FILMES E SÉRIES

Belfast

Divulgação/Universal

Crítica

Belfast mostra conflitos na Irlanda pelos olhos de uma criança

Com Jamie Dornan (Cinquenta Tons de Cinza) e Caitriona Balfe (Outlander), filme de Kenneth Branagh recebeu sete indicações ao Oscar 2022

Gabriela Franco
Gabi Franco

Belfast chega aos cinemas brasileiros já envolto pelo buzz do Oscar 2022, como um dos fortes candidatos ao prêmio de melhor filme, além de outras seis indicações. É algo curioso para um filme doce e intimista, baseado nas memórias do diretor Kenneth Branagh sobre um período violento da história da Irlanda do Norte.

No longa, Branagh, que também assina o roteiro, narra uma história de relações familiares e de como elas podem ser fortemente afetadas pela situação do país em que se vive. Nós, como brasileiros, podemos bem nos identificar.

A Belfast de Kenneth Branagh

Belfast

Belfast

Buddy e sua agitada Belfast

Na capital da Irlanda do Norte, que dá nome ao filme, o garotinho Buddy (Jude Hill, adorável) e sua família da classe trabalhadora vivenciam os conflitos da década de 1960 entre protestantes e católicos.

Enquanto Buddy é simplesmente uma criança ativa e alegre brincando em meio às barricadas e ruas destruídas, ele ao mesmo tempo é forçado a amadurecer por conta da violência extrema e da falta de dinheiro que atinge sua família e os coloca diante da terrível realidade

Ao mesmo tempo em que sonha com o fim dos conflitos e uma vida melhor, o menino se delicia com o cinema, hobbie pelo qual é apaixonado. Outro ponto alto de seus dias são as histórias maravilhosas contadas por Pa (Jamie Dornan), Ma (Caitríona Balfe) e seus queridos avós vividos por Judi Dench (Granny) e Ciáran Hinds (Pop). Além de fofíssimos, a ponto de esquentar o coração, ambos estão indicados ao Oscar nas categorias de melhor atriz e ator coadjuvantes.

No período retratado, a maioria protestante da província britânica da Irlanda do Norte defendia a permanência como parte do Reino Unido, enquanto os católicos queriam a reunificação com a República da Irlanda. E tudo começou exatamente com o conflito mostrado no filme, no final dos anos 1960. É nesse meio que o doce Buddy cresce.

Apesar de toda a violência ao redor, que parece bem chocante e próxima às crianças, o núcleo familiar de Buddy é um oásis em meio ao caos. Mesmo com problemas e algumas desavenças normais em qualquer relacionamento, seus pais têm uma convivência amorosa e respeitosa. E o filme deixa bem claro que essa é uma herança dos avós Grany e Pop, descaradamente apaixonados um pelo outro. Metas de relacionamento.

Vida em preto e branco

Belfast

Da esquerda para a direita: Ma (Catriona Balfe) Pa (Jamie Dornan) Granny (Judi Dench) e Buddy (Jude Hill)

Divulgação/Universal

Belfast é todo filmado em preto e branco, e isso nos dá a sensação de folhear um antigo álbum de recordações. O recurso não é novidade e já foi usado em outros filmes baseados em memória dos diretores, como Roma, de Alfonso Cuarón, para citar um que fez sucesso recentemente.

Mas o encanto de Belfast está justamente no ponto de vista da história, que é contada pelo olhar de uma criança. Isso dá ao filme uma leveza, doçura e ludicidade que parecem aplacar a crueza da violência perpetrada pelos adultos. 

Outro trunfo do filme- e uma grata surpresa- é a atuação de Jamie Dornan (mais conhecido como Christian Grey de Cinquenta Tons de Cinza) como pai de Buddy. Ele finalmente faz um papel cativante, expressivo e emocionante, contracenando com Caitriona Balfe, famosa pelo papel de Claire Fraser na série Outlander. Ela interpreta a mãe do protagonista,a musa e mulher mais adorada, linda (e temida) aos olhos do pequeno. 

A dupla demonstra uma química incrível, e todo casal louco um pelo outro e pela vida vai se enxergar neles. Aliás, todos os atores principais são irlandeses (exceto Judi Dench, nascida em York, na Inglaterra),. Talvez por isso tenham se entregado com tanta paixão aos papéis.

No final, Belfast é simples, e por isso é extremamente bonito. Não tenta ser pretensioso, nem se faz valer de grandes efeitos especiais ou monólogos filosóficos. Tampouco funciona como um documentário sobre a situação sócio-política da Irlanda do Norte. É a história da transformação de um país e de seus habitantes pelo olhar de uma criança.

Cinema é isso: contar histórias— e eis uma história muito bem contada.

Leva que tá doce! Lindo, simples e com atuações apaixonantes. As agruras do mundo vistas pelos olhos de uma criança. E que menino fofo! Queria levá-lo pra casa!

Dois pelo preço de um: Se você gostou de A Vida é Bela, vai gostar deste aqui, que é muito mais suave, diga-se de passagem.

Presta atenção, freguesia:  Deu pra entender que Kenneth Branagh é MUITO fã de Van Morrison. Quase todas as músicas do filme são dele, inclusive a original Down to Joy, indicada ao Oscar de melhor canção.

Indicações ao Oscar 2022:

  • Melhor filme
  • Melhor direção
  • Melhor atriz coadjuvante (Judi Dench)
  • Melhor ator coadjuvante (Ciarán Hinds)
  • Melhor roteiro
  • Melhor canção original (Down to Joy, de Van Morrison)
  • Melhor som
Belfast

Belfast

Drama
14

Direção

Kenneth Brannagh

Produção

Celia Duval Tamar Thomas

Onde assistir

Nos cinemas em 10 de março

Elenco

Jude Hill
Jamie Dornan
Catriona Balfe
Judi Dench
Ciáran Hinds
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Gabriela Franco

Gabi Franco

Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.

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