Foto: Reprodução/Netflix
Inacreditável é uma minissérie baseada em crimes reais
Em 2019 a Netflix lançou a minissérie Inacreditável, baseada em uma série de estupros reais que aconteceram nos Estados de Washington e Colorado, nos Estados Unidos. A personagem central é Marie Adler, interpretada por Kaitlyn Dever.
[Atenção: Contém spoilers da série Inacreditável abaixo]
Em agosto de 2008, Marie, de 18 anos, acordou no meio de uma madrugada com um invasor mascarado ao lado de sua cama. Órfã, ela tinha seu próprio apartamento em uma comunidade para jovens em situação de vulnerabilidade e morava sozinha nele. Naquela madrugada, Marie foi vítima de estupro.
Pela manhã, depois que o criminoso deixou sua casa, ela chamou uma antiga mãe adotiva e acionou a polícia para denunciar o que havia acontecido. Traumatizada, cansada e sem advogado para acompanhá-la, Marie precisou dar diversos depoimentos relatando tudo, confundindo-se entre alguns detalhes.
Os detetives responsáveis pelo caso a questionaram sobre a inconsistência e a pressionaram a confessar que havia inventado o estupro —isso a fez ser processada pelo Estado e cumprir pena em liberdade. Até mesmo para o telespectador fica a dúvida sobre ela ter falado a verdade ou não.
O fato é que, anos mais tarde, começaram a acontecer diversos casos de estupro com vítimas relatando detalhes iguais aos que Marie havia contado antes. A diferença é que as novas vítimas puderam contar com a determinação das detetives Karen Duvall (Merritt Wever) e Grace Rasmussen (Toni Collette), que conseguiram resolver o caso e prender o responsável. Os nomes das investigadoras foram adaptados pela Netflix.
Após a repercussão da série da Netflix, a Associação Internacional de Chefes de Polícia revisou as instruções para crimes sexuais e estabeleceu um novo protocolo que exige a presença de advogado para vítimas menores de 21 anos. 12 países aderiram as novas regras.
Nos Estados Unidos, as mudanças foram ainda mais significativas: 15 estados implementaram novas técnicas de entrevista focadas em estabelecer a confiança da vítima antes de coletar detalhes, para que o trauma não interfira no depoimento. Além disso, o próprio FBI incluiu episódios de Inacreditável no treinamento de agentes especialistas em crimes sexuais.
Marie se declarou culpada de falso testemunho depois que foi pressionada a dizer que havia inventado a acusação de estupro; por consequência do processo, ela perdeu o direito de ter um apartamento na comunidade. A jovem conseguiu um acordo e foi sentenciada a pagar uma multa de US$ 500 (R$ 2.600, na cotação atual), passou a viver em liberdade provisória e teve sessões psicológicas obrigatórias por ter mentido.
A vida social de Marie também foi impactada; ela perdeu o emprego, a moradia assistida e recebeu diversas ofensas e xingamentos de amigos que a abandonaram e outros conhecidos.
Tudo mudou quando as detetives identificaram o estuprador e encontraram com ele fotos de Marie, exatamente como ela havia relatado anos antes. O departamento de polícia responsável pela investigação e processo contra ela foi condenado a pagar uma indenização de US$ 150 mil (R$ 800 mil) e passou por uma reformulação em seus protocolos internos. Os supervisor do caso foi aposentado de forma prematura.
Paola Zanon
Jornalista formada pela Cásper Líbero, repórter e redatora com passagens pelo Notícias da TV, R7, UOL Esporte, Lakers Brasil e UmDois Esportes. Apaixonada por cobertura esportiva e cultura pop em geral. E-mail: paola@tangerina.news
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