Divulgação/Netflix
Henrique Zaga está apenas em sua primeira produção brasileira e já conseguiu o status de galã da Netflix com Depois do Universo (2022). Porém, se engana quem pensa que o ator está começando a carreira agora. Há dez anos, ele resolveu fazer o caminho inverso da maioria e foi tentar a vida em Hollywood, emplacando papéis em produções como Teen Wolf (2011-2017) e 13 Reasons Why (2017-2020).
Agora, ele volta ao seu país de origem já chegando ao primeiro lugar dos filmes mais assistidos do streaming ao lado de Giulia Be. Com sua plataforma cada vez maior, o ator aproveitou sua voz para se posicionar politicamente sempre que possível e não se manteve calado no período eleitoral.
Em publicação recente no Instagram, de setembro deste ano, Henrique escreveu: “Fora Bolsonaro. Fora sem poder de volta. Fora seu discurso de ódio. Fora sua política fascista, racista, negacionista, homofóbica, militante. Fora com teu neoliberalismo autoritário, necropolítica contagiosa, e toda sua onda de desinformação fake news.”
O astro é filho de Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral e um dos advogados de Jair Bolsonaro. Com visão ideológica divergente da do próprio pai, o ator já declarou em entrevistas anteriores que tenta não trazer o assunto de política para a mesa do jantar, e agora espera que a saída de Bolsonaro do poder dê uma chance para que o Brasil se paute cada vez mais no amor.
“Eu espero que as pessoas promovam o amor, promovam a empatia, promovam direitos humanos, o direito do cidadão e a democracia. Eu espero que as pessoas se reúnam nas ruas não para ir um contra o outro, mas para se unir para um país melhor. Acho que a gente deu uma dividida tão feia”, conta Zaga, em entrevista exclusiva à Tangerina.
“Até dentro de almoços familiares, do Natal juntos, dava discussão. Já passou da hora de a gente parar com isso e conseguir conversar amigavelmente, para perceber que o Brasil precisa de afeto, de mudanças positivas e de um discurso de amor.”
O pai de Henrique esteve presente na pré-estreia de Depois do Universo e, segundo ele, se emocionou bastante com o filme. O ator também conta que uma parte importante da sua rotina é ligar para ele e para outros familiares, para que se sinta conectado com a sua base brasileira.
Ele ainda deixa uma dica importante para esses tempos de pós-eleição, em que os ânimos seguem à flor da pele. “Não deixe esses políticos entrarem no seu núcleo familiar. Eu percebi que quem perde é a gente. Eles conseguem as ambições deles, os méritos políticos, profissionais deles, e a gente é quem sai perdendo, discutindo em almoços. Não deixe isso entrar no seu amor familiar.”
Nascido em Brasília e filho de advogados, Henrique Zaga sequer imaginava que se tornaria ator, mas a carreira tem rendido ótimos frutos. “Eu não cresci sabendo que queria ser ator. Foi um processo de aprendizado, de me apaixonar por cinema. Eu percebi que os meus momentos mais felizes eram na frente das telas, assistindo a filmes como Jurassic Park [1993] com a minha família”, revela.
“Aquele negócio de contar histórias é um tipo de mídia que me transportava. Me transportava junto com familiares, com pessoas de que eu gostava, era uma experiência dividida. Aquilo sempre foi muito poderoso para mim.”
Na capital federal, ele se tornou estudante de um colégio que seguia o estilo norte-americano, e foi na aula de Artes Cênicas que acabou se apaixonando pela profissão. Seu primeiro personagem foi o desafiador Wilbur Turnblad, do musical Hairspray –um senhor de 60 anos.
“Vesti peruca, coloquei suspensório, entrei no personagem e foi uma delícia. Para mim, foi um jeito de me expressar que eu nunca tinha tentado antes”, conta. “Foi aí que começou o interesse. E eu recebi vários elogios, foi meio que um susto.”
Depois das experiências, o ator foi tentar a vida em Hollywood e, desde então, assegurou papéis de sucesso para o currículo. Ele foi o X-Men brasileiro de Os Novos Mutantes (2020), atuou na série The Stand (2020-2021) e também fez Quem é Você, Alaska? (2019), além de outros filmes e séries prestigiados.
O cinema nacional tem cada vez mais conquistado público, não somente no Brasil, mas também lá fora. Na Netflix, Esposa de Aluguel (2022) quebrou recordes, e Depois do Universo tem traçado o mesmo caminho. O filme alcançou o quarto lugar no ranking de filmes de língua não inglesa mais assistidos da Netflix e só tem subido posições na lista de mais vistos.
Apesar de ter passado dez anos de sua vida nos Estados Unidos –inclusive, ele ainda mora por lá e tem projetos futuros nos EUA–, Henrique Zaga sente que o longa brasileiro foi uma das produções mais incríveis que fez. “A sinergia no set, as pessoas sabendo trabalhar em cada departamento, a fotografia do filme é maravilhosa, a atuação de todos é muito boa, a direção de Diego Freitas, o roteiro é lindo”, exalta. “Foi uma das produções mais surpreendentes da minha vida.”
Inclusive, quem procurá-lo nas últimas produções norte-americanas das quais participou como Henrique não vai encontrá-lo. Isso porque, no começo da carreira, Zaga resolveu adotar o nome Henry, como forma de tentar se encaixar melhor naquele meio tão competitivo.
Assumir o nome Henrique não foi uma decisão puramente comercial para visar o mercado brasileiro, mas sim porque faz com que ele se sinta muito mais autêntico e conectado com sua própria identidade. “No meio artístico, nosso nome é o nosso instrumento, é o nosso cartão de visita. Meu nome sempre foi Henrique, o nome Henry me ajudou durante muito tempo a lidar com um pouco de insegurança. Eu não sou dos Estados Unidos e estava tentando ingressar em um mercado que é muito competitivo e tinha uma certa pulga atrás do orelha”, explica.
“[Eu pensava:] ‘Será que não vou pegar o papel porque eu sou obviamente muito brasileiro?’, ‘Será que se eu me neutralizar um pouco mais nesse mercado, isso vai me ajudar sem deixar de ser eu?’. Então, eu cortei meus dois nomes do meio”, acrescentou.
“Isso me ajudou bastante. Eu tenho o maior carinho pelo nome Henry Zaga, foi um grito de liberdade muito grande de criar meu nome artístico. Por muito tempo eu tinha uma dicotomia, que não fazia sentido, não era autêntico para mim. Minha família sempre me chamou de Henrique, eu sempre me senti como Henrique.”
Em Depois do Universo, Henrique Zaga interpreta Gabriel, um jovem médico que vê a vida como “um copo meio cheio”. Positivo e otimista, ele tenta sempre fazer com que os pacientes tirem o melhor proveito da vida, e é isso que tenta levar a Nina (Giulia Be).
A jovem tem lúpus e passa por um período complicado de sua vida, já que o funcionamento de seus rins foi comprometido pela doença. Com Gabriel, ela vai, aos poucos, descobrindo que tudo tem um lado bom e vive uma linda história de amor.
Henrique acredita que tenha muito dele mesmo no personagem, mas uma pessoa em específico inspirou toda a alegria e o bom humor do residente. “Eu me inspirei muito na minha avó Marlene. Ela é uma pessoa para quem não tem tempo ruim. Ela está sempre vendo o lado bom da vida e enaltece a todos ao lado dela”, afirma. “Eu tentei trazer um pouco das cores da Marlene para o Gabriel. Eu tenho um carinho enorme por ela, ela tem uma simplicidade de viver que é uma sabedoria quase que inalcançável.”
Para chegar ao personagem, o ator fez quase que um curso intensivo com médicos, para aprender tudo sobre a hemodiálise, a rotina dos pacientes e o dia a dia de um hospital. Zaga também acompanhou de perto o hospital GRAAC (Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer), e seguiu consultas para entender cada detalhe necessário para construir o Gabriel.
Henrique Zaga já esteve no set com atrizes como Whoopi Goldberg e Alice Braga, veteranas e consagradas em suas carreiras. Ao atuar com Giulia Be no primeiro projeto dela como atriz, sentiu que a cantora tem o talento necessário para seguir na profissão. “A Giulia é uma força. Ela tem uma luz dentro dela, que ela realmente precisa soltar e atuar ainda mais. Esse foi o primeiro papel dela, e eu espero que seja o primeiro de muitos, porque ela tem uma verdade, uma simplicidade com a atuação”, elogia.
Zaga se impressionou com sua colega de cena, que acabou tornando-se uma grande amiga. “Quando você entra para filmar com um veterano, ele já tem hábitos e você fica meio que tentando buscar sua dança com ele, se encaixar nas técnicas. A Giulia chegou crua no set, buscando a verdade, sem maus hábitos, e ela foi uma verdadeira descoberta”, acrescenta. “Ela estava muito disposta a aprender e isso me colocou na estaca zero. Cada filme é uma nova empreitada, um novo trajeto, e isso foi muito especial.”
Para Henrique, Depois do Universo foi um grande e inesquecível marco em sua carreira, e ele espera que o filme alcance o público com uma mensagem de esperança e amor. “Viva todos os dias, porque esse é o nosso presente diário. Você acordar vivo, saudável”, diz. “A gente realmente tem que perceber que a vida é uma só.”
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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