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O elogiado Rio Doce estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas do Brasil; leia a crítica completa da Tangerina sobre o filme nacional
Nesta quinta-feira (20), estreia nos cinemas nacionais o filme Rio Doce. Dirigido por Fellipe Fernandes, a obra transita por temas importantes e de discussão necessária, como masculinidade, paternidade, racismo e luta de classes. De maneira sutil e sensível, consegue ir além do óbvio com uma narrativa muito fluida.
O longa-metragem conta a história de Tiago (Okado do Canal), que mora em Rio Doce, periferia de Olinda (PE), e leva uma vida difícil. Com uma filha pequena, ele só descobre a identidade do próprio pai, ausente durante toda a sua vida, quando é procurado por uma de suas meias-irmãs. Também fica sabendo a maneira como o homem morreu. A partir dessa revelação, sua vida se transforma, e ele passa a questionar sua própria identidade.
Quase batendo nos 30 anos, ele tem uma situação bem desfavorável: falta-lhe dinheiro, não consegue pagar as contas, está lotado de dívidas e simplesmente vive um momento de apatia. Além disso, uma terrível dor nas costas o acompanha durante toda sua trajetória.
A dor é uma metáfora para uma bagagem pesada que precisa carregar totalmente sozinho. O homem, negro e pobre, tem como fator determinante da vida o lugar de onde vem. Sua complexidade, porém, é gigante: apesar das ausências, Tiago tem uma ligação com a arte e muito para dizer, mesmo sem falar.
A narrativa é costurada com momentos do passado, que mostram como o protagonista enrijeceu ao longo do tempo. Parece, porém, uma maneira de tentar sobreviver no meio em que vive, com tantas violências simbólicas, diretas ou indiretas, que permeiam sua trajetória.
Tudo, porém, é muito sensível e sutil em Rio Doce. Fellipe Fernandes evita romantizações –na tela, tudo é mostrado de maneira mais real, verossímil. Desde as relações de afeto complicadas até os segredos revelados, cada elemento é essencial para o tom do drama construído em cima das complexidades de Tiago.
O racismo está nos olhares, nas falas, nas condições –de maneira quase que velada, mas tão perceptível para quem vive isso na pele todos os dias. O fardo está representado nas dores, assim como a solidão.
Okado do Canal merece um destaque importante, pois sua representação de cada nuance de Tiago é bem feita até nos mínimos detalhes. Quando o protagonista vai perdendo o brilho, não se vê mais esperançoso e é engolido por sua própria realidade, todas as expressões estão no ator.
Quando ele aparentemente faz as pazes consigo mesmo e com seu passado, uma sensação de conforto fecha essa história brilhantemente construída, ainda que há muito chão para percorrer na vida deste homem.
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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