Divulgação/Paramount
Produção do Paramount+ se distancia dos jogos ao trazer uma abordagem diferente para o herói dos games de Xbox
Nos primeiros episódios de Halo, série que estreia no Paramount+ nesta quinta-feira (24), o herói Master Chief faz duas coisas que não estamos acostumados a ver no game de onde a história é adaptada: tirar o seu capacete e desobedecer ordens. E isso é muito importante.
Criado em 2001 para servir de carro-chefe do Xbox, primeiro videogame da Microsoft, Halo é um jogo sobre uma guerra entre a humanidade e uma aliança militar de espécies alienígenas chamada Covenant. Seu protagonista, o super soldado Master Chief, foi vendido como um herói capaz de superar qualquer adversidade. Um Capitão América espacial.
Infalível e perseverante, Master Chief foi concebido inicialmente como um avatar, para que qualquer pessoa pudesse se imaginar debaixo de sua armadura verde. Afinal, era um jogo de tiro em primeira pessoa, o gênero dos games que mais aproxima você da ação. Mas o sucesso de Halo arrancou o militar do anonimato e fez ele se transformar em um personagem com aspirações, personalidade, passado e, veja você, insegurança.
Seja pelo aprendizado cultivado em mais de duas décadas de Halo nos jogos, seja por um desapego completo ao material original, a série não se preocupa muito em se aproximar da ambientação e dos maneirismos das aventuras de Master Chief no Xbox. Embora seu visual seja inconfundível, a produção busca um distanciamento ao investir cada vez mais na aproximação do lado humano de seu protagonista.
Trailer da série de Halo
Produção é exclusiva do Paramount+
Quando o Master Chief retira seu capacete e revela o rosto de Pablo Schreiber, essa intenção surge como uma constatação. Logo de cara, a série de TV faz o que os games se recusam a fazer desde 2001. Mas esse não é o único aspecto que revela o quão esse distanciamento é importante.
Assim como nos jogos, a guerra entre o exército espacial humano UNSC e os Covenant é um ponto central da série, mas há um enfoque maior na relação entre Chief e a organização que o criou, e como ela reflete vários dos problemas que vemos no mundo real, em especial sobre a maneira como ela lida com dissidências, personificadas na figura de Kwan (Yerin Ha).
Em um momento no qual Hollywood parece cada vez mais enxergar um potencial financeiro em adaptações de jogos para filmes e séries, Halo parece seguir uma estratégia que tem se provado cada vez mais certeira: tratar a qualidade da narrativa como prioridade, em vez de ser fiel o tempo todo ao material original dos jogos.
Ao criar um conflito mais pessoal entre os personagens que costuma ter pouco espaço nos jogos —e quando tem, dificilmente é tratado com a profundidade vista na série— Halo parece abrir espaço para que vejamos o rico universo da franquia da Microsoft de uma nova maneira, com uma perspectiva mais ampla do que a dos visores estreitos dos capacetes dos espartanos e a ponta do rifle em uma tela de videogame.
Dois pelo preço de um: O clássico filme Tropas Estelares (1997) de Paul Verhoeven mistura cenas de guerra espacial com uma visão crítica do militarismo, alguns dos temas que parecem ecoar na série de Halo.
Presta atenção, freguesia: A qualidade de efeitos visuais e do figurino, dignos de produção milionária, retratam a maior proximidade da série com os jogos.
Bruno Silva
Editor de games e animes na Tangerina, Bruno Silva é brasiliense e fã de basquete. Jornalista, apresentador e streamer, foi co-criador do The Enemy e já publicou no Omelete, Nerdbunker, Metrópoles e Correio Braziliense.
Ver mais conteúdos de Bruno SilvaTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?