Divulgação/Netflix
Resgatada da morte pela Netflix, série retornou com novos episódios na sexta-feira (4) e se encaminha para a reta final em bom momento
Cancelada precocemente, Manifest protagonizou uma das maiores ressurreições da cultura pop. Após três anos batalhando contra a baixa audiência na TV aberta dos Estados Unidos, a série teve seu fim anunciado pela NBC e passou meses no limbo enquanto aguardava por um “salva-vidas”. A ajuda veio por meio da Netflix, que resolveu dar uma segunda chance à atração após o sucesso meteórico de suas reprises na plataforma.
Descrita como a “nova Lost” (2004-2010) no início de sua jornada, Manifest sempre se destacou pela trama que mistura mistério, misticismo, religião e ciência. A história do voo 828 –que sumiu durante cinco anos e, quando retornou, deu “poderes” aos passageiros sobreviventes– intrigou o público do streaming e fez com que uma legião de fãs clamasse pelo resgate de sua nova série favorita.
Com a ressurreição confirmada pela Netflix, o criador e showrunner Jeff Rake recebeu a chance de dar um fim digno à trama e aos personagens que conquistaram milhões. Para a sua quarta –e última– temporada, Manifest teve encomendados 18 episódios divididos em duas partes com nove cada, e Rake parece ter aproveitado muito bem a oportunidade que lhe foi dada.
A nova temporada começa com um salto temporal de dois anos e mostra o que aconteceu com a família Stone após Angelina Meyer (Holly Taylor) matar Grace (Athena Karkanis) e sequestrar a bebê Eden. Cal (Ty Doran), que retornou cinco primaveras mais velho após desaparecer misteriosamente, luta ao lado de Olive (Luna Blaise) para resgatar seu pai, Ben (Josh Dallas), das dores do luto.
Luna Blaise (Olive) e Ty Doran (Cal)
Divulgação/Netflix
Com Ben distraído por sua busca exaustiva pelo paradeiro de Eden e Angelina, Michaela (Melissa Roxburgh) assumiu o controle do bote salva-vidas para tentar salvar todos os sobreviventes do voo 828 da Data da Morte. No entanto, muita coisa mudou com a passagem de tempo, e essa tarefa ficou ainda mais difícil.
Uma das novidades do quarto ano é a introdução do Registro 828, no qual os passageiros são obrigados a fazer check-in uma vez por mês (ou mais, se convocados) ou serão imediatamente levados para a cadeia. A desculpa para a criação do órgão é ser uma das maneiras de o governo supostamente vigiá-los para sua própria segurança, mas há os que acreditam que as autoridades buscam apenas monitorá-los para ter o controle da situação.
O principal mérito da quarta temporada é ir direto ao ponto. Ciente de que precisa encerrar a história em 18 episódios, Rake evita dar voltas em torno de subtramas e chamados desnecessários e coloca todos os personagens para se movimentar e encontrar respostas para questões antigas. Isto faz com que a narrativa de Manifest fique mais acelerada e eletrizante do que nas três levas anteriores.
Para suprir o vazio deixado pelo salto no tempo, o showrunner introduz pequenos flashbacks que narram o que aconteceu com os personagens nos dois anos que separam as temporadas. Cal sofre com a culpa que carrega pela morte da mãe e vê Ben praticamente ignorá-lo. Com a perda da mulher, o patriarca dos Stone perdeu a fé nos chamados e dedica todo o seu tempo à busca por Eden e Angelina, deixando Michaela e Vance (Daryl Edwards) sozinhos na liderança pela defesa do bote salva-vidas.
Melissa Roxburgh (Michaela) e Matt Long (Zeke)
Divulgação/Netflix
Além da família Stone, a quarta temporada também explora mais os vários passageiros que nunca tiveram muito tempo de tela, mas que agora foram contemplados porque os episódios na Netflix ganharam de cinco a oito minutos cada. Zeke (Matt Long), por exemplo, se esforça para sustentar toda a família Stone na ausência quase constante de Ben. Ele se tornou uma figura paterna para Olive e Cal, dando-lhes conselhos e carinho, enquanto usa suas complicadas habilidades empáticas para ajudar outras pessoas que lutam contra o vício –o que também acaba lhe dando problemas.
Entre os muitos acertos, Manifest continua com alguns vícios que atrapalham a experiência de assistir aos episódios. Muitas das resoluções encontradas pelos personagens são quase ofensivas de tão simples e pouco críveis, mesmo se tratando de uma série que contempla o misticismo. Há maneiras de avançar em uma narrativa sem questionar a inteligência do público, e Rake parece não ter encontrado o equilíbrio necessário nesta primeira parte.
Estes vícios são caracterizados nos retornos de alguns vilões que pareciam já ter seus arcos encerrados em Manifest. Mesmo que alguns funcionem para o andamento da história e o descobrimento de respostas há muito aguardadas, a ação não diminui o constrangimento de ver como a narrativa chegou a um ponto específico.
Resgatada do além, Manifest consegue aproveitar a nova vida que lhe foi dada pela Netflix e entrega uma primeira parte da última temporada satisfatória. Caso consiga se livrar dos vícios negativos recorrentes, a atração tem tudo para entregar o final empolgante que os milhões de fãs merecem.
Manifest - 4ª temporada
Trailer oficial legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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