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O ator Murilo Benício caracterizado como Tenório em cena de Pantanal

Reprodução/TV Globo

CRÍTICA CABELUDA

Globo pega Bolsonaro (de novo!) pelo bigode com Tenório em Pantanal

Tenório (Murilo Benício) funciona como um alter ego de Bolsonaro em Pantanal, assim como outro bigodudo da ficção

Daniel Farad

A Globo não precisou de um bigode à la Groucho Marx (1890-1977) para esconder as críticas cabeludas a Jair Bolsonaro em Nos Tempos do Imperador. O político também se disfarça por trás de pelos faciais em Pantanal, mas nenhum deles é tão arrepiado quanto os de Tonico (Alexandre Nero). Apesar da discrição, Tenório (Murilo Benício) deixa a essência do político escapar todas as vezes que abre a boca na novela das nove da Globo.

O folhetim de Bruno Luperi não pega tão pesado politicamente quanto a produção de época, mas promete até falar mais no assunto com a chegada de Ibrahim (Dan Stulbach). Ele será responsável por alçar Jove (Jesuita Barbosa) a um cargo legislativo, provavelmente o de vereador –se seguir os rumos da versão original.

Nos Tempos do Imperador, ao contrário, era de chegar com o pé na porta ao abordar o tema. Tonico não só repetia alguns dos chavões do atual chefe do Executivo, como providencialmente ocupava um cargo de deputado –exatamente como Bolsonaro o fez durante 26 anos no Congresso Nacional.

Pantanal é bem mais cautelosa ao falar sobre política, até como se tivesse um tanto de receio em dar nome aos bois. Essas cabeças de gado são tanto as do agronegócio quanto a dos apoiadores do presidente, grupo em que Tenório facilmente passaria despercebido com uma camisa da seleção e um cartaz com bordas decoradas em crepom.

O pântano de Pantanal

Se Tonico era capaz de repetir até o salmo preferido de Bolsonaro, o personagem de Murilo Benício não é tão direto assim. As similaridades entre os discursos da realidade e da ficção ficam mais nas entrelinhas, até para não assustar a audiência –ou espantá-la, exatamente como a novela das seis o fez.

A sabedoria popular diz que o diabo está nos detalhes, e assim é construído o marido de Bruaca (Isabel Teixeira). O machismo é um dos ingredientes dessa mistura, especialmente pela maneira como o empresário trata Guta (Julia Dalavia). Ou seja, a menina é quase uma “fraquejada”.

Ele ainda repete algumas das pautas mais caras ao bolsonarismo, como o apoio ao garimpo. Até mesmo o ilegal, como José Leôncio (Marcos Palmeira) recentemente descobriu. Tenório igualmente fez piadas um tanto duvidosas sobre minorias, aos se referir sobre os índios –que ficariam felizes com uma bermuda e uma parabólica, segundo ele.

A questão ambiental talvez seja o principal ponto em que Luperi puxe o bigode de Tenório para mais perto do presidente. Ele não é muito dado a pescar em áreas de preservação ambiental, mas não é para preservá-las. Afinal, o principal objetivo dele é construir um resort em pleno Pantanal em sociedade com o pai de Tadeu (José Loreto).

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QUEM FEZ

Daniel Farad

Repórter. Além do Notícias da TV, também se juntou ao Tangerina para combater a mesmice e o escorbuto. Escreve do Rio de Janeiro, onde se sente eternamente em uma novela do Manoel Carlos. Aqui, porém, a gente fala mexerica. Fale com o Daniel: vilela@tangerina.news

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