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Jogos Vorazes e games

Arte / Tangerina

História

De Jogos Vorazes a Free Fire: Como o battle royale dominou os games

Depois de mudar o cinema, o longa ajudou a criar, sem querer, uma das maiores tendências dos games. Traçamos uma linha do tempo que liga o longa a jogos como Free Fire, Fortnite e PUBG

Bruno Silva
Bruno Silva

Jogos Vorazes pode nunca ter brilhado por conta própria no mundo dos games. No entanto, o filme protagonizado por Jennifer Lawrence ajudou a criar, mesmo que sem querer, uma tendência de jogos que perdura até hoje: a do battle royale

Esse gênero, em que dezenas ou centenas de jogadores brigam até restar apenas um sobrevivente, é o mais influente no mercado de games nos últimos cinco anos e não dá sinais de que vai parar. Dele, surgiram alguns dos jogos mais populares do Brasil e do mundo nos últimos cinco anos, como Free Fire, Fortnite, Apex Legends e PUBG.

Em celebração aos dez anos da estreia de Jogos Vorazes, a Tangerina traça uma improvável linha do tempo que liga o filme a um dos maiores fenômenos recentes de popularidade no mundo dos games.

Origens do battle royale

Antes de começar, precisamos ressaltar que o nome battle royale não nasceu em Jogos Vorazes. Ele surgiu em 1999, com o livro homônimo do autor japonês Koushun Takami. A história se passa em um futuro distópico no qual o governo do Japão obriga alunos do colegial são obrigados a viajar até uma ilha deserta e matar uns aos outros durante três dias, até que apenas um sobreviva.

Um ano depois, o livro foi adaptado para o cinema Dirigido por Kinji Fukasaku, Battle Royale —traduzido no Brasil como Batalha Real— se transformou em um dos longas mais influentes do cinema japonês nos anos 2000. Muito embora as semelhanças de Battle Royale e Jogos Vorazes sejam enormes, não há nenhuma influência da obra de Takami na saga escrita por Suzanne Collins.

Jennifer Lawrence em cena de Jogos Vorazes

Jennifer Lawrence no filme Jogos Vorazes

Divulgação/Lionsgate

Em entrevista ao New York Times, a autora afirmou que ouviu falar do livro pela primeira vez após entregar o manuscrito do primeiro livro, e cita passagens da mitologia grega e uma epifania que teve ao ver cenas da Guerra do Iraque (2003-2011) intercaladas com reality shows na TV estadunidense.

De qualquer forma, o livro saiu em 2008 nos Estados Unidos e já havia vendido mais de 36 milhões de cópias antes mesmo da adaptação chegar aos cinemas, em 2012. Quando o filme protagonizado por Jennifer Lawrence estreou, a história se tornou um fenômeno global.

A migração para os games

A estreia de Jogos Vorazes teve seu primeiro impacto em um jogo que poucos associam a battle royale hoje em dia: Minecraft.

Em Minecraft, jogadores podem construir qualquer tipo de cenário com blocos e jogar com outras pessoas. Com o sucesso do filme, era questão de tempo até que alguém tentasse replicar Jogos Vorazes dentro do game, e foi exatamente o que Dennis Vareide fez.

Ao lado de outros membros da comunidade do game, ele lançou The Survival Games, um mapa inspirado no longa, das regras à Cornucopia, o círculo central da ilha onde os participantes iniciam os jogos vorazes. “Assisti ao filme logo na estreia e vi que o conceito funcionaria em Minecraft”, contou o desenvolvedor ao site Eurogamer.

Imagem de Minecraft Survival Games

Clipe de The Survival Games

Mod de Minecraft inspirado em Jogos Vorazes já trazia battle royale aos games em 2012

A explosão de Jogos Vorazes e a onipresença de Minecraft no YouTube fez com que o modo acabasse se tornando um dos mais populares na plataforma de vídeos. Torneios disputados por youtubers como CaptainSparklez têm vídeos com mais de 11 milhões de visualizações.

Um ano depois, a febre das disputas de sobrevivência de Jogos Vorazes e Battle Royale despertavam a criatividade do irlandês Brendan Greene, o PlayerUnknown. O então morador de Varginha (MG) passava os dias jogando games de tiro até se interessar por DayZ, um mod do jogo ARMA 2 no qual os jogadores precisam sobreviver a um apocalipse zumbi.

