Divulgação/Netflix
Gravações relatam a vida de dor e glória da estrela do cinema clássico; a produção chegou ao streaming na última quarta (27)
Há todo um fascínio pela vida de pessoas famosas. Se tal pessoa morre em circunstâncias suspeitas, tal fascínio tende a ser ainda maior. Dessa maneira, o documentário O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas é a mais nova produção sobre a estrela de Hollywood, revisitando sua vida e lançando luz sobre o que poderia ter motivado a sua morte.
Logo no início do filme o jornalista Anthony Summer relata que decidiu descobrir a verdade sobre a trajetória de Marilyn, em 1982, quando a investigação sobre a morte dela foi reaberta. O trabalho que deveria durar em torno de 2 semanas se transformou em 3 anos de pesquisa e entrevistas. Diante da dificuldade de obter informações, o repórter decide recomeçar do zero e traçar uma linha do tempo investigativa desde os anos 1940 até a morte da atriz, em 1962.
Tal pesquisa tem como fruto inúmeros relatos de pessoas que conviveram com Monroe e mostram como o sucesso da atriz não cura as feridas de uma vida difícil.
Nos anos 1940, a jovem Norma Jean frequentava os locais da moda, em Los Angeles, em busca de visibilidade. Após alguns anos de contatos com a elite hollywoodiana, a morena, descrita pelas pessoas como generosa e agradável, começaria então a despontar e ficar mais próxima da persona conhecida mundialmente, a loira sensual e pueril de nome Marilyn.
Entre vários entrevistados, uma das principais, Gladys Baker, destaca a vida de infortúnios da estrela, fosse por seus anos passando de orfanatos em orfanatos, ou por sua tristeza constante, fruto das dificuldades e abusos sofridos ao longo da vida.
As cicatrizes dos sofrimentos vividos por Marilyn são uma constante nos depoimentos ouvidos. Ainda mais por parecer que nas últimas semanas de vida a instabilidade emocional dela estava cada vez maior.
O que fica claro após ouvir todos os relatos e percorrer o caminho da vida e morte da atriz e de que o mistério de Marilyn era a difícil relação que a musa tinha consigo.
A verdade sobre a morte de Marilyn Monroe parece ter evaporado no segundo em que a diva deu seu último suspiro. Por mais que tentem, nem Anthony, nem Emma Cooper, diretora da produção, chegam a alguma conclusão, sequer se aproximam de alguma resposta plausível da causa de seu óbito.
Apesar de assistirmos a uma produção que esmiúça a vida da Era de Ouro de Hollywood, levantando muitas informações sobre as relações entre artistas e produtores, relatando os assédios sofridos pelas mulheres que buscavam o estrelato, bem como o adoecimento mental de quem mergulhava nesse estilo de vida.
Infelizmente, o título da produção se propõe a mostrar certo ineditismo, mas na verdade apenas elucubra um pouco mais o que já sabemos, ou já ouvimos sobre todas as dúvidas em torno do que teria levado a diva à morte.
Entretanto, O Mistério de Marilyn não se pauta em teorias conspiratórias como a suspeita de que a atriz foi assassinada por ter um caso com um dos Kennedy. Por outro lado, não deixem um título mal escolhido os enganar, pois, o trabalho de Summer e Cooper está mais preocupado em reconstruir os últimos dias de vida da atriz, humanizando a mulher de vida glamourosa que não deixou de ser frágil, ou de se sentir solitária mesmo com todo o poder que adquiriu.
Em suma, uma cinebiografia que está além do que duas descrições dizem. Indicado tanto para fãs do ícone cinematográfico, quanto para aqueles que querem começar a conhecer a história da atriz e dos bastidores do cinema estadunidense.
Leva que tá doce:
Sempre é um deleite poder ver em cena uma musa tão carismática como Marilyn Monroe. Conseguir descolar de sua imagem de estrela a ideia de que ela era uma mulher tola é o grande valor desse documentário. Cada segundo assistido, entendendo as várias nuances da personalidade da diva é impagável.
Dois pelo preço de um:
Há 11 anos, era lançado no cinema uma cinebiografia, mesclada com ficção, sobre fatos que aconteceram e podem ter acontecido durante uma semana de gravações. Sete Dias com Marilyn se passa nos bastidores de O Príncipe Encantado. A atriz é interpretada por Michelle Williams. O filme está disponível no Prime Video.
Presta atenção, freguesia:
O olhar sensível tanto da produção quanto daqueles que conviveram com a musa dão um tom melancólico e, ao mesmo tempo, respeitoso à memória de Monroe, tirando-a de um altar de ser intocável e irreal e trazendo-a à realidade.
Yasmine Evaristo
Yasmine Evaristo é crítica de cinema associada à Abraccine e pesquisa o gênero fantástico e representação e representatividade de pessoas negras no cinema. Devota da santíssima trindade Tarkovski-Kubrick-Lynch, também é artista visual, desenhista e cursa graduação em letras.
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