Reprodução/TV Globo
Personagem de Karine Teles pode até estar viva em Pantanal, mas, como morta, já é a alma penada mais relevante desde a Loira do Banheiro
Madeleine (Karine Teles) pode até não ter as medidas de Sheila Mello —60cm de cintura, 105cm de bundinha e 1,70m de altura— em Pantanal. Ela, no entanto, deu um “tchan” em uma das principais lendas urbanas brasileiras. Afinal, desde que a Loira do Banheiro se tornou um dos pilares do sistema de ensino nacional, uma morta platinada não fazia tanto sucesso assim.
Morta até a segunda página, diga-se de passagem. A influenciadora digital já descobriu um jeito de mandar uma DM do Além para José Leôncio (Marcos Palmeira) para pedir ajuda. Não se sabe ainda exatamente de qual plano. Parte do público aposta que ela está sã e salva sob os cuidados do Velho do Rio (Osmar Prado).
O próprio Benedito Ruy Barbosa não tinha a menor intenção de matar a personagem na primeira versão, exibida pela extinta Manchete, em 1990. Ele só o fez porque a atriz Ítala Nandi pediu para deixar a trama ao descobrir que conseguiu incentivos para rodar um filme na Índia.
Bruno Luperi obrigou mais uma vez Madeleine a embarcar no primeiro aé-ré-ó-ró, plê-á-plân, né-ó-nó —ou melhor, avião— com destino à infelicidade. Com a bênção do avô, porém, o roteirista pode muito bem ter corrigido a rota no remake.
Os telespectadores, criados à base de novela espírita e vilãs arrastadas pelo próprio diabo para dentro do espelho, torcem para que a mãe de Jove (Jesuita Barbosa) esteja à espreita. Ou dê um sinal mesmo que seja pelo jogo de copo —os de pinga, que Zé Leôncio costuma virar antes de pedir mais uma vez para tocar Cavalo Preto.
As recentes discussões sobre a adoção do homeschooling no Brasil claramente miraram o mercado de trabalho da Loira do Banheiro. A pandemia, no entanto, foi ainda mais cruel ao obrigar os estudantes a ficarem bem longe do toalete do terceiro andar —em que deveriam apertar a descarga por três vezes seguidas.
O país pode até não ter uma tradição na produção de um cinema de horror, à exceção de nomes como José Mojica Marins (1936-2020) e Rodrigo Aragão, mas gosta de uma boa história sobrenatural. Ruy Barbosa mesmo incluiu alguns pactos com o diabo em novelas como a própria Pantanal, além do cramulhão na garrafinha em Renascer (1993).
A Indomada (1997) traumatizou uma série de crianças que não podiam ver uma roupa íntima pendurada no varal que choravam ao se lembrar da camisola voadora da fictícia Greenville. A produção ainda trouxe outro ícone, o Cadeirudo (Sônia de Paula) —que misturava um andar icônico com doses sáficas.
O Brasil ainda tem toda uma tradição de fantasmas que fazem sucesso nas novelas, como o vulto de Nanda (Fernanda Vasconcellos) em Páginas da Vida (2006). Alexandre (Guilherme Fontes), de A Viagem (1994), queria castigar os outros direto do umbral. Já Nicole (Marina Ruy Barbosa), de Amor à Vida (2013), foi uma punição para a atriz, que não quis raspar a cabeleira ruiva e morreu de coração partido.
Daniel Farad
Repórter. Além do Notícias da TV, também se juntou ao Tangerina para combater a mesmice e o escorbuto. Escreve do Rio de Janeiro, onde se sente eternamente em uma novela do Manoel Carlos. Aqui, porém, a gente fala mexerica. Fale com o Daniel: vilela@tangerina.news
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