FILMES E SÉRIES

Ethan, protagonista de Mundo Estranho

Divulgação/Disney

ENTREVISTA

Dubladores de Mundo Estranho temem censura: ‘Famílias conservadoras’

Apesar de se preocuparem com boicote, os dubladores da animação celebram a naturalidade como a questão LGBTQIA+ é abordada

Giulianna Muneratto

Na última semana, estreou nos cinemas brasileiros Mundo Estranho, nova animação da Disney. O filme traz o primeiro protagonista negro e abertamente gay do estúdio do Mickey Mouse, o que conquistou o coração de muitos espectadores, mas também fez com que a Disney optasse por não exibir a produção em mais de 20 países considerados conservadores. 

No Brasil, o time de dubladores que emprestaram voz aos personagens teme que, mesmo retratando com naturalidade o fato de o personagem principal ser LGBTQIA+, o filme ainda possa sofrer boicote de pessoas com pensamento retrógrado. 

“Antes, era vista com muita maldade a questão da sexualidade, principalmente da homossexualidade. Cresci em um mundo em que ela era proibida para menores de 18 anos, era um assunto proibido”, afirma Marcelo Campos, dublador veterano que faz a voz do Searcher em Mundo Estranho, em entrevista exclusiva à Tangerina.

“Tanto que tem tanta gente com isso incrustado no corpo que fica: ‘Nossa, tem dois homens andando de mãos dadas e meu filho vai ver isso’. Nada como a arte e o entretenimento para mostrarem que isso é normal.”

Marcelo acredita que o tema certamente pode chamar a atenção em Mundo Estranho, ainda mais porque a Disney tem levantado a bandeira em sua divulgação. “Vai ter um monte de família ultraconservadora que vai assistir à animação e dizer: ‘Como assim? Estão dizendo isso e isso, e esse filme é livre?’. O amor é livre mesmo. A afetividade… A gente não está falando de relação sexual. E eu estou superfeliz de ter feito parte disso, dessa vanguarda, porque é uma obra que vai dar a cara para bater.”

Dublador de Ethan, o protagonista LGBTQIA+, Caio Freire ainda celebra o fato de que Mundo Estranho trata a questão com tamanha naturalidade que passa quase que imperceptível, já que o adolescente leva uma vida normal, tendo paixões normais, assim como qualquer outra pessoa da sua idade.

“As pessoas conservadoras devem pensar que o filme vai ser uma loucura na cabeça deles, só que o grande trunfo dessa animação é que o Diazo é o crush do Ethan, porém se o Diazo se chamasse Ana e fosse uma garota, os diálogos seriam exatamente os mesmos”, conta o dublador. “Eles tratam isso com uma naturalidade tão grande que é lindo de ver como ele é só um adolescente, que está querendo se relacionar, que gosta de alguém e não sabe como lidar.” 

Marcelo Campos ainda pontua uma questão que não é tão vista em outras animações: o fato de os pais do Ethan demonstrarem carinho na frente do filho, como uma questão totalmente natural, já que eles se gostam. “No desenho está tudo muito bem resolvido. No caso do Searcher e da mulher, eles demonstram carinho na frente dos filhos, não estão nem aí”, comenta. 

“Antes, existia aquela coisa de que os pais não poderiam se beijar na frente dos filhos, mas qual é o problema? É legal uma empresa tão grande e importante como a Disney mostrar essas coisas, porque influencia mesmo no cotidiano, influencia no comportamento. Desde pequena, a criança vai assistir a uma animação em que os pais se beijam, se abraçam e dançam, trocam carinho e uma intimidade que só faz bem. A criança precisa ter esse exemplo.” 

Com time de dublagem dirigido por Robson Kumode (Clube da Anittinha), Mundo Estranho está atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros e deve seguir para o Disney+ em breve.

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QUEM FEZ

Giulianna Muneratto

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.

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