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Confira a seguir a crítica da 1ª temporada da série da Netflix
Imagine conseguir viajar no tempo usando como veículo o Floguinho, um blog com imagens e textos que remete ao saudoso Flogão (praticamente o precursor do Instagram) sucesso nos anos 2000? Essa é a premissa da série De Volta aos 15, que estreou no dia 25 de fevereiro na Netflix e é inspirada no livro de mesmo nome de Bruna Vieira. Na trama, a protagonista Anita é interpretada por duas atrizes: Maisa Silva, quando tem 15 anos, e Camila Queiroz, quando tem 30. Os outros personagens também têm suas versões adolescente e adulta, e os atores foram muito bem escalados!
Camila Queiroz e Maisa Silva interpretam a personagem Anita em idades diferentes.
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Tudo começa no casamento de Luiza (Mariana Rios), irmã de Anita (Camila Queiroz), que juntou as escovas de dente com o menino que namorava desde os tempos do colégio. Durante a festa, Anita, inconformada com o fato de que a vida em Imperatriz (MA) continua a mesma desde que ela foi embora para São Paulo, descobre que o marido da prima Carol (Yana Sardenberg) continua sendo o mesmo cafajeste que era na escola e o flagra flertando com outra mulher. Esgotada, a protagonista expõe o homem mas é reprimida pela irmã, toda preocupada com as aparências e o que vão falar da família. Anita então se tranca no seu antigo quarto e tem a ideia de entrar novamente no seu Floguinho para resgatar memórias de quando era mais nova e tudo era mais simples. No momento em que loga na conta anitah_malukah2006, é automaticamente transportada para o passado e encara a viagem no tempo como uma oportunidade de fazer diferente e salvar a prima de um casamento tóxico.
Só que assim como acontece no filme Efeito Borboleta (2004) e como nos ensinou Doc Brown em De Volta para o Futuro (1985), cada tentativa de Anita, agora mais nova (Maisa Silva) de alterar o passado, muda também o futuro. Por exemplo, ao atrapalhar o namorico de Carol com Dudu (Gabriel Wiedemann), na tentativa de acabar com o casamento futuro, ela envolve sem querer a prima em um acidente, alterando sua própria vida adulta. Entre uma música da Pitty daqui e outra do Charlie Brown Jr. de lá, Anita descobre que seu melhor amigo de infância, Henrique (Caio Cabral), é apaixonado por ela, que seu pai sabia que estava doente- só não havia contado para a família-, que o mau elemento da escola não era assim, tão ruim e que, muitas vezes, não fazer nada e deixar as coisas seguirem seu curso é a atitude mais esperta que tomamos.
De Volta aos 15 - aprendendo a deixar fluir
Já pensou voltar aos tempos do colégio? Sonho ou pesadelo?
A série é bem levinha e gostosa de maratonar, com seis episódios com cerca de meia hora de duração cada. No final, há um plot twist e descobrimos que outra pessoa acaba conseguindo entrar no Floguinho da Anita e a 1ª temporada termina com essa questão: será que agora essa outra pessoa vai viajar no tempo e bagunçar tudo?
Um grande acerto da série foi a escolha de artistas trans para interpretar os personagens César (Pedro Vinícius) e Camila (Alice Marcone), em suas versões adulta transicionadas. César é uma atriz não binária que está em processo de transição e Camila (que muda de nome) é considerada a primeira cantora trans de sertanejo do Brasil! João Guilherme, que interpreta o Fabrício, também foi bem escalado, uma vez que passa toda a energia caótica de skatista do colégio, mas desperta a empatia do público, que até começa a torcer por ele. Gabriel Wiedmann, que dá voz ao Dudu, também destaca-se com sua atuação. A risada dele chega a dar calafrio na espinha, especialmente naqueles que precisaram lidar com o bullying na época do colégio. Maisa Silva e Camila Queiroz construíram uma linda conexão, responsável por deixar a série mais irresistível. O 1º episódio é o mais paradinho, depois o seriado já engata a terceira marcha. É muito bacana também ver que a temática do pai ausente e da mãe que precisa suprir essa ausência se desdobrando em mil, também é abordada.
A atriz Pedro Vinícius ao lado de Maisa.
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A fórmula de De Volta aos 15 é simples e certeira: trazer à tona tema clássicos de comédias românticas que sempre funcionam, como primeiro amor, dramas adolescentes e romances não correspondidos. Aliados à cenografia e à playlist da série, que resgatam tendências saudosas dos anos 2000, o coração fica quentinho ao assistir a essa aposta teen da Netflix. O legal é que, automaticamente, você acaba conhecendo mais sobre a vida da autora Bruna Vieira, uma vez que muitas coisas do seriado/livro são inspiradas na vida da escritora – que foi descoberta após postar textos bem pessoais em um blog, na época em que morava em Leopoldina, no interior de Minas Gerais, e recebeu destaque ao ganhar uma coluna na extinta Revista Capricho.
Leva que tá doce! A série tem personagens trans, e aborda temas como homofobia e como ela pode fazer ainda mais vítimas em cidades do interior. Você entende o lado da Anita (Maisa Silva), de querer fazer com que as pessoas se sintam livres para serem quem são, mas também compreende o lado do Leo/Theo (Petro Ottoni), que sente medo de assumir sua sexualidade. Muito legal ver também como a personagem da Maisa sente orgulho de seu cabelo cacheado, criticado por muitos colegas de classe, ainda mais levando em conta que os anos 2000 foram marcados por escovas progressivas, muita chapinha e o desejo do cabelo lisérrimo de Avril Lavigne.
Dois pelo preço de um: Com a temática de viagem no tempo, é impossível não traçar um paralelo da série com o filme De Repente 30 (2004), em que Jenna Rink (Jennifer Garner) volta a ter 13 anos e “conserta” algumas coisinha com relação ao futuro. A série também tem a mesma energia do filme Confissões de uma Garota Excluída (2021), protagonizado por Klara Castanho, inspirado no livro homônimo de Thalita Rebouças e também disponível na Netflix.
Presta atenção, freguesia: São muitos os detalhes que remetem aos anos 2000, como testes da Revista Capricho, salgadinho com tazo, All Star rabiscado, comunidades do Orkut, quartos cheio de pôsteres na parede, a cultura emocore, jogos como Verdade e Desafio e festas com músicas como Tô Nem Aí, da Luka. Tente identificar todas as referências e divirta-se ainda mais!
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