Divulgação/PrimeVideo
Com Nicole Kidman e Javier Bardem, o filme rasga a fantasia e mostra uma semana na vida de Lucille Ball, estrela da sitcom I Love Lucy
Se você curte séries cômicas americanas com plateia, gravadas ao vivo e com aquela peculiar risada de fundo, tipo um Friends ou The Big Bang Theory da vida, as populares sitcoms,, então Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos) vai mexer com a sua nostalgia.
O filme escrito e dirigido por Aaron Sorkin (Os 7 de Chicago, The Newsroom) traz Nicole Kidman e Javier Barden como Lucille Ball e seu marido, o cubano Desi Arnaz. O casal da vida real interpretava Lucy e Ricky Ricardo, os protagonistas de I Love Lucy, justamente uma das primeiras sitcoms já feitas.
Sucesso na rádio, no começo dos anos 1950 Lucille Ball levou para a televisão o programa que ela mesma estrelava ao lado do marido, vivendo uma típica dupla de classe média suburbana de Nova York, em meio a muitas confusões. O resultado foi algo que, sem exagero, mudou a história da televisão nos Estados Unidos. Ali se consolidava um novo formato, e que satisfação ter sido estrelado por uma mulher e um imigrante latino!
Aliás, quem assistiu aos episódios iniciais de WandaVision, aqueles em preto e branco, vai imediatamente reconhecer a referência e homenagem.
Mas, Apresentando os Ricardos não é sobre Lucy e Ricky. E sim sobre as pessoas de verdade por trás das piadas, da fofura em cena, dos beijinhos e carinhos entre os personagens. Porque gente real enfrenta problemas reais.
Apresentando os Ricardos
Um recorte político e não uma cinebiografia
Bom, se segundo o título do seriado original, dá pra concluir que todo mundo amava o fenômeno chamado Lucy, não necessariamente o mesmo vale para Nicole Kidman. Ou pelo menos para a escolha da atriz para interpretar Lucille Ball. Porque o que não faltaram foram críticas, dizendo que ela não se parecia fisicamente com a atriz original, que não tinha o timing cômico de Lucy, que era “diva” demais.
Houve até uma campanha orquestrada para que Debra Messing, a Grace do seriado Will & Grace, assumisse o papel — ela de fato já se caracterizara como Lucille Ball e ficou idêntica, e bem que gostou da mobilização dos fãs.
Mas o fato é que Nicole Kidman conseguiu, com sua interpretação, calar a boca dos críticos. A começar pela semelhança física — não, ela não ficou absolutamente igual, mas chegou a um nível de incorporação da biografada que é surpreendente.
E, para completar, Kidman dá um show ao entregar uma profundidade dramática como há bastante tempo não mostrava (andou escolhendo mal os papéis recentemente, tadinha). A atriz mostra a mulher inteligente, dinâmica, persistente e poderosa que era Lucille Ball por trás das câmeras. Porque este é, antes de tudo, um filme sobre seu lado humano.
Humano, aliás, também está Javier Bardem como Desi. O ator também encarou a sua própria dose de críticas por ser um espanhol (portanto, um europeu) interpretando um cubano (um latino-americano). E mesmo que a discussão sobre representatividade seja fundamental, é impossível não mencionar que o ator entregou uma dose incrível de charme, carisma, impulsividade e, por que não dizer, canastrice.
Afinal, enquanto Lucille se despe da personagem de uma maneira que chega a assustar, Desi segue tentando manter a máscara de sedução exagerada na vida real, quando, na verdade, deveria usar outras ferramentas para resolver seus problemas.
Nicole, J.K. Simmons (que concorre ao Oscar de melhor ator coadjuvante) e Bardem, em cena.
Divulgação/PrimeVideo
Na história, acompanhamos exatamente uma semana na vida do casal Lucille e Desi. Uma semana na qual eles têm que encarar uma reportagem polêmica que insinua que a atriz possa ter envolvimento com o comunismo. É a época da chamada “Caça às Bruxas”, o que causa um impacto inesperado não só na opinião pública, mas também junto aos patrocinadores do programa e aos próprios integrantes da equipe técnica.
Mas não acaba aí. Porque também sai em tabloides sensacionalistas uma matéria sobre uma baladinha de Desi com os parças em que ele supostamente teria pulado a cerca. É um duplo golpe na queridinha da TV americana e na imagem doce e amorosa do casal.
Apesar das críticas sobre Sorkin ser um ótimo roteirista e um péssimo diretor, no fim o foco não era apresentar uma cinebiografia completa de Lucille Ball, mas sim um recorte de dois eventos que mudaram sua vida. E, sob essa ótica, o diretor até que conduz bem a narrativa.
Mas, Sorkin brilha mesmo é na direção dos diálogos. Nada ali é por acaso. São certeiros, duros, densos, verdadeiros. Em alguns momentos, têm um tom quase documental, como se estivéssemos espiando algo que não deveríamos ver.
Por fim, o diretor conduz a audiência para um lado da trama, tirando um pouco a força de outro momento e fazendo com que percamos o interesse… Até trazer novamente o assunto em um momento oportuno, de uma forma muito habilidosa. É uma surpresa inclusive para quem já conhece a biografia do casal e, portanto, sabe o que aconteceu com eles na vida real. Dizer mais pode estragar a experiência.
A realidade, conforme ensina Apresentando os Ricardos, por vezes é bem menos engraçada do que a ficção.
Leva que tá doce! Para quem curte saber um pouco mais a respeito dos bastidores da indústria do entretenimento, o filme é um prato cheio.
Dois pelo preço de um: De alguma forma, a película conversa bem com Boa Noite e Boa Sorte porque, afinal, a política está em tudo. Inclusive numa história aparentemente sobre comédia. Só aparentemente.
Presta atenção, freguesia: Em J.K. Simmons, indicado ao Oscar de ator coadjuvante e mais uma vez em alta nos corredores de Hollywood, que rouba a cena como o ator que vive o vizinho (e principal coadjuvante) de I Love Lucy.
Gabi Franco
Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.
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