Foto: Divulgação/Netflix
Este é considerado o caso mais longo e complexo de investigação criminal na Itália
O Monstro de Florença, título da série da Netflix mais vista no Brasil nesta quinta-feira (23), é o apelido atribuído a um serial killer que aterrorizou a zona rural nos arredores de Florença, Itália, entre 1968 e 1985. O nome foi cunhado por Mario Spezi, um ex-jornalista policial do jornal italiano La Nazione.
O criminoso teria sido o responsável pela morte de oito casais, totalizando 16 vítimas. Este é considerado o caso mais longo e complexo de investigação criminal na Itália, envolvendo o primeiro e mais brutal assassino em série na história moderna do país.
Os assassinatos do Monstro de Florença apresentam vários detalhes em comum: ele visava casais envolvidos em atos amorosos, atacando em noites sem lua, geralmente entre 22h e meia-noite. A arma utilizada em todos os duplos homicídios era sempre a mesma: uma pistola automática Beretta calibre .22. Essa arma possuía um percutor defeituoso que deixava uma marca inconfundível na borda de cada cartucho Winchester de cobre deflagrado. A arma, no entanto, nunca foi recuperada.
O mistério que envolve o Monstro de Florença começa com o primeiro crime conhecido, em agosto de 1968, quando Antonio Lo Bianco (29 anos) e Barbara Locci (32) foram mortos a tiros perto de Florença. O filho de Barbara, Natalino, de 6 anos, estava dormindo no banco de trás do carro no momento do ataque e desceu do veículo, caminhando sozinho por uma estrada escura.
No entanto, o serial killer ganhou notoriedade e aterrorizou a população também devido às mutilações brutais infligidas às vítimas femininas. Em diversas ocasiões, o assassino removia órgãos sexuais das vítimas. As mutilações eram tão precisas que o médico legista chegou a especular que o criminoso poderia ser um cirurgião ou um açougueiro.
A primeira vez que a mutilação ocorreu foi em junho de 1981, quando Giovanni Foggi (30) e Carmela De Nuccio (21) foram mortos. Os ataques continuaram até setembro de 1985, quando o casal francês Jean Michel Kraveichvili (25) e Nadine Mauriot (36) foi morto enquanto acampava. Após este último crime, a procuradora que trabalhava no caso recebeu um envelope contendo uma carta (feita com letras recortadas de revistas) e o mamilo do seio esquerdo de Nadine Mauriot.
Francesca Olia interpreta Barbara Locci, a primeira mulher morta pelo serial killer
(Foto: Divulgação/Netflix)
Apesar de a investigação ter envolvido várias prisões e condenações, o caso permanece oficialmente sem solução, e dúvidas persistentes pairam sobre a identidade do assassino.
A incerteza começou cedo, ligada ao primeiro crime de 1968. Stefano Mele, marido da vítima Barbara Locci, foi preso e condenado a 14 anos de prisão em 1970, alegando ter agido por ciúmes. No entanto, quando os investigadores ligaram a arma de fogo usada em 1968 aos assassinatos posteriores (1974, 1981, 1982), percebeu-se que Mele estava na prisão e não poderia ter cometido os crimes subsequentes.
Este ponto levou à primeira grande teoria de que o assassino estava ligado ao círculo sardo de Mele e Locci.
Muitos autores, jornalistas e investigadores expressaram dúvidas sobre essas condenações, acreditando que o verdadeiro Monstro de Florença nunca foi capturado. O caso ainda está sendo investigado. De acordo com a CBS News, em 2024, novas análises de DNA estavam sendo conduzidas, e os promotores continuam a examinar as ligações dos irmãos Vinci com os crimes.
O Monstro de Florença, dirigida por Stefano Sollima, baseia-se na história verídica e em documentos processuais e testemunhos, mas foca num período específico e em uma teoria particular. A série italiana da Netflix é um thriller policial de quatro episódios que segue a investigação de um caso ainda em aberto.
Em vez de se concentrar nos eventos mais amplamente divulgados envolvendo Pacciani (a fase final da história), a série O Monstro de Florença opta por regressar às origens, abordando a “pista sarda”. A narrativa explora essa teoria que sugere que o notório serial killer poderia estar ligado à família Mele e aos Vinci, imigrantes sardos na Toscana.
A trama começa em 1982, após o terceiro duplo homicídio, quando a promotora distrital Silvia Della Monica (a primeira a suspeitar que o assassino dos anos 1980 já havia matado em 1968) chega ao local do crime. A promotora e sua equipe reabrem o caso de 1968, ligando a Beretta usada nas vítimas mais recentes ao crime pelo qual Stefano Mele já estava cumprindo pena.
A investigação busca desvendar a identidade do assassino de Barbara Locci e entender por que Mele teria assumido a culpa para proteger essa identidade, desvendando uma história familiar tóxica de mentiras, abuso e violência.
A série Netflix é estruturada com planos temporais desalinhados, onde cada episódio oferece um novo ponto de vista de um possível “monstro”. O objetivo de Sollima não é oferecer uma solução, mas sim ilustrar a impossibilidade de resolver o caso e expor o contexto da Itália rural da época, marcado pelo patriarcado e pela opressão das mulheres, como Barbara Locci, que ousou quebrar as regras sociais.
Vinícius Andrade
Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local. E-mail: vinicius@tangerina.news
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