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De frases famosas a cenas inesquecíveis, o filme de Francis Ford Coppola deixou sua marca para sempre na história do cinema; mas nem tudo saiu como o esperado
Lançado no circuito comercial americano no dia 24 de março de 1972, a estreia de O Poderoso Chefão não foi das mais animadoras. Porém, com o passar das semanas, o filme —adaptação de um best-seller bem famoso na época— que teria custado à Paramount cerca de US$ 6,2 milhões, fechou seu primeiro mês nos cinemas com US$ 26 milhões, tornando-se a maior bilheteria daquele ano. Mas seu real valor não se mede por dólares.
Considerado um dos melhores filmes americanos de todos os tempos pelo American Film Institute, a obra-prima do então diretor iniciante Francis Ford Coppola apresenta Marlon Brando em, talvez, seu papel mais memorável (e vencedor do Oscar) como o patriarca da família Corleone.
O Poderoso Chefão é um retrato violento e arrepiante da luta de uma família siciliana para permanecer no poder nos EUA do pós-guerra, marcado pela corrupção e por trás de um ideal de fachada do “sonho americano”. Uma obra que influencia filmes de diversas nacionalidades –sejam de que gênero for– até hoje.
Coppola começa sua lendária trilogia equilibrando magistralmente a história da vida familiar dos Corleone e o lado sombrio de seus negócios, o crime organizado. Um compêndio da história de construção da potência econômica e cultural que conhecemos hoje, com atuações simplesmente magistrais de Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e companhia. Um clássico que recebeu dez indicações ao Oscar e ganhou três, incluindo a de melhor filme, que completa 50 anos nesta quarta-feira (23).
Para comemorar este aniversário mais do que especial, nós aqui da Tangerina resolvemos fazer uma homenagem ao nosso estilo, com algumas curiosidades deliciosas sobre os bastidores do filme e do quanto seu legado reverbera 50 anos após seu lançamento.
*Atualmente você pode assistir a O Poderoso Chefão no HBO Max, Now e Oldflix. E para alugar na Apple TV, Claro Vídeo e Microsoft Store.
De animações a comédias românticas, O Poderoso Chefão deixou sua marca em cenas e falas que fazem referência ao filme de Francis Ford Coppola. Claro que algumas são óbvias, como em Família Soprano (1999 – 2007), uma série que retrata outra família mafiosa, só que na Nova Jersey da passagem dos anos 1990 para 2000. Mas há easter eggs de O Poderoso Chefão por toda a parte.
Na série Lost (2004 – 2010), por exemplo. O personagem John Locke faz uma imitação de Marlon Brando com Vito Corleone logo no primeiro episódio. O ator Terry O’Quinn, que interpretou o papel de Locke tinha até uma certa semelhança física com Brando.
John Locke dá uma de Marlon Brando no primeiro episódio de Lost
Nem as comédias românticas escaparam das garras de O Poderoso Chefão. Em Mens@gem para Você (1998), a diretora Nora Ephron brinca com a importância que os homens dão ao filme de Coppola, algo que não é compreendido pelas mulheres. Em uma cena específica, Tom Hanks faz uma referência ao clássico que a personagem de Meg Ryan não entende. Ao ser questionado por ela sobre o que os homens veem em O Poderoso Chefão, ele conta que toda a sabedoria do mundo está nas frases marcantes do filme, como “deixa a arma, pegue o cannoli”.
Tom Hanks e Meg Ryan discutem O Poderoso Chefão em Mens@gem para Você
Se você ainda duvida que filmes de qualquer gênero façam reverência a O Poderoso Chefão, então, dá uma olhada nisso: George Lucas era amigo pessoal de Coppola até antes de filmar seu primeiro longa, THX 1138 (1971). Ele admirava tanto o trabalho do colega, a quem tratava como um irmão mais velho, que em Star Wars, Episódio VI: O Retorno do Jedi (1983), ele deu uma ideia ao roteirista Lawrence Kasdan para a cena em que a Princesa Leia (Carrie Fisher) mata o gângster alienígena Jabba the Hutt. A cena faz uma referência direta ao assassinato do mafioso Luca Brasi, um momento marcante de O Poderoso Chefão.
Cena da morte de Jabba tem tudo a ver com o assassinato de Luca Brasi
Estes são apenas alguns dos milhares de exemplos espalhados em toda a cultura pop, como a brincadeira de Os Simpsons com a cena da morte de Sonny (James Caan), em que Bart é “metralhado” por bolas de neve; a famosa cena final reencenada em Seinfeld, Al Pacino repetindo uma fala de seu Michael Corleone em Treze Homens e um Novo Segredo (2007)… mas uma, em especial, foi além.
No episódio 27 da quarta temporada de Uma Família da Pesada (1999 – ), Peter Griffin confessa à sua família que ele não gostava de O Poderoso Chefão, dando início a uma discussão acalorada com todos, que claro, consideravam a obra um filme obrigatório. É cena é simplesmente hilária.
