FILMES E SÉRIES

Cena do filme Medusa

Divulgação

ANITA ROCHA DA SILVEIRA

Medusa: Diretora compara governo Bolsonaro com história de terror

Em entrevista à Tangerina, Anita Rocha da Silveira conta o que inspirou o filme Medusa e as semelhanças da ficção com a realidade

Giulianna Muneratto

Ao desenvolver o filme Medusa, Anita Rocha da Silveira sequer imaginava que a realidade de terror retratada nas telas poderia estar mais próxima do que imaginava. Para a diretora, a narrativa que segue um grupo religioso violento que, de dia adora a Deus e à noite ataca mulheres, acabou se tornando um registro atemporal dos tempos sombrios que o Brasil viveu nos últimos anos. 

Em Medusa, filme que estreou na última semana nos cinemas brasileiros, um grupo de jovens se envolve em atividades eclesiásticas durante o dia, mas no cair da noite, suas integrantes se revelam completamente agressivas, machucam e matam outras mulheres que não vivem a mesma fé e que desfrutam de liberdade sexual. 

“Minha primeira inspiração direta foi uma notícia que eu li sobre um grupo de jovens de mulheres saiu para bater em outra jovem mulher. Para esse grupo, era importante deixá-la dentro do que elas acreditavam ser feito, então elas cortaram a cara e o cabelo da moça, e eu fiquei bem chocada”, relembra Anita em entrevista à Tangerina

“Depois, eu pesquisei e encontrei justiças similares em outras cidades do Brasil e em outras cidades do mundo. Nesse caso, foi tão grave que a menina teve sequelas neurológicas depois que apanhou. Isso me fez recordar o mito da Medusa, que foi punida por Atena, a deusa virgem, por não ser mais virgem”, acrescentou.

A diretora também contou que uma vivência sua com outra mulher em ambiente de trabalho foi muito inspiradora para uma narrativa que escancara o machismo enraizado na sociedade. “Marcou muito, de modo negativo, uma empresa em que trabalhei, porque eu sofria assédio moral de uma mulher em uma posição bem superior. Aquilo me abalou demais, porque era um momento em que eu estava muito empolgada para começar a trabalhar com cinema, de estar em um set, e me deixou muito depressiva”, explicou. 

Apesar das motivações diretamente ligadas a casos reais, Anita ainda acreditava que a realidade retratada no filme era muito distópica para se tornar verdade. A diretora confessa, porém, que acabou se surpreendendo com tudo o que aconteceu quando o Brasil estava sendo governado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Ela também comenta a ascensão de grupos machistas extremistas nos últimos tempos. 

“Para esse povo, o prazer, a cumplicidade e o carinho são sempre entre homens, e as mulheres são meras coadjuvantes. As mulheres são vistas por eles como um objeto para procriação, porque Deus mandou e a igreja mandou”, acrescenta.

“Para mim, é um alívio o filme estar sendo lançado agora, mas ainda assim precisamos ficar atentas a tudo o que está acontecendo. O conservadorismo de extrema-direita ainda está nos rondando muito, e é importante abrir essa conversa, para todos os lados.”

Anita reflete sobre o lado positivo da igreja, que é um meio de combate à solidão no mundo moderno e que acolhe quando o Estado falha. Mas ela atenta para a importância de não se fechar apenas naquele mundinho. “Temos que entender o que leva a isso, nos colocar no lugar do outro para compreender”, aponta.

Para ela, agora é um momento em é possível assistir ao filme de maneira até mais relaxada, já que o Brasil está seguindo por um caminho diferente. “Inicialmente, a intenção era que o filme fosse um futuro mais distópico e distante, mas calhou de, sem querer, a gente viver essa bizarrice no caminho. Virou um registro muito importante e atemporal”, conclui. 

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QUEM FEZ

Giulianna Muneratto

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.

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