Reprodução/TV Globo
Fogosa, Bruaca em Pantanal continua a guinada nas novelas sobre a representação da mulher pós-50
Maria Bruaca (Isabel Teixeira) foi à loucura ao sentir o gelo da fivela de Alcides (Juliano Cazarré) em Pantanal. Reprimida sexualmente, e não só por Tenório (Murilo Benício), a dona de casa deixou as camisolas encardidas de lado para tomar um banho de rio só de lingerie –e fez a peça se esgotar em uma loja online em questão de horas.
O remake de Bruno Luperi, em relação à nudez, é muito mais bem comportado do que a versão escrita pelo avô Benedito Ruy Barbosa para a Manchete em 1990. O texto com toques de safadeza ganha, portanto, novos contornos quando o erotismo não é necessariamente o chamariz da audiência.
Bruaca, por exemplo, se surpreende ao levar um agarrão de Alcides e dizer que não sabia que o peão andava armado, em referência ao pênis ereto. A excitação não é apenas sexual, mas da descoberta e da libertação –da mulher que volta ou que passa a sentir prazer aos 50 anos.
A telenovela no Brasil é bastante conservadora ao debater o etarismo, resumindo-se muitas vezes no discurso contra os maus-tratos ou do abandono aos idosos. Os folhetins, porém, têm um papel crucial no imaginário popular para abarcar outras questões, como a levantada pela personagem de Isabel Teixeira.
Afinal, por mais que se invoque de questões biológicas como a menopausa, mulheres não deixam de lado as questões do desejo ao chegarem aos 50 anos. A ficção, porém, costuma ser bem cruel com as atrizes, e Meryl Streep já disse que bastou chegar aos 40 para aparecer a primeira proposta indecente –no caso, a de bruxa.
Aos 58 anos, Deborah Evelyn passou anos sob o estigma do “patinho feio” ou da “neurótica” até ser redescoberta justamente pelas novelas. Ela então passou a protagonizar cenas de sexo à base de bolo de limão em A Dona do Pedaço (2019) ou com um garoto de programa em Verdades Secretas 2 (2021).
As personagens vieram no esteio de outras atrizes; caso de Eliane Giardini, que já havia feito mulheres sexualmente ativas, como a Muricy de Avenida Brasil (2012). O libido veio aumentando gradativamente até chegar em Bruaca, que caiu nas graças do público mais jovem –e foi apelidada carinhosamente de Mary Bru.
Um ponto a favor de Pantanal, já que a matriarca é reprimida justamente pela filha Guta (Julia Dalavia) na história. A engenheira bate de frente muitas vezes com Tenório por causa de um discurso progressista, mas tem dificuldade em ver a mãe como uma mulher empoderada –longe das panelas, do fogão e da pia da cozinha.
Bruaca terá uma recaída e voltará a ser “bela, recatada e do lar” nos próximos capítulos, numa mudança de hábitos que não deverá durar muito tempo. E ainda bem. Ela até aqui foi uma espécie de “norvana” dentro da história, juntando todas as tribos a favor de uma mesma fivela e contra um mesmo tabu.
Daniel Farad
Repórter. Além do Notícias da TV, também se juntou ao Tangerina para combater a mesmice e o escorbuto. Escreve do Rio de Janeiro, onde se sente eternamente em uma novela do Manoel Carlos. Aqui, porém, a gente fala mexerica. Fale com o Daniel: vilela@tangerina.news
Ver mais conteúdos de Daniel FaradTangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.
Ainda não tem uma conta?