(Fotos: Disney - Herbert Ryman/Reprodução e Sébastien Barthe/Divulgação)
Conhecido como parque temático, Epcot era para ter sido uma cidade com 20 mil moradores
Walt Disney (1901-1966), o homem por trás de um império que revolucionou a animação e o entretenimento global, nutria em seus últimos anos um projeto ainda mais audacioso do que qualquer parque temático: a criação de uma cidade do futuro, conhecida como Epcot (Experimental Prototype Community of Tomorrow/Protótipo Experimental da Comunidade do Amanhã). Esse é um dos temas do documentário Como Walt Disney Mudou o Mundo, do History Channel. O canal liberou um episódio completo no YouTube nesta semana.
Desde os primeiros traços de seus personagens até a construção de parques gigantescos, Walt Disney sempre ultrapassou os limites da inovação. A participação da Disney na Feira Mundial de Nova York de 1964-65, onde ele criou quatro atrações exclusivas, foi um catalisador para a ideia do Epcot. O ambicioso plano era a culminação de sua crença inabalável no poder da imaginação e na possibilidade de construir um ambiente urbano ideal.
Ao observar o trabalho de Robert Moses em Nova York, Walt pensou: “Hum, e se eu pudesse fazer o mesmo?”. Ele via as cidades americanas da década de 1960 em declínio e com problemas de tráfego, em contraste com a ideia de uma vida harmoniosa. Sua cidade seria um “espaço ideal e uma experiência ideal”, um contraponto à expansão urbana caótica impulsionada pelo automóvel.
Assista ao documentário completo do History:
O plano detalhado para o Epcot previa uma “verdadeira comunidade com 20 mil pessoas morando nesse ambiente urbano absolutamente imaculado e ideal”. Seria um lugar onde os habitantes viveriam, trabalhariam e se divertiriam, com empregos integrados à comunidade.
A ênfase seria no pedestre e no transporte público, com monotrilhos elegantes e eficientes levando os moradores para todos os lugares. A ideia do monotrilho já fascinava Walt desde que ele o viu na Alemanha em 1958, e ele o implementou na Disneylândia em 1959, vendo-o como a solução para o trânsito e a expansão urbana.
Para assegurar o controle total sobre sua cidade, uma lição aprendida com a Disneylândia, onde hotéis e lojas de baixo padrão surgiram fora dos portões do parque, Walt decidiu adquirir uma quantidade colossal de terras. Para evitar especulação imobiliária e manter o sigilo, a compra foi realizada de forma discreta na Flórida Central, utilizando empresas de fachada com nomes fictícios.
O resultado foi a aquisição de mais de 10.000 hectares de pântano –1 hectare equivale a 10 mil metros quadrados. O terreno era vasto e barato, com 170 vezes o tamanho da Disneylândia e maior que a ilha de Manhattan. No entanto, o segredo não durou muito: Emily Bavar, uma jornalista do Orlando Sentinel, desvendou a trama, forçando a Disney a acelerar seus planos e Walt a apresentar sua visão publicamente.
Nos últimos meses de sua vida, mesmo enfrentando uma saúde debilitada –ele foi diagnosticado com câncer de pulmão e tinha apenas semanas de vida– Walt Disney não desistiu. Ele canalizou toda sua energia restante para documentar sua visão do Epcot em um filme, assegurando que seu irmão e parceiro de negócios, Roy Disney (1893-1971), pudesse levar o projeto adiante. Ele estava “correndo contra o tempo”, planejando cada detalhe do empreendimento da cama do hospital.
Roy Disney, que estava prestes a se aposentar, percebeu que o futuro da empresa dependia de ele assumir as rédeas e dar continuidade ao “último sonho” de Walt. No entanto, Roy, com pragmatismo, compreendeu que a cidade utópica que Walt imaginara não poderia ser construída sem a presença de seu criador e sua visão unificadora.
Em vez da cidade, ele decidiu criar um “grande resort de férias” na Flórida, uma “Disney World maior e melhor”, adequada para a “era dos jatos”.
Embora o Epcot como cidade nunca tenha sido construído na forma original de Walt, muitos de seus conceitos e ideais futuristas foram incorporados ao Walt Disney World Resort. O monotrilho tornou-se um dos símbolos do resort, literalmente passando por dentro do saguão do Contemporary Resort Hotel, um feito de engenharia “chocantemente ousado” que ecoava a visão de Walt para o transporte do futuro.
O Walt Disney World Resort, que Roy fez questão de nomear em homenagem ao irmão, foi inaugurado em 1º de outubro de 1971 e cresceu exponencialmente, tornando-se o resort de férias mais visitado do mundo. Assim, a joia da coroa do império Disney Parks é, de muitas maneiras, o testemunho de um sonho que, embora modificado, permanece a essência do legado duradouro de Walt Disney.
Vinícius Andrade
Jornalista e colaborador da Tangerina. Vinícius Andrade já foi editor do Notícias da TV e tem especialização em SEO. Interessado por tudo o que envolve mercado de entretenimento, tem mais de 13 anos de experiência na área e também trabalha com jornalismo local. E-mail: vinicius@tangerina.news
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