Aos 81 anos, Erasmo Carlos morre cinco dias após ganhar Grammy Latino

Morreu na manhã desta terça (22), aos 81 anos, o cantor e compositor Erasmo Carlos, um dos pioneiros do rock brasileiro e ícone da Jovem Guarda. O músico estava em um bom momento de sua carreira – na última quinta-feira (17), tinha vencido o Grammy Latino de melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa.

O Tremendão tinha sido internado em outubro por causa de uma síndrome edemigênica, caracterizada pelo excesso de líquido preso nos tecidos do corpo. Ele chegou a receber alta no início do mês, mas voltou ao hospital às pressas na noite de segunda-feira (21), teve de ser intubado e não resistiu. No ano passado, ele também foi hospitalizado depois de contrair Covid-19.

Bem-humorado, o músico brincou com a sua internação em outubro ao publicar uma foto com a mulher, Fernanda Passos, no Instagram. “Bem simbólico… Depois de me matarem no dia 30, ressuscitei no Dia de Finados e tive alta do hospital! Obrigado a Deus, a todos que cuidaram de mim, rezaram por mim e se torceram pela minha recuperação”, compartilhou ele no último dia 2.

A parceria com Roberto Carlos surgiu por acaso: o cantor de Emoções precisava da letra de Hound Dog, sucesso de Elvis Presley (1925-1977), para cantar em uma apresentação. Arlênio Lívio (1942-2003), que fazia parte da banda The Snakes com Erasmo, falou que o colega saberia a canção, pois era grande fã do rei do rock. Os dois acabaram descobrindo outras afinidades e se tornaram grandes amigos.

Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa apresentaram o programa Jovem Guarda (1965-1968), dando origem ao movimento cultural que englobava música, comportamento, vestuário e tinha muita influência do rock estrangeiro. Além do trio, eram ícones do gênero nomes como Ronnie Von, Vanusa (1947-2020), Jerry Adriani (1947-2017), Eduardo Araújo e Sylvinha Araújo, e também bandas como Renato e Seus Blue Caps e os Golden Boys.

Criticado por ser americanizado demais, Erasmo Carlos inovou ao dar uma pegada brasileira para o rock estrangeiro e lançar o samba-rock Coqueiro Verde. Ele chegou a dividir um apartamento em São Paulo com Jorge Ben Jor, que inspirou a mistura de ritmos do Tremendão. Ele também flertou com o soul, com a MPB e até com o doo-wop ao longo da carreira.

Além dos mais de 30 álbuns lançados no decorrer da carreira, o músico também brincava de ser ator. Ele estrelou dois filmes com Roberto Carlos no início dos anos 1970, foi elogiado por sua atuação em Os Machões (1972), escrito, dirigido e estrelado por Reginaldo Faria, e fez uma participação em O Cavalinho Azul (1984). Mais de 30 anos depois, voltou ao cinema em Paraíso Perdido (2018) e, em busca de um público mais jovem, contracenou com Larissa Manoela em Modo Avião (2020), da Netflix.

Erasmo Carlos ainda emplacou várias de suas músicas em trilhas de novelas. Ele tocou em obras tão distintas como A Próxima Atração (1970), Locomotivas (1977), Brega & Chique (1987), Perigosas Peruas (1992), Porto dos Milagres (2001), Sete Pecados (2007), Caminho das Índias (2009), Além do Horizonte (2013) e Pega Pega (2017).

Mas um folhetim ficou marcado por uma tragédia: a canção Homem de Rua embalava as cenas de Bira (Guilherme de Pádua) na novela De Corpo e Alma (1992). Depois que o intérprete do personagem foi revelado como o assassino de Daniella Perez (1970-1992), Erasmo prometeu que nunca mais cantaria a faixa.