Reprodução/Globoplay
Documentário em quatro capítulos reconstrói a história de amor entre a cantora e o jogador de futebol
Elza e Mané – Amor em Linhas Tortas, série documental em quatro episódios e produção exclusiva Globoplay sobre Elza Soares (1937-2022) e Mané Garrincha (1933-1983), fala sobre o amor e sobre as dores vividas pelo par ao longo de suas vidas.
Em princípio, o documentário se atém a contar
como a vida de Elza e Garrincha era antes deles se conhecerem. Em seguida, temos o desenvolvimento do romance, com seus altos e baixos, até a separação e a morte de ambos. Para construir tal narrativa, a diretora Caroline Zilberman coletou depoimentos de amigos, familiares, historiadores e pesquisadores da música e do futebol.
Conhecemos mais da história deles por meio de fontes, como seus biógrafos, Zeca Camargo e Ruy Castro, mas também de outros jornalistas, como Juca Kfouri, ou cantores como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Além desses depoimentos, houve um resgate de imagens e vídeos, tanto de acervos familiares quanto de centros de documentação jornalísticos, assim como recortes de jornais e revistas da época que noticiaram todos os passos das carreiras de Elza e Mané.
Em princípio, somos conduzidos pela simplicidade da origem de cada um, conhecemos as histórias de como as carreiras de ambos iniciaram. Isso nos leva a perceber a potência que o par tinha, cada um em sua área, de ser uma estrela.
Ouvimos sobre o encontro de Elza e Ary Barroso, Garrincha e sua entrada no Botafogo, os casamentos, a viuvez, os filhos, até o encontro que culmina na paixão responsável por mudar o rumo da vida dos dois. Daí em diante, o documentário trata da relação, mostrando os problemas sofridos pelo julgamento moral da época, já que Garrincha era casado. Vemos também o ápice da carreira de Elza e a ascensão de Mané, os problemas com o alcoolismo, dinheiro, política, entre outros temas.
Teaser de Elza e Mané - O Amor em Linhas Tortas
Documentário conta a vida do casal em meio aos preconceitos
O trabalho de pesquisa e produção de Caroline Zilberman foi muito bem elaborado. A diretora não se ateve apenas ao romance vivido pelos dois e também mostrou o contexto social em que tal história se passou.
Através do que nos é mostrado, entendemos como Elza e Mané viveram uma vida atravessada pela miséria, pelo racismo e por diversos preconceitos ligados diretamente à sua raça e classe social.
Ouvimos relatos de como Mané foi tido como um homem infantil, por vezes questionado sobre sua capacidade cognitiva, mas no fundo era erudito. Também nos deparamos com uma sociedade que condena o amor dos dois, não pela traição de Garrincha, pois era conhecido que ele tinha diversas amantes, mas pelo fato de ele querer assumir esse amor. Estamos de frente para um documentário que descortina as hipocrisias sociais e culturais brasileiras através dos anos e do relacionamento da cantora com o jogador.
De maneira semelhante, conhecemos a força da Mulher do Fim do Mundo, que abdica muitas e muitas vezes de sua vida e de seu bem estar para dar suporte emocional àquele homem que tanto ama e sofre da terrível doença do alcoolismo.
Além disso, podemos conhecer um Garrincha pela memória de seus colegas de profissão, amigos e familiares que contam histórias casuais, como Chico Buarque, falando sobre um dia que eles foram a um bar em Roma.
Conhecemos um Brasil que exalta seus artistas e em um estalar de dedos os despreza. Vemos o sucesso e o ostracismo. A exaltação e a perseguição. Somos, como espectadores e curiosos, confrontados com a verdade amarga do caminho pedregoso que Elza e Mané percorreram juntos ou sozinhos. Vemos e ouvimos a história das potências e esperanças existentes nas favelas que poderiam ter se perdido em um cenário discriminatório e excludente.
Elza Soares deu entrevistas ao documentário, que saiu após sua morte
Divulgação/Globoplay
Elza Soares faleceu em 20 de janeiro de 2022, 39 anos após seu amado. Como ela mesmo dizia em sua canção, ela ia cantar até o fim. E cantou. Neste documentário, há depoimentos e uma performance feita com exclusividade para a produção. Há também depoimentos em primeira pessoa feitos pela cantora para a diretora.
A presença de Elza em cena potencializa a força e a emoção da história que está sendo contada com sua voz, sua expressão e suas recordações. Mesmo tendo falecido antes da conclusão da produção, a estrela pôde, mais uma vez, receber a devida homenagem por sua grandiosidade como mulher, mãe, amiga e profissional.
Leva que tá doce: O documentário trata não apenas do cenário musical e futebolístico, mas também dos contextos históricos vividos pelo casal.
Dois pelo preço de um: Aproveitando o cenário musical brasileiro, assistam O canto livre de Nara Leão, sobre outra força feminina da música nacional. Disponível no Globoplay.
Presta atenção, freguesia: A história é contada por pessoas que conviveram de perto tanto com Elza quanto com Garrincha. Podemos esperar por muitas lágrimas e emoções que são trazidas pelas lembranças.
Yasmine Evaristo
Yasmine Evaristo é crítica de cinema associada à Abraccine e pesquisa o gênero fantástico e representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, também é artista visual, desenhista e cursa graduação em letras.
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