Divulgação/Glenn Pinkerton
Série documental do A&E mostra que mundo dos sonhos da Mansão Playboy e vida de glamour das coelhinhas era, na verdade, um pesadelo
Desde seu lançamento, em 1953, a revista Playboy povoou o imaginário masculino com os ensaios provocantes de belas garotas. Para as mulheres, a mansão de Hugh Hefner (1926-2017) era um cenário dos sonhos, com festas, muita bebida e gente animada. Mas todo esse ambiente perfeito escondia um