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A nova série da Marvel que estreia nesta quarta (30) no Disney+ promete muita ação, mitologia egípcia e abertura de diálogo sobre saúde mental
Desde que a Marvel decidiu expandir o universo dos longas no Disney+ tem tido mais acertos do que erros, embora nem todas as produções tenham conquistado de cara os fãs. Porém, com a série Cavaleiro da Lua, sobre um herói de segundo escalão criado para as HQs nos anos 1970 e que conta com uma concepção grandiosa e um ótimo elenco, pode ter acertado o alvo de primeira. A Tangerina assistiu aos dois primeiros episódios antes da estreia desta quarta (30) e te conta o que achou.
Steven Grant/Marc Spector é o avatar do deus Konshu
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No primeiro episódio de Cavaleiro da Lua, somos apresentados ao tímido e desajeitado Steven Grant (Oscar Isaac), morador de um pequeno apartamento em Londres que, apesar de ser profundo conhecedor de cultura e mitologia egípcia, não é guia, mas sim trabalha na loja de souvenires de um museu, que abriga justamente uma enorme exposição sobre o Egito antigo.
Grant tem uma rotina curiosa: acorda todos os dias de manhã, sobressaltado por sonhos lúcidos onde parece ser uma outra pessoa, envolvida em atividades completamente diferentes das que exerce no dia a dia. Esses sonhos são tão agitados que ele precisa dormir com um dos pés acorrentados à cama. Do contrário, é capaz de sair sonâmbulo por aí fazendo besteira.
É então que entendemos que na verdade estes “sonhos” de Grant são atividades de sua “outra” personalidade: a do mercenário super treinado Marc Spector. Ao longo do episódio, acompanhamos essa interação frenética entre ambos, já que Steven é frequentemente acometido de “apagões”, voltando a si em lugares aos quais não se lembra de ter ido e em situações em que não faz a mínima ideia de como se meteu.
Só essa premissa, a de ter dois personagens completamente diferentes em um só, intercalando sequências de cenas diversas e desconectadas entre si, já torna os primeiros 30 minutos de série vertiginosos e com uma proposta completamente diferente das apresentadas pela Marvel até então.
Steven Grant ou Marc Spector, tanto faz, é portador de um transtorno dissociativo de personalidade, com aspectos diferentes de sua pessoa sendo segmentados e lutando entre si para manter-se no “controle” o máximo de tempo possível. Oscar Isaac (de Duna e Star Wars) se sai muito bem ao incorporar dois indivíduos tão díspares: o nerd e pacato Grant e o brutalmente confiante Spector, avatar de Konshu, deus egípcio da lua. É impressionante o trabalho de expressão corporal do ator quando encarna um ou outro, tudo muda: postura, olhar, voz e até sotaque, já que Spector é americano e Grant, inglês.
Ethan Hawke está perfeito no papel do líder religioso Arthur Harrow
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Em paralelo à introdução do personagem de Isaac, também conhecemos Arthur Harrow (Ethan Hawke, de The Purge, série da franquia Uma Noite de Crime) um líder de culto que aparentemente já foi avatar de Konshu e hoje se dedica à deusa Ammit. Na mitologia egípcia, Ammit é a deusa uma parte leão, parte crocodilo e outra hipopótamo, que devorava o coração e alma dos que eram julgados pela balança de Osíris.
Harrow tem uma conexão mística com Ammit e, com seu toque, consegue esquadrinhar a alma das pessoas e condená-las imediatamente, até por atos que ainda não cometeram. É um líder que conquista multidões por conta do medo e fascínio que exerce e seu grande objetivo é conseguir uma bússola em formato de escaravelho que pode levá-lo até a tumba de Ammit, no Egito, para poder ressuscitá-la e, assim, julgar o mundo.
Ethan Hawke também entrega uma boa atuação como o típico vilão megalomaníaco de história em quadrinhos que, sob a fachada de benfeitor humanitário, esconde um genocida frio e calculista.
E, adivinhem quem tem esta bússola que ele tanto quer? Exatamente, Marc Spector.
O que é eletrizante em Cavaleiro da Lua é que o público vai descobrindo todas essas camadas junto com os protagonistas. Nada é dado de bandeja. A fotografia e a produção são, talvez, as mais caprichadas das séries da Marvel até aqui. A trama envolvendo fantasia, história e mistérios dos deuses egípcios tem um tom de produções como A Múmia e até mesmo Indiana Jones, trazendo a pegada certa para quem não gosta tanto de produções de super-heróis
As sequências onde Konshu aparece para Steven Grant e se manifesta através de Marc Spector têm fotografia e jogos de luzes muito inspirados em filmes de terror. O humor também é orgânico e nada forçado. O diálogo entre Grant e Harrow sobre a concepção da palavra “avatar” é de arrancar gargalhadas.
No segundo episódio do Cavaleiro da Lua, temos Steven compreendendo que ele e Spector são a mesma pessoa e que eles fizeram uma troca com Konshu, um pacto que provavelmente vai ser trabalhado nos próximos episódios. Konshu também é um deus da justiça e ele e Ammit têm uma rixa transcendental, portanto, podemos esperar guerra entre deuses por aí. Por ora, Marc precisa impedir que Harrow chegue à tumba da deusa no Egito e a ressuscite.
Mohamed Diab, o grande nome por trás do show, é o primeiro diretor do Oriente Médio a comandar uma série da Marvel e sua marca faz toda a diferença na trama, desde a representação correta da cultura egípcia que está presente nos mínimos detalhes (como na trilha sonora, por exemplo) até a condução da narrativa, o que pode ajudar a evitar a saturação do gênero.
Gabi Franco
Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.
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