Susan Lorincz (Foto: Divulgação/Netflix)
Documentário sobre assassinato nos Estados Unidos é um dos conteúdos mais vistos do serviço de streaming no Brasil nesta semana
O documentário A Vizinha Perfeita, da Netflix, examina a trágica morte de Ajike “AJ” Shantrell Owens, uma mãe negra de quatro filhos que foi baleada e morta pela sua vizinha branca, Susan Lorincz, em Ocala, Flórida, em 2 de junho de 2023. O caso se desenrolou em uma comunidade que, de outra forma, era unida e marcada por apoio mútuo.
A tensão, no entanto, vinha se acumulando há mais de dois anos devido à vizinha, Susan Lorincz, que se sentia incomodada com as crianças da vizinhança, incluindo os filhos de Owens, brincando e fazendo barulho em um terreno baldio adjacente à sua casa alugada.
Ajike Owens é descrita como uma mãe dedicada, que trabalhava como gerente de um McDonald’s na Flórida e gostava de jogar futebol com seus filhos e outras crianças.
Susan era considerada uma pessoa isolada na comunidade e frequentemente chamava a polícia, por mais de dois anos, para reclamar das crianças que, segundo ela, estavam em sua propriedade ou fazendo muito barulho. Em pelo menos seis incidentes, os policiais de Marion County responderam a disputas entre as duas mulheres.
Na noite do tiroteio, Owens foi até a porta de Lorincz em busca de respostas, após a vizinha reclamona supostamente ter jogado patins em um dos filhos dela e feito outras ameaças.
Susan ligou para o 911 (telefone de emergência nos Estados Unidos), alegando que Owens estava tentando arrombar sua porta e ameaçando sua vida. Apenas dois minutos depois, ela ligou novamente para relatar que havia atirado em Owens através da porta. Apesar dos esforços de emergência, Ajike Owens foi declarada morta em um hospital.
Ajike “AJ” Shantrell Owens recebendo homenagens
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A Vizinha Perfeita não é um documentário típico, pois é composto quase inteiramente por filmagens institucionais e privadas. O filme utiliza principalmente imagens de câmeras corporais da polícia (bodycam), imagens de câmeras de segurança, vídeos de celulares e gravações de chamadas para o 911. O material foi obtido por meio de um pedido da Lei de Acesso à Informação, feito pelos advogados da mãe de Owens, Pamela Dias.
A diretora Geeta Gandbhir optou por essa abordagem, evitando entrevistas tradicionais e recriações dramáticas, para que o público pudesse se sentir “imerso na comunidade” e para que não houvesse dúvidas sobre a autenticidade dos eventos.
A cineasta também expressou o desejo de subverter o uso tradicional das filmagens de bodycam, que muitas vezes é visto como uma ferramenta de vigilância e criminalização contra pessoas negras e vulneráveis, usando-o para humanizar a comunidade. O documentário não mostra o momento exato do tiro, mas reconstrói a noite usando gravações de áudio de câmeras de campainha e chamadas para o 911.
Após o tiroteio, Susan Lorincz alegou ter agido em legítima defesa, invocando a controversa lei da Flórida “Stand Your Ground” (Defenda Sua Posição). Esta lei permite o uso de força letal se um indivíduo sentir que sua vida está em perigo, mesmo que pudesse recuar para um local seguro.
Devido à invocação dessa lei, a polícia demorou quatro dias para prender Lorincz, a fim de investigar se o uso de força letal era justificável. A investigação concluiu que as ações não eram justificáveis sob a lei da Flórida. Ela foi presa em 6 de junho de 2023 e acusada de homicídio culposo com arma de fogo, negligência culposa, agressão e duas acusações de assalto.
Susan foi condenada por homicídio culposo em agosto de 2024. Em novembro do ano passado, ela foi sentenciada a 25 anos de prisão. O documentário Netflix termina com essa condenação, embora uma sequência de julgamento de quatro dias tenha sido incorporada em apenas dois minutos durante os créditos finais do filme.
Além da condenação criminal, a família de Owens, em julho de 2025, entrou com uma ação civil por homicídio culposo contra Lorincz e Charles Gabbard, o dono da casa onde ocorreu o tiroteio, buscando pelo menos US$ 50 mil (R$ 270 mil) em danos. Em honra a Ajike Owens, foi criado o Fundo Standing in the Gap, com o objetivo de apoiar famílias que sofrem perdas e advogar pela revogação da lei “Stand Your Ground” da Flórida.
Vinícius Andrade
Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local. E-mail: vinicius@tangerina.news
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