FILMES E SÉRIES

Kim Rossi Stuart e Saul Nanni em cena de Brado

Divulgação/Vision

KIM ROSSI STUART

Galã italiano encara Covid e sopro da vida em drama familiar intenso

Em conversa exclusiva com a Tangerina, Kim Rossi Stuart revela como a pandemia afetou as produções do filme Brado, que ele roteirizou e dirigiu

Luciano Guaraldo

Um dos principais atores do cinema italiano, Kim Rossi Stuart também se aventura atrás das câmeras –no roteiro e na direção– em oportunidades menos frequentes. Em seu longa mais recente, Brado (2022), o galã constrói um drama atemporal entre pai e filho que ganha contornos muito atuais por causa da importância que a trama dá à respiração –em tempos de Covid-19, ver a falta de ar refletida na tela se torna algo ainda mais dolorido.

No longa, Kim vive Renato, um homem antissocial que tenta treinar cavalos indomáveis para campeonatos de montaria. Após um acidente em que tem sua mão quebrada, ele recebe o filho, Tommaso (Saul Nanni, que viverá o ator pornô Rocco Sifredi na série Supersex, da Netflix), em uma visita ao rancho Brado, um lugar afastado de tudo e de todos. Apesar da relação tensa, o jovem decide ficar por lá e domar o animal ele mesmo.

Não será spoiler para ninguém contar que o cavalo descontrolado é uma metáfora para a própria relação entre Renato e Tommaso e que, à medida que o animal se acalma, pai e filho conseguem se entender. Mas sempre há espaço para novos surtos e lembranças de traumas do passado –como a vez em que o patriarca tentou afogar o próprio herdeiro no mar, para que ele aprendesse a se defender.

O ator de 53 anos esteve no Brasil para lançar Brado durante o Festival de Cinema Italiano, que acontece até domingo (4), e bateu um papo exclusivo com a Tangerina para explicar como a pandemia o forçou a reavaliar seus planos para o filme –ele perdeu a própria mãe para o coronavírus.

“Quando a pandemia começou, nós estávamos na pré-produção de Brado. E, vendo como as mortes ocorriam, houve um momento em que nós precisamos nos perguntar se algumas cenas não seriam fortes demais para as pessoas que, de alguma maneira, estavam condicionadas a essa coisa de Covid”, apontou ele na conversa com a reportagem.

“Mas era impossível tirar essa cena e desestruturar toda a obra. O tema da respiração volta o tempo todo durante o filme. É um traço subterrâneo que tem a ver com o sopro vital, um tema bíblico e que conta muito para a relação de pai e filho. Sendo você uma pessoa religiosa ou não, mesmo a nível simbólico, o fato de Deus dar a vida ao homem através do sopro, ao seu filho, era um tema central do filme. Então fomos em frente.”

As cenas de montaria impressionam –especialmente porque é possível ver o rosto de Saul Nanni em boa parte das sequências. Os dublês, de fato, ficaram quase que completamente de fora da produção. “Ele só não fez uma cena porque tinha quebrado a clavícula gravando outra sequência em que Tommaso cai do cavalo. Ele caiu de verdade e se machucou”, lembrou Stuart.

“A montaria foi o desafio mais difícil do filme. Saul precisou ficar seis meses em um centro hípico para aprender tudo. Limpou muito cocô de cavalo e montou tanto que, no final, as cenas foram quase todas feitas por ele. Inclusive a da queda. E ali existiu algo de misterioso, porque nós precisávamos de um acidente, e antes mesmo de começarmos a preparar a cena, ela aconteceu. O drama simplesmente aconteceu. Foi incrível.”

A história de Brado nasceu no livro Le Guarigione (As Curas, em tradução livre), uma coletânea de contos escritos pelo próprio Kim Rossi Stuart e publicados em 2019. “Eu tinha na cabeça a experiência de fazer uma escrita pura, literária, mas ao mesmo tempo já estava de olho na ideia de levar em frente um trabalho de perspectiva cinematográfica”, justificou o artista, que já pretende adaptar outra história da obra para o cinema.

Inicialmente, Stuart ficaria apenas atrás das câmeras. Mas um incidente com o ator inicialmente escalado para viver Renato o forçou a mudar seus planos. Algo, aliás, que já havia ocorrido em seus outros dois filmes como diretor, Estamos Bem Mesmo Sem Você (2006) e Tommaso (2016). “Em nenhum dos três eu pretendia atuar. Mas uma força misteriosa sempre entra em ação. No primeiro caso, o ator desapareceu duas ou três semanas antes das gravações. Agora, o protagonista teve uma hérnia e eu tive que fazer. Vejo esses eventos como algo quase sobrenatural (risos).”

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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