(Foto: Divulgação/Netflix)
É um filme que pede atenção, sensibilidade e disposição e nem sempre recompensa o espectador com equilíbrio
Guillermo del Toro voltou aos cinemas com uma ambição que poucos diretores contemporâneos conseguem sustentar. Frankenstein, seu novo filme, estreou primeiro nas telonas antes de chegar à Netflix em 7 de novembro, e imediatamente se destacou pelo impacto visual. A adaptação parte diretamente do romance clássico de 1818. O cineasta, que considera a criação de Mary Shelley quase como uma crença pessoal, perseguia esse projeto há anos e o descreve como o ponto culminante de uma jornada artística que o acompanhou por grande parte da vida. Desde a primeira cena, uma sequência de ação intensa, ele demonstra domínio absoluto sobre atmosfera, textura e composição.
A narrativa segue Victor Frankenstein (Oscar Isaac), um cientista brilhante e egocêntrico que decide desafiar os limites da natureza ao tentar dar vida à matéria morta. Sua ambição tem como consequência a criação da Criatura (Jacob Elordi), formada por partes de corpos retirados de campos de batalha. Ao despertar, ela não é apenas um ser físico aterrorizante: é uma mente, uma presença e um pedido de compreensão. A alternância entre passado e presente constrói o peso emocional da história, reforçando o tormento de Victor ao se ver confrontado por aquilo que criou.
Oscar Isaac interpreta Victor com intensidade e fragilidade, equilibrando genialidade e desespero. Ele faz do personagem alguém movido por ego e arrependimento, criando um conflito interno que sustenta grande parte do filme. Mas é Jacob Elordi quem transforma Frankenstein em algo realmente especial. Sua atuação é profundamente física, emocional e silenciosa. O monstro que ele cria inspira medo, dor e empatia ao mesmo tempo. Del Toro chegou a dizer, em entrevista ao Letterboxd, que Elordi foi um dos melhores atores com quem já trabalhou e é fácil entender por quê. Cada gesto, olhar e respiração dele parece ter um propósito.
Mia Goth em cena de Frankenstein
(Foto: Divulgação/Netflix)
Mia Goth também tem presença hipnótica na tela. Sua personagem, com carisma enigmático, se torna um eixo invisível que equilibra a relação entre criador e criatura. Goth nunca força sua atuação: ela ocupa o espaço, observa e guia a cena, criando contraste e respiro dentro da tragédia. Juntos, os três interpretam uma história que trata menos de horror e mais de humanidade: sobre amor, abandono e o desejo desesperado de ser visto e lembrado.
Del Toro reimagina o século 19 sem cair em estéticas apagadas e previsíveis. Em vez de tons pastéis e composições tradicionais, ele aposta em figurinos luxuosos, contrastes fortes e paletas dramáticas, especialmente em torno de Victor. A fotografia é carregada de cor, textura e volume, quase como se cada quadro fosse pintado à mão. A duração de 2h29 permite que o diretor mergulhe nesse universo com profundidade, mas nem sempre de maneira equilibrada.
É justamente aí que surge o problema. Frankenstein se alonga demais em passagens intermediárias, expandindo reflexões e transições além do necessário. Mas quando chega ao desfecho, acelera de forma brusca, condensando resoluções importantes. O resultado é uma experiência emocionalmente marcante, mas não totalmente harmoniosa.
Essa oscilação de ritmo faz diferença na experiência. No cinema, o deslize se torna mais perceptível, especialmente pela intensidade estética que exige um envolvimento constante. É um filme que pede atenção, sensibilidade e disposição e nem sempre recompensa o espectador com equilíbrio. Por isso, a chegada à Netflix pode favorecer a obra. Em casa, o público pode absorver o peso das imagens com mais pausa, mais contemplação e menos exaustão. É um caso raro em que o streaming realmente pode enriquecer a recepção de um grande filme.
Mesmo assim, Frankenstein é grandioso, sentido e extremamente pessoal. Ele reafirma Guillermo del Toro como um dos grandes cineastas do cinema moderno, alguém que enxerga beleza onde o mundo costuma ver deformidade. A criatura de Jacob Elordi já se estabelece como uma das interpretações mais marcantes dessa história em qualquer mídia. O filme tem suas falhas, mas também tem alma e isso faz diferença.
Além da exibição em salas selecionadas no Brasil, Frankenstein estreia para todos os assinantes da Netflix em 7 de novembro. É, talvez, onde a maioria vai encontrar o equilíbrio ideal para absorver sua força. Assista abaixo ao trailer:
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
Ver mais conteúdos de Victor CierroTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?