(Foto: Divulgação/Netflix)
O público é mais impaciente, a concorrência é maior e o hype não se sustenta sozinho
Stranger Things sempre foi tratada como o diamante do catálogo da Netflix. Desde a estreia em 2016, a série criada pelos irmãos Duffer definiu o padrão para o que seria um fenômeno global do streaming: nostalgia, elenco carismático e uma história que prendia o público episódio após episódio. Mas, ao longo dos anos, a gigante vermelha cometeu um erro que acabou cobrando o preço — o mesmo que ameaça várias de suas produções mais populares.
O maior problema não está na qualidade de Stranger Things, mas no ritmo com que a Netflix decide lançá-la. A quarta temporada, exibida em 2022, ainda é lembrada pelos fãs como um dos pontos altos da produção. Mesmo assim, é a única temporada que figura entre as dez séries mais vistas da história da plataforma, segundo o ranking global da própria Netflix. O resto simplesmente desapareceu das listas, engolido pelo mar de novos lançamentos.
Esse fenômeno não tem nada a ver com a recepção da série — que continua forte —, mas sim com o modelo de lançamento do streaming, que fragmenta a atenção do público. Diferente da TV tradicional, onde grandes produções voltavam todos os anos e mantinham o público aquecido, o intervalo entre as temporadas de Stranger Things chega a ultrapassar três anos. Quando a série retorna, precisa reconquistar o público quase do zero.
Na era pré-streaming, títulos como Breaking Bad, The Sopranos e The Wire eram exibidos anualmente, criando uma conexão constante com o público. O espectador tinha tempo para digerir cada temporada, mas não o suficiente para esquecê-la. Hoje, a Netflix prefere intervalos longos, uma aposta em “eventos” pontuais que acabam sacrificando o engajamento. O resultado é simples: quanto mais distante a série fica, mais difícil é trazê-la de volta ao centro das conversas.
O próprio algoritmo da Netflix contribui para o problema. Quando novas temporadas demoram a chegar, o sistema deixa de recomendar as antigas — e o público casual segue para outro título da moda. Com isso, até um fenômeno cultural como Stranger Things perde espaço para produções recentes, como Adolescência, que dominam o top global.
A quinta e última temporada de Stranger Things estreia em 26 de novembro, e chega com a difícil missão de recuperar o impacto que a série já teve. Mesmo sendo uma das produções mais caras da história da Netflix, ela enfrenta um cenário bem diferente: o público é mais impaciente, a concorrência é maior e o hype não se sustenta sozinho.
No fim das contas, Stranger Things ainda é um marco da cultura pop moderna — mas a estratégia de lançamento da Netflix mostra que até gigantes podem se tornar reféns do próprio modelo. O erro da plataforma foi esquecer que boas séries não precisam só de bons roteiros. Precisam também de ritmo, constância e presença — algo que a televisão tradicional sempre soube fazer melhor.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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