Divulgação/Prime Video
Dirigido por Lin-Manuel Miranda, filme da Netflix presta devida homenagem à vida e obra de Jonathan Larson, compositor do aclamado musical Rent
Musicais são um gênero controverso, que divide opiniões. Há quem ame e quem odeie, mas a forma de se contar uma história musicada, quando cai nas graças do público, eterniza canções e ganha lugar no Olimpo cinematográfico. E Tick, Tick… Boom! é um grande candidato ao posto.
Em sua estreia como diretor, Lin-Manuel Miranda —vencedor dos prêmios Pulitzer e Tony pelo prestigiado Hamilton—, conduz magistralmente a adaptação do musical autobiográfico de Jonathan Larson, que revolucionou o teatro de musicais com seu espetáculo, RENT.
O filme segue Jon (Andrew Garfield, estrela de O Espetacular Homem-Aranha, vencedor do Tony e indicado ao Oscar de melhor ator), um jovem compositor de teatro. Ele faz bicos de garçom em um restaurante em Nova York no começo dos anos 1990 enquanto escreve o que espera ser o próximo grande musical americano.
Às voltas com a contratação de agentes e com a preparação para uma audição decisiva, em busca de patrocínio, Jon quase entra em colapso pelas pressões que vêm de todos os lados. Da namorada Susan, que tem seus próprios sonhos fora da cidade de Nova York. Do amigo Michael, que largou a vida artística para ter segurança financeira. De questões particulares, que acabam pontuando sua produção musical. Além disso, ele lida com a perda de vários amigos da comunidade artística, devastada, na época, pela epidemia de Aids.
Com o relógio correndo, Jon se sente em uma encruzilhada e se depara com a pergunta com a qual todos temos que lidar, em algum momento de nossas vidas: O que devemos fazer com o tempo que temos?
Tick..Tick...Boom!
Um retrato sensível sobre a vida de Jonathan Larson, autor de RENT
Tick, Tick… Boom! acerta em mostrar a realidade nada glamourosa dos artistas iniciantes em uma megalópole, seus medos, inseguranças e falta de dinheiro, problemas reais de pessoas reais, o que cria um elo certeiro com o público.
Suas canções são profundas e intensas, algumas realistas, outras reflexivas e filosóficas. Mas, no fundo, o filme carrega algo de trágico. Apesar de Larson ter composto um musical vencedor do Pulitzer, que arrebatou os amantes do teatro e inspirou futuros artistas, ele morreu aos 35 anos de idade. Vítima de um aneurisma, exatamente no dia da primeira pré-estreia pública de Rent, o dramaturgo não pôde usufruir de seu prestígio e sucesso.
Na época retratada pelo filme, Larson na verdade não estava escrevendo nem Rent nem Tick, Tick… Boom!, mas sim um musical de rock e ficção científica chamado Superbia. E sob a orientação e mentoria de ninguém menos que Stephen Sondheim (um dos maiores compositores da Broadway, morto no final de 2021, interpretado por Bradley Whitford).
Mas, ao contrário do que talvez fosse o caminho mais fácil, o musical não se debruça sobre a curta vida de Larson. Em vez disso, apresenta uma emocionante homenagem ao autor e a toda classe artística, que dedica a vida em busca do grande sonho: Ser devidamente reconhecido por sua arte. Tudo isso acaba tornando Tick, Tick… Boom! muito mais real e corajoso.
Além da trilha, cabe uma menção honrosa à interpretação catártica e teatral de Andrew Garfield na pele de Jon, em uma das performances mais emocionantes de 2021. No papel, o ator mostra que pode ir muito além do Homem-Aranha. A miríade de emoções que são exploradas por ele no longa vão do desde o desespero à mais pura alegria, todas externadas intensa e brilhantemente. Não à toa a indicação de melhor ator para a edição do Oscar deste ano.
Andrew Garfield e seu retrato intenso de Jonathan Larson
Divulgação/Netflix
Vale também prestar atenção na caricata Rosa Stevens (Judith Light), que incorpora o estereótipo da agente artística meio maluca e sobrecarregada e no querido Michael (o sempre ótimo Robin de Jesus) carinhoso, emocional e sensível. O modo como questões LGBTQIA+ são tratadas também merece destaque.
Tick, Tick… Boom! é uma ode às emoções e sacrifícios que permeiam a vida artística, um presente embrulhado com carinho com um cartão de Lin-Manuel Miranda a todos os aspirantes a essa carreira e aos amantes de musicais.
Leva que tá doce! Já falei da trilha sonora e da atuação de Andrew Garfield? Pois é, elas valem o filme.
Dois pelo preço de um: Ora, ora, se você gostou de Rent, vai amar esse.
Presta atenção, freguesia: Na participação de Vanessa Hudgens como Karessa, a solista da trupe de Larson.
Indicações ao Oscar 2022:
Gabi Franco
Editora de filmes e séries na Tangerina, Gabi Franco é criadora do Minas Nerds, jornalista, cineasta, mãe de gente, pet e planta. Ex- HBO, MTV, Folha, Globo… É marvete, mas até tem amigos DCnautas.
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