LIVROS E HQS

Rachel Sheherazade

Gabriel Barbosa

O BRASIL AINDA TEM CURA

Conservadora, Sheherazade se opõe a Bolsonaro: ‘Ameaça à democracia’

Jornalista que já foi símbolo da direita lançou O Brasil Ainda Tem Cura, uma versão atualizada de seu primeiro livro sobre o cenário político brasileiro

Giulianna Muneratto

Conhecida por seus comentários ácidos e reacionários quando era âncora do SBT, Rachel Sheherazade ganhou popularidade entre os eleitores da direita brasileira e cresceu como um símbolo do conservadorismo. Porém, com o aumento exponencial dos apoiadores de Jair Bolsonaro nos últimos anos, ela passou a ser criticada pela extrema-direita e acabou até se distanciando de pensamentos que havia defendido com unhas e dentes.

Em 2015, ela lançou o livro O Brasil Tem Cura, no qual fez uma radiografia do país em busca de soluções, partindo de uma análise histórica e identificando alguns dos problemas que, em sua opinião, adoeciam a sociedade. Em 2022, Rachel sentiu a necessidade de revisitar seus pensamentos e análises, depois de tantas mudanças nos últimos anos. Agora, ela lança O Brasil Ainda Tem Cura, uma versão atualizada a partir de tudo o que absorveu da política brasileira desde que escreveu a primeira obra.

“O que me levou a repensar o meu primeiro livro e produzir O Brasil Ainda Tem Cura foi o tempo e as mudanças que ele imprimiu ao cenário político brasileiro. Em sete anos, muita coisa mudou no nosso país”, explica a jornalista em entrevista exclusiva à Tangerina

“Tivemos desde a cassação de uma presidente por meio do impeachment à prisão do favorito às eleições de 2018. Tivemos as revelações sobre a parcialidade da Operação Lava Jato, com a divulgação dos e-mails trocados entre o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. A partir dos vazamentos dessas mensagens, e mais, com a entrada de Sergio Moro no governo Bolsonaro, ficou claro que a motivação da operação não era jurídica, mas política.”

Para Sheherazade, a política acabou sendo “demonizada” a partir da ascensão da extrema-direita ao poder. “Muitos caíram em engano e foram usados. Diante de tantas reviravoltas, era impossível não rever opiniões, não chamar o feito à ordem. Eu tinha esse compromisso com a minha consciência e com o meu público. Precisava atualizar dados e renovar minhas conclusões a respeito da política e da nossa história”, revela.

A jornalista sempre fez duras críticas ao PT e aos partidos considerados de esquerda em seus discursos, mas mesmo assim ela declarou apoio ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições. “Minha posição mais conservadora não tinha relação com a extrema-direita, com movimentos antidemocráticos e de inspiração claramente fascista. Quando percebi que grande parte dos meus seguidores comungavam dessas ideias, fiz um movimento inverso para me distanciar e me diferenciar”, conta.

Bati de frente com os bolsonaristas antes mesmo da eleição de 2018, fui a primeira jornalista a aderir ao movimento Ele Não e, logo nos primeiros dias de governo, me impus como crítica de Jair Bolsonaro. Muita gente se revoltou, fãs viraram haters, fui perseguida pelo presidente e por seus apoiadores, tive a cabeça posta a prêmio por um empresário bolsonarista, mas não me arrependo. O mais importante é estar em paz com a minha essência, com meus princípios.”

Para ela, os movimentos que começaram nas rodovias brasileiras após a derrota de Bolsonaro nas urnas são antidemocráticos e não devem sequer ganhar os holofotes na mídia. “Acredito que as pessoas que estão nas ruas são movidas por um histerismo coletivo. Não há outra explicação. Não há amor à pátria, primeiramente. Se assim fosse, haveria o respeito à Constituição, às instituições democráticas, ao resultado das urnas”, declara. 

“Acho que são pessoas ressentidas, que não sabem jogar o jogo democrático e tentam mimetizar os extremistas norte-americanos, replicando no Brasil o que aconteceu no Parlamento dos EUA. Espero que não cheguemos àquele ponto de radicalismo e que o bom senso volte.”

Quanto a Jair Bolsonaro, a jornalista acredita que ele sai desta eleição duplamente derrotado: pelo resultado das urnas e por seu comportamento a partir da derrota. “Quero crer que os ímpetos autoritários e antidemocráticos deverão arrefecer com a saída desse senhor do governo. Espero que a imprensa, mais uma vez, não lhe dê holofotes e que a história seja contada como de fato aconteceu”, afirma. 

“Não devemos nunca baixar a guarda, e sempre que uma ameaça à democracia se apresentar, é preciso que as forças políticas se unam para detê-la, como fizeram partidos e políticos, e, a exemplo deles, artistas, jornalistas, celebridades, pessoas de grande influência. Sem essa união de forças, o Brasil teria sucumbido, sem dúvidas.”

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QUEM FEZ

Giulianna Muneratto

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.

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