Reprodução/Universal Pictures
Indicado a quatro Oscars, Ethan Hawke interpreta o vilão Sequestrador no longa dirigido por Scott Derrickson; leia entrevista
Um dos principais títulos do ano, O Telefone Preto (2022) traz Ethan Hawke em papel quase inédito na carreira. Mais conhecido por viver protagonistas e personagens dramáticos, o ator poucas vezes deu vida a um vilão tão aterrorizante quanto o do longa de Scott Derrickson (Doutor Estranho).
Na pele do “bicho-papão” intitulado apenas como Sequestrador, Hawke sequestrou e matou crianças durante vários anos, tornando-se quase uma assombração para a população de uma comunidade. Sua atuação marcante foi alvo de elogios por parte do público e crítica especializada.
Embora tenha vivido um vilão de destaque nas telonas, o ator de 51 anos é “gente como a gente” fora da ficção. Hawke alimenta sonhos e desejos, mas também sofre com receios como todos os outros. Seu maior medo da vida, no entanto, não é um sequestrador ou um fantasma maligno. Pelo contrário: é algo muito simples, mas com capacidade de afetar negativamente a existência de muitos.
“Pessoas que não escutam os outros. Acho que esses dois últimos anos foram difíceis para todo mundo enquanto tentávamos descobrir como navegar entre nossos medos da pandemia e de nós mesmos”, contou Hawke em entrevista a qual a Tangerina teve acesso com exclusividade. “Há tanta coisa de que temos medo o tempo todo, e acho que as artes podem ajudar a encontrar um ponto de encontro.”
Na trama do longa, o jovem Finney (Mason Thames) se torna a mais nova vítima do Sequestrador, mas é o primeiro a encarar seus próprios medos para enfrentá-lo. Na visão do ator, um filme como O Telefone Preto é capaz de ajudar as pessoas a lidar com receios e inseguranças.
“O medo é uma grande parte de nossas vidas diárias, e muitas vezes simplesmente não sabemos o que fazer com ele. Então, colocá-lo no filme ou no palco tem valor porque, em última análise, nos ensina a como lidar com isso”, acrescentou.
Ethan Hawke com a máscara macabra do Sequestrador
Divulgação/Universal Pictures
O Telefone Preto marca a segunda parceria entre Ethan Hawke e Scott Derrickson. Os dois trabalharam juntos pela primeira vez há 10 anos, no elogiadíssimo longa de terror A Entidade (2012). Ao analisar sua experiência ao lado do cineasta, o ator confessou ver o colega mais maduro do que em relação ao primeiro trabalho.
“Acho que este filme é o mais maduro de Scott Derrickson, até agora. Eu amo diretores que fazem os personagens se apresentarem, e ele sabe como fazer a história, os personagens e o cinema se tornarem uma coisa só. Quando você vê um filme de gênero como esse que também parece pessoal, você percebe que há um artista tentando criar algo lá fora. E eu gosto de filmes que te convidam assim.”
“Eu realmente gosto de A Entidade, mesmo que seja frio e escuro, mas há uma elegância e calor em O Telefone Preto que eu não tinha visto em Scott antes. Por isso, acho que ele amadureceu”, completou.
Para Hawke, o sucesso de Derrickson no gênero de terror se deve ao conhecimento e à paixão que o diretor coloca em seus projetos. Segundo o ator, o cineasta entende como ninguém a “geometria” de um longa de horror.
“Ele apenas sabe o que está fazendo e entende a geometria e a matemática do gênero. Por exemplo, algumas pessoas sabem como fazer comédia e outras não. Então, como ator, você pode ser engraçado pra caramba no set, mas se a edição não acertar o timing, está perdido. É a mesma coisa com filmes aterrorizantes. Existe uma ciência para o que desperta o medo em nós e como usá-lo efetivamente para contar uma história”, destacou o artista.
Sobre o Sequestrador de O Telefone Preto, Hawke confessou que tentou interpretar o personagem como um “animal machucado”. Segundo o ator, o vilão tornou-se alguém maligno após sofrer muito no passado e passar a vida carregando estes traumas.
“Ele é obviamente uma pessoa extremamente machucada. Em um filme sobre pais transmitindo seus tormentos e como evitá-los, de várias maneiras, o filme é sobre como uma geração tenta acabar com o amor que está por baixo. Então, achei mais fácil retratá-lo como um animal ferido que poderia fazer o que quisesse porque o mundo, aos seus olhos, era tão cruel com ele.”
“Nesse sentido, acho que ele sente um senso de justiça ao infligir dor aos outros por causa do que foi feito a ele. Geralmente, as pessoas que mentem muito são pessoas que já ouviram muitas mentiras contadas a elas. Então, elas não se sentem culpadas por isso, porque acreditam que é justo”, finalizou.
O Telefone Preto está em exibição nos cinemas do Brasil. Ao todo, o filme já arrecadou mais de US$ 141 milhões (R$ 730 milhões) na bilheteria mundial.
O Telefone Preto
Trailer legendado
André Zuliani
Repórter de séries e filmes. Viciado em cultura pop, acompanha o mundo do entretenimento desde 2013. Tem pós-graduação em Jornalismo Digital pela ESPM e foi redator do Omelete.
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