Sem conhecimento de produção de jogos, Greene começou a produzir um mod de DayZ no qual os zumbis saem de cena e cem jogadores caem em uma ilha sem equipamentos. A partida só acaba quando uma pessoa sobrevive. DayZ: Battle Royale foi evoluindo dentro de ARMA 2 e sua continuação, ARMA 3, até se transformar em um jogo com vida própria: PlayerUnknown’s Battlegrounds, ou PUBG.

Cena de PUBG

Cena de uma partida de PUBG na época do lançamento, em 2017: jogo se tornou febre

Divulgação/PUBG Corp

Tal qual Battle Royale —o filme e livro japoneses— e Jogos Vorazes, não há nenhum elo direto que ligue PUBG aos mods de sobrevivência de Minecraft. O próprio Greene diz ter sido mais influenciado pela obra de Kitani do que pelo blockbuster hollywoodiano. 

No entanto, Jogos Vorazes influenciou, ainda que indiretamente, o desenvolvimento do jogo que viria a se tornar PUBG. Em entrevista ao USGamer, Greene afirmou que a ideia inicial do seu battle royale consistia em colocar todos os jogadores em uma arena no centro de uma ilha. 

No entanto, o medo de acusações legais de plágio do filme e um incentivo para que os jogadores sobrevivessem por mais tempo fez nascer o avião do qual os jogadores pulam no início da partida, um elemento em comum a todos os jogos do gênero.

O nascimento do fenômeno

Em março de 2017, PUBG saiu em versão beta para PC e começou a fazer sucesso da mesma forma que Minecraft: entre influenciadores, streamers e comunidades de jogos de tiro em plataformas como o YouTube e a Twitch. Lançado em versão paga, o jogo arrecadou US$ 11 milhões em apenas três dias. No fim do ano, quando o jogo saiu em sua primeira versão completa, mais de 30 milhões de cópias já haviam sido vendidas e cerca de 3 milhões de pessoas jogavam o game diariamente.

O sucesso de PUBG foi avassalador, mas acabou eclipsado por um crescimento ainda maior. Em setembro, poucos meses após o sucesso do game de Greene, a Epic Games adicionou um modo battle royale a Fortnite, um jogo de tiro em terceira pessoa com gráficos cartunescos que patinava em vendas até então.

O pulo do gato em relação a PUBG foi a estratégia comercial: enquanto seu principal concorrente era pago, Fortnite Battle Royale era gratuito. A Epic Games acabou surfando na onda do rival, e chegou a 10 milhões de jogadores já nas duas primeiras semanas depois do lançamento.

Imagem promocional de Fortnite

Já dizia Highlander: só pode haver um! Essa é a regra de ouro em Fortnite

Divulgação/Epic Games

A partir daí, o caminho estava livre para que PUBG e Fortnite dominassem o mundo. O sucesso inspirou modos battle royale em praticamente todos os principais games de ação do mercado, como Call of Duty, Battlefield, Counter-Strike, GTA e se espalhou até mesmo para títulos inusitados, como Tetris.

Nos smartphones, Fortnite se tornou ainda mais popular, criando um modo battle royale idêntico ao do PC e dos consoles, e que permite partidas entre os jogadores independentemente da plataforma em que estão. O resultado? Mais de 350 milhões de jogadores registrados até o fim de 2020.

O sucesso acabou ajudando outros jogos a se tornarem fenômenos, como Free Fire, que saiu em agosto de 2017 e ganhou popularidade em mercados como o Brasil, onde a base instalada de smartphones, em sua maioria, não é composta de aparelhos de ponta. Mirando celulares de configurações mais modestas, o game da Garena virou um sucesso no Brasil, que se tornou parte fundamental para o título ter mais de 150 milhões de jogadores ativos diários em 2021.

Cinco anos depois, e uma década após a estreia do primeiro Jogos Vorazes, a febre do battle royale não deve passar tão cedo. Quatro dos dez jogos mais jogados no Steam, principal plataforma de jogos no PC, são battle royale ou têm um modo battle royale, de acordo com o SteamCharts.

Um deles, inclusive, é o próprio PUBG, que detém o recorde de jogadores simultâneos da plataforma, quando 3,6 milhões de pessoas jogaram o game ao mesmo tempo em janeiro de 2018. Nos Jogos Vorazes do mercado de games, o battle royale dá sinais de que é ele próprio um sobrevivente.

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Bruno Silva

Bruno Silva

Editor de games e animes na Tangerina, Bruno Silva é brasiliense e fã de basquete. Jornalista, apresentador e streamer, foi co-criador do The Enemy e já publicou no Omelete, Nerdbunker, Metrópoles e Correio Braziliense.

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