Peter Griffin confessa a sua família que não gosta de O Poderoso Chefão
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Separamos aqui algumas das histórias mais legais sobre os bastidores de O Poderoso Chefão. Olha só:
James Caan (à esq.), Marlon Brando, Francis Ford Coppola, Al Pacino e John Cazale nos bastidores de O Poderoso Chefão
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Francis Ford Coppola –que conseguiu o emprego de diretor de O Poderoso Chefão por causa de seu filme anterior, Caminhos Mal Traçados– não foi o primeiro cineasta que a Paramout tinha em mente. Elia Kazan, Arthur Penn, Richard Brooks e até o grego Costa-Gavras recusaram o trabalho. E depois que as filmagens começaram, os executivos do estúdio não gostaram do que viram e passaram a ameaçar demitir Coppola constantemente. Ele só foi totalmente aceito pela chefia da Paramount depois de mostrar a eles a cena em que Michael Corleone (Al Pacino) mata Sollozzo (Al Lettieri) e McCluskey (Sterling Hayden). Os executivos do estúdio amaram o resultado.
Quando Coppola mencionou Marlon Brando como uma possibilidade para o papel de Vito Corleone, o chefe da Paramout, Charles Bludorn, não gostou nada da ideia. O estúdio queria Lawrence Olivier. Até que eles cederam, mas com a condição de que Brando fizesse um teste para o papel. É claro que uma estrela como ele jamais toparia isso, mas Coppola teve uma ideia. Ele convidou o ator para um “teste de maquiagem”, que, na realidade, era o tal teste de tela. Quando o diretor mostrou a filmagem aos executivos da Paramount, todos ficaram tão impressionados com a performance de Brando, que passaram a exigi-lo no papel.
Al Pacino, como Michael Corleone, era um desconhecido para grande parte do público
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O estúdio queria astros como Robert Redford ou Ryan O’Neal para o papel de Michael Corleone, mas Coppola sempre quis Al Pacino. Na época, Pacino era um ator reconhecido no teatro e tinha feito apenas um filme na carreira. Entre os atores que fizeram o teste estavam Martin Sheen e James Caan (que viria a interpretar Sonny Corleone). Aliás, Robert De Niro queria muito o papel de Sonny. Ele fez o teste, mas não passou. Curiosamente, o ator retornaria como Vito jovem em O Poderoso Chefão II, o que lhe rendeu um Oscar de melhor ator coadjuvante. O primeiro de sua carreira.
Lenny Montana, que interpretou Luca Brasi, era um lutador profissional antes de se tornar ator. Ele estava tão nervoso ao contracenar com uma lenda como Brando que não relaxou em uma tomada sequer. Com uma agenda apertada, Coppola não tinha tempo de refazer as cenas e resolveu improvisar. Adicionou uma nova cena de Brasi ensaiando suas falas antes de se encontrar com Vito Corleone. Assim, as tomadas ruins de Montana funcionaram perfeitamente dando a ilusão de que seu personagem, Brasi, estava muito nervoso em falar com o chefe da máfia.
Marlon Brando e o seu novo amiguinho em cena em O Poderoso Chefão
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Durante suas caminhadas diárias pelo set de filmagens de O Poderoso Chefão, Coppola costumava encontrar um gato na rua. No dia de filmar as cenas do escritório de Vito Corleone, o diretor teve a ideia de pegar o tal gato e disse a Brando para improvisar com ele. O gato amou tanto os carinhos do ator que ficou deitado em seu colo durante todas as tomadas daquele dia. Coppola amou o resultado e o gato ganhou um papel no filme.
A famosa e infame cena da cabeça de cavalo na cama do produtor de cinema que não queria dar um papel a um protegido de Vito Corleone não era um adereço. Ao saber que a produção do filme estava atrás de uma cabeça de cavalo, uma empresa de alimentos para cães providenciou uma de verdade! De falso naquela cena, só o sangue. Mas a cabeça do bicho era bem real.
Richard Castellano (à dir.) como Clemenza na célebre cena do cannoli
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O Poderoso Chefão é uma fonte quase inesgotável de frases inesquecíveis. Uma das mais famosas é “deixa a arma, pegue o cannoli”. Só que, no roteiro original, a frase que era para ser dita por Clemenza após um assassinato era apenas “deixa a arma”. Porém, o ator Richard Castellano resolveu improvisar, e Coppola adorou o resultado. O ator se inspirou depois que viu que o diretor tinha acrescentado uma linha no roteiro em que a esposa de Clemenza pede que ele compre um cannoli para a sobremesa do jantar antes dele sair para fazer seu “trabalho”.
Rafael Argemon
Rafael Argemon é criador do perfil O Cara da Locadora no Instagram e também assina uma coluna com o mesmo nome na Tangerina, onde indica as pérolas escondidas nas plataformas de streaming. Cinéfilo e maratonador de séries profissional, passou por Estadão, R7, UOL, Time Out e Huffpost. Apaixonado por pugs, sagu e jogos do Mario.
Ver mais conteúdos de Rafael ArgemonTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
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