Foto: Reprodução/Disney
Animação de 1998 abordou temas à frente do tempo
O desenho animado Mulan, lançado pela Disney nos cinemas em 1998, marcou a geração de meninas nascidas entre os anos 1990 e 2000, não por questões profundas de roteiro, mas por ser mais um filme de “princesa”, um pouco fora dos padrões, com um romance em segundo plano.
A história é baseada em um poema chinês antigo chamado A Balada de Mulan, que foi sendo passado de geração em geração, sofrendo modificações de acordo com o contexto histórico em que era contado. Mas a premissa era sempre a mesma: uma mulher que se veste como homem para conseguir entrar no exército chinês, com o objetivo de ocupar o lugar de seu pai idoso, que provavelmente não sobreviveria à uma guerra.
Mas não é nada comum que uma criança saiba exatamente o quão profunda é essa história e o quanto, nos anos 1990, a Disney acabou lançando um filme à frente do tempo —mesmo que sem intenção. Movimentos de empoderamento feminino já existiam, mas não tinham a força dos últimos anos. E quem assistia Mulan naquela época, muito provavelmente ainda não dava importância para isso, e muito menos entendia o que algumas coisas presentes na animação significavam.
A geração que acompanhou a estreia de Mulan, hoje, tem por volta de 30 anos de idade, e ouvir uma frase que Mushu diz no final do filme é como um soco no estômago de quem já tomou conhecimento de que vivemos em uma sociedade patriarcal. “Você é mulher de novo”, diz o dragão, quando a heroína procura, em uma multidão, ao menos uma pessoa que acredite nela sobre a China ainda estar em perigo.
Para ser levada a sério, Mulan precisou agir —e agir como um soldado. Se ela estivesse vestida como homem, alguém com certeza pararia para escutá-la. Mas o mais triste de perceber que uma mulher não tem voz em um desenho animado, é saber que, quase 30 anos depois, isso ainda é bastante comum.
Uma das cenas mais divertidas do desenho animado é a confusão que acontece quando ela vai à casamenteira, bem no comecinho, com direito a bumbum pegando fogo. Mas uma das frases mais pesadas também vem dessa cena. “Pode parecer uma noiva, mas nunca trará à sua família honra”, garante a casamenteira. Isso porque o comportamento de Mulan não é submisso, o que significa que seria muito difícil arranjar um bom casamento para ela.
Enquanto um homem poderia honrar a família apenas com seu trabalho, a mulher precisava da aprovação de um homem de uma outra família para honrar à própria. Mulan também escuta, diversas vezes, que ela precisa saber qual é seu lugar —de servir sem questionar, apenas. Mas se ela tivesse aceitado esse lugar, não teria salvado a China.
Paola Zanon
Jornalista formada pela Cásper Líbero, repórter e redatora com passagens pelo Notícias da TV, R7, UOL Esporte, Lakers Brasil e UmDois Esportes. Apaixonada por cobertura esportiva e cultura pop em geral. E-mail: paola@tangerina.news
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