(Foto: Divulgação/Compass International Pictures)
Reassistir o filme de terror é observar como o cinema pode ser poderoso com poucos recursos, desde que haja controle absoluto sobre tom
Lançado em 25 de outubro de 1978, Halloween não é apenas um símbolo da temporada de terror — é um marco na história do cinema. Quase meio século depois, o longa de John Carpenter continua sendo referência para cineastas, estudo obrigatório em cursos de roteiro e um dos pilares do subgênero slasher. Mesmo com o passar das décadas, o filme permanece relevante e estudado exatamente porque sua força está na simplicidade: menos explicações, mais atmosfera.
O sucesso foi tanto que transformou Michael Myers em uma das figuras mais reconhecíveis da cultura pop — a máscara branca e o movimento silencioso do personagem se tornaram ícones instantâneos. Ao contrário de muitos títulos modernos, que apostam em violência gráfica e sustos fáceis, Halloween constrói tensão a partir da direção e do som.
Carpenter usa câmera subjetiva, planos longos e uma trilha minimalista que se repete como uma pulsação. É um terror que não está preocupado em mostrar o monstro o tempo todo, mas em fazer o público sentir que ele pode estar em qualquer canto — o medo nasce do espaço vazio e do silêncio.
Outro elemento importante é a presença de Laurie Strode, interpretada por Jamie Lee Curtis. A personagem ajudou a estabelecer o arquétipo da “final girl” no cinema de horror, mas sempre fugindo da caricatura. Laurie não é uma heroína invencível, e é justamente sua vulnerabilidade que faz o espectador acompanhar cada movimento e torcer pela sua sobrevivência. Até hoje, Curtis e Laurie são inseparáveis na memória cultural.
O impacto crítico também é sólido. Halloween tem 97% de aprovação no Rotten Tomatoes e 89% de aprovação do público, mostrando que sua força não se perdeu com o tempo. Em 2006, o filme foi selecionado para preservação no National Film Registry, nos Estados Unidos, reconhecimento dado apenas a obras consideradas “cultural, histórica ou esteticamente significativas”.
Quase 50 anos depois, muitas produções de terror tentam replicar a fórmula, mas poucas conseguem alcançar o mesmo equilíbrio entre suspense, narrativa enxuta e atmosfera opressiva. Halloween não precisa de explicações sobre a origem do mal, nem de reviravoltas mirabolantes. O que o torna tão interessante até hoje é justamente a sugestão do inexplicável: Michael Myers é assustador porque não existe explicação definitiva para ele.
Reassistir Halloween hoje é observar como o cinema pode ser poderoso com poucos recursos, desde que haja controle absoluto sobre tom, ritmo e construção de medo. E talvez seja por isso que, após 47 anos, ele ainda seja mais interessante que muitos filmes recentes, que apostam mais no barulho do que na inquietação.
Victor Cierro
Repórter da Tangerina, Victor Cierro é viciado em quadrinhos e cultura pop e decidiu que seria jornalista aos 9 anos. É cria da casa: antes da Tangerina, estagiou no Notícias da TV, escrevendo sobre filmes e séries.
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