras brasileiras. Em entrevista à Tangerina, o diretor Vicente Amorim contou que o longa foi filmado em sua maioria no bairro paulistano da Liberdade, na cidade de Paranapiacaba, em Santo André e em Osaka, no Japão. “Recriamos uma Liberdade mais exagerada, carregamos nas tintas propositalmente”, disse.

Homenagem aos “chanbara”

A trama conta a história de Akemi (a cantora nipo-americana Masumi, em seu trabalho de estreia como atriz), que precisa aprender a viver só depois do misterioso e brutal assassinato de seu avô. Como se não bastasse a dor de perder seu único parente, ela descobre que sua vida inteira foi uma mentira. Na verdade, ela é herdeira de uma tradicional família da Yakuza (máfia japonesa), cujo clã rival quer eliminar.

Para que crescesse protegida, foi trazida para o Brasil ainda pequena e agora precisa contar com a orientação de Takeshi (Tsuyoshi Ihara) e de uma figura inusitada: um estrangeiro com amnésia (Jonathan Rhys-Meyers), que lhe entrega a mítica katana (espada samurai) de sua família e a quem ela chama de shirô (branco, em japonês). Juntos, eles vão desvendando os mistérios que cercam a vida de Akemi, auxiliando-a em sua transformação de uma simples jovem à herdeira da Yakuza.

A Princesa da Yakuza é, antes de tudo, uma clara homenagem aos filmes de samurai e máfia japonesa dos anos 1970, um subproduto dos chamados “chanbara” —ou “luta de espadas”— produzidos no Japão ao longo do século 20. O gênero teve seu auge nos anos 1950-1960, com os filmes do célebre diretor Akira Kurosawa, sobretudo sua obra-prima Os Sete Samurais. 

Com o sucesso internacional, o gênero se popularizou e inspirou dezenas de imitações e homenagens pelo mundo afora. Os filmes de Kurosawa foram refilmados como faroestes e tiveram forte influência nas lutas de sabres de luz de Star Wars, por exemplo. Nos anos 1970 eles ganharam toques mais “gore”, demonstrações de artes marciais e profusão de sangue cenográfico esguichando dos ferimentos, que tanto influenciaram filmes como Kill Bill, de Quentin Tarantino.

“Usei como referência direta um cinema do qual eu fiquei super fã, que é o Takeshi Kitano e o Takashi Miike. Esse cinema quase operístico, ultraviolento japonês e que tem o seu pezinho, tem seus desdobramentos no cinema coreano atual”, contou Vicente Amorim, que trouxe esse estilo para o filme. “Mas eu acho que tem um norte que é a HQ, já que a gente tentou preservar no filme a linguagem de HQ”, completou.

Yakuza que não convence

Princesa da Yakuza

Akemi (Masumi) e Shirô (Jonathan Rhys-Meyers) em cena de Princesa da Yakuza

Divulgação/Netflix

O filme de fato tem uma linguagem bem pop e atual, mas a história demora a engatar e não convence. São muitas cenas desconexas e inúteis para o desenrolar da narrativa, mas belíssimas do ponto de vista gráfico. 

A fotografia se destaca muito, e é um trunfo de Amorim, que também dirigiu a adaptação para o cinema do livro Corações Sujos, de Fernando Morais. O filme se passa quase todo à noite, numa tentativa de manter seu tom taciturno, mas isso dificulta bastante o entendimento da passagem de tempo e nos dá a impressão de ser um grande videoclipe.

O ator irlandês Jonathan Rhys-Meyers (The Tudors) tem um papel quase coadjuvante, apesar de ser o protagonista da HQ, já que, para o filme, Amorim resolveu transformar Akemi em personagem central. Na película, o ator mal tem falas, protagoniza ótimas coreografias de lutas e até aparece em um nu frontal, completamente desnecessário. Mas fora isso, sua participação é bem apagada.

No mais, são marcantes as atuações de Masumi como Akemi, de Tsuyoshi Ihara, Mariko Takai (que faz a caricata senhora Tsuguehara, chefe de Akemi) e Hidetoshi Imura. E as coreografias de luta de espadas e toda a produção prestam uma bela homenagem aos filmes japoneses do gênero. É uma pena que a história funcione muito mais nas HQs de Danilo Beyruth do que nas telas. Uma boa sessão da tarde, mas não passa disso.

Leva que tá doce: Pra quem gosta do gênero máfia e sangue espirrando, vai ser um banquete.

Dois pelo preço de um: Brother – A Máfia Japonesa Yakuza em Los Angeles, de Takeshi Kitano, é um clássico do gênero que precisa ser visto.

Presta atenção, freguesia:– Segundo o diretor do filme, Vicente Amorim, o ator que interpreta o chefe da Yakuza, Hidetoshi Imura, é um ex-membro da Yakuza, real.

Princesa da Yakuza

A Princesa da Yakuza

Ação
16

Direção

Vicente Amorim

Produção

Netflix

Onde assistir

Netflix

Elenco

Masumi
Tsuyoshi Ihara
Kenny Leu
Jonathan Rhys-Meyers
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Gabi Franco

Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.

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