Influencer de Mentira acerta na crítica às obsessões midiáticas

Influencer de Mentira estreou na última sexta-feira (29), no Star+, e quebrou a internet pelo simples fato de trazer Dylan O’Brien como um blogueiro loiro, maconheiro e tatuado. Mas a comédia sombria e adolescente consegue cumprir bem seu papel de sátira social e gera reflexões.

O longa de Quinn Shephard apresenta uma anti-heroína para se odiar do começo ao fim. Danni Sanders (Zoey Deutch) é uma aspirante a escritora, totalmente sem rumo, que é obcecada por crescer nas redes sociais. Na esperança de chamar mais a atenção, ela finge que foi selecionada para um retiro de escritores em Paris e passa a editar fotos para parecer que viajou à capital da França, quando na realidade sequer saiu de casa. 

Em uma manhã, ela acorda com o celular explodindo de mensagens. Um bombardeio aconteceu nos principais pontos turísticos do país europeu. Mas, em vez de revelar que não havia viajado, ela prefere seguir com a mentira, que abriu as portas para que ela vivesse um romance com o homem dos seus sonhos, o problemático Colin (Dylan O’Brien), e ganhasse amigos, a possibilidade de publicar artigos e influência na internet.

O filme foge do clichê adolescente tradicional. Desde o começo, um aviso de conteúdo sensível dá o tom de ironia que está por trás de todo o roteiro: “Esse filme contém luzes piscantes, temas envolvendo trauma e uma protagonista feminina detestável”. 

As atitudes de Danni chegam a dar arrepios na espinha –e essa parece ser a intenção. Por vezes, o espectador pode sentir uma forte sensação de vergonha alheia quando a protagonista mergulha tão profundamente nas suas convicções, que acabam sendo tão rasas. 

Uma personagem forte do enredo, que conquista o público, é Rowan (Mia Isaac). Uma garota jovem, líder de um movimento antiarmamentista, que sobreviveu a um tiroteio em sua escola e também é uma influenciadora. Enquanto Danni Sanders vive uma tragédia de mentira para crescer na internet, Rowan viveu uma tragédia de verdade com consequências que a acompanham até hoje. Ela tem crises de ansiedade ao ouvir barulhos semelhantes a tiros e lida com ataques constantes nas redes sociais, dos quais sempre quer fugir.

Por outro lado, o personagem de Dylan O’Brien mostra uma persona totalmente diferente. Também influenciador, Colin parece a personificação da frase “pare de tornar pessoas estúpidas famosas”. Ele não tem ideia de quem é de verdade –são poucas as cenas em que o personagem não aparece fumando maconha ou completamente desligado da realidade. 

Rowan e Colin são os dois contrapontos da realidade nas mídias sociais, os dois caminhos que Danni Sanders poderia seguir na internet: a garota, com intenções genuínas e muita honestidade, usa as redes como um recurso, e não como palco. Já Colin é o caminho rápido para a fama e representa a superficialidade das relações e das mídias. 

Influencer de Mentira mostra que as ambições por trás da internet podem ser destrutivas. Desde o começo, a diretora deixa claro: a protagonista não ganha um arco de redenção. E, no fim, não ganha mesmo. Até quando parece entender a gravidade de suas atitudes, Danni Sanders apenas leva uma enxurrada de verdades na cara e foge.

Há pequenas brechas no roteiro que te levam a sentir empatia pela protagonista, mas o filme aborda claramente a realidade de que nem sempre é possível se redimir pelos problemas que se causa. A comédia entrega o que promete e, mesmo que de maneira superficial, aborda o adoecimento de toda uma geração que lida com uma sobrecarga constante de informações e a busca incansável por um lugar inalcançável de prestígio.