You expõe estratégia equivocada da Netflix no mundo das séries

A Netflix retoma nesta quinta-feira (24) uma de suas produções mais populares dos últimos anos. You estreia sua quinta e última temporada prometendo um novo recomeço para Joe Goldberg (Penn Badgley), mais uma vez em Nova York. Mas, mesmo com a tentativa de renovação, a série já tinha dado sinais de desgaste. A história, que começou como um thriller psicológico instigante, virou um jogo repetitivo de gato e rato. E o problema vai além do roteiro: os novos episódios são um sintoma das escolhas equivocadas da plataforma.

Depois do impacto da personagem Love Quinn (Victoria Pedretti) e o final da terceira temporada, a série poderia — e deveria — ter encerrado sua trajetória. A história já havia chegado ao clímax emocional e narrativo. Tudo o que veio depois parece apenas esticar a trama em busca de audiência, sem um propósito criativo claro. O resultado são temporadas inconsistentes, com personagens menos marcantes e tramas cada vez mais absurdas.

O desgaste de You ajuda a ilustrar um problema mais profundo da Netflix: a dificuldade em apostar nas séries certas. Nesta semana, Mindhunter (2017-2019) voltou a circular nas redes sociais após uma antiga entrevista de David Fincher viralizar. “Tenho muito orgulho das duas primeiras temporadas. Mas era uma série particularmente cara e, aos olhos da Netflix, não atraiu audiência suficiente para justificar o investimento”, disse o diretor ao Le Journal du Dimanche.

You expõe hipocrisia na Netflix

A fala escancara a contradição: a plataforma investe milhões em produções que já demonstraram esgotamento criativo, mas deixa de lado projetos elogiados pela crítica e com potencial de legado. Mindhunter, mesmo com sua estética densa e narrativa complexa, conquistou uma base fiel de fãs e ajudou a redefinir o gênero true crime na ficção.

Enquanto isso, You segue o caminho oposto: a audiência flutua, a repercussão diminui, mas o algoritmo ainda segura o projeto. É como se o medo de perder relevância impedisse a Netflix de encerrar histórias no tempo certo. O problema é que isso compromete a qualidade do catálogo e mina a confiança de quem busca boas séries no streaming.

Se quiser manter sua posição no topo, a Netflix precisa repensar suas prioridades. Investir em projetos com visão artística clara, como Mindhunter, pode não render explosões imediatas de audiência, mas constrói um legado. E, no mundo competitivo do streaming, esse tipo de confiança pode valer mais do que qualquer tendência passageira.