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Rodrigo França

Reprodução/Instagram

ENTREVISTA

Ex-BBB, Rodrigo França busca leveza em representatividade negra

Rodrigo França conversou com a Tangerina sobre seu propósito como cineasta e a luta pela representatividade negra no audiovisual

Giulianna Muneratto

Rodrigo França ficou conhecido nacionalmente ao participar do BBB 19, mas já tem uma carreira de três décadas como ator e, há cinco anos, passou a apostar em sua versatilidade e trabalhar também como roteirista e diretor. Em seus projetos, o cineasta busca sempre mostrar um lado mais leve e bonito da negritude.

Sua primeira obra como diretor foi Barba, Cabelo & Bigode (2022), filme da Netflix estrelado por Lucas Penteado. A comédia se passa em um bairro periférico do Rio de Janeiro, no qual um jovem decide salvar o salão de cabeleireiro da mãe da falência e descobre seu talento para a barbearia. 

Para França, foi fundamental fugir dos estereótipos violentos associados à favela e mostrar um lado de diversão e união que são criadas nesses espaços. “Uma das receitas do sucesso desse filme é justamente as pessoas se reconhecerem de maneira respeitosa e plena. Se uma pessoa percebesse, eu já estaria tranquilo, mas o volume de pessoas que falam ‘não tem arma no seu filme’ me deixa extremamente feliz. Eu achei que fosse só uma delicadeza como diretor, mas as pessoas se identificam a partir da beleza dessa poesia”, explica em entrevista à Tangerina.

Rodrigo França não descarta a importância da arte que denuncia opressões, mas acredita que é necessário um cuidado. “Às vezes, a denúncia machuca a vítima, enquanto o algoz enxerga como empreendimento. Neste momento, eu tenho preferido falar sobre cura, poesia e arte”, acrescenta. “Eu já fiz muitos trabalhos que cutucaram a ferida, mas agora quero falar sobre belezas e maravilhas.”  

O cineasta também aponta um diferencial cada vez mais crescente na sétima arte, que é o respeito nos bastidores. Na ativa há 30 anos, ele já mergulhou em sets em que a hierarquia chegava a ser violenta, do tipo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Agora como diretor, ele busca subverter essa ideia e criar uma horizontalidade por trás das câmeras.

“A gente não trazia essas discussões para dentro dos espaços profissionais, então eu presenciei muitas violências. Quando decidi ser diretor, há 15 anos, eu escolhi não reproduzir essa escola da violência. É fácil reproduzir aquilo que se entende por poder a partir da violência; mas, para mim, é inadmissível. Quando você é um diretor, tem que ter esse olhar muito cuidadoso, porque faz com que as outras cadeias produtivas do mesmo trabalho reproduzam isso”, afirma.

“As pessoas estão acostumadas com a violência, é uma relação muito inconsciente. Mas é possível se relacionar muito bem –não precisa amar, mas é necessário se respeitar. Por exemplo, não tem por que gritar ‘silêncio’ em um estúdio, somos adultos, profissionais, e todos estão na mesma intenção, que é realizar.” 

Da mesma maneira, Rodrigo França luta cada vez mais pela representatividade negra, pautando suas obras a partir de suas vivências e fazendo retratos da forma que gostaria de se enxergar no audiovisual.

“Nós conquistamos uma diversidade no palco e na frente das câmeras, mas ainda não é o suficiente quando pensamos que 76% da população brasileira é negra. Estamos caminhando lentamente para essa diversidade na cadeia produtiva, e eu escolhi ter coerência no meu discurso. Acredito muito veementemente que a arte não pode trazer dor e sofrimento, principalmente quando é uma comédia”, conta o artista.

“Quando alguém é zoado de uma maneira caricata, eu prefiro retratar pessoas de maneira mais fiel. Para falar sobre negritude, tem que passar pela negritude. Há mais de 500 anos, a branquitude escreve sobre a gente, encena sobre a gente… E eu posso dizer, como espectador, que isso não é nada legal. Eu não quero reproduzir isso”, finaliza.

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QUEM FEZ

Giulianna Muneratto

Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.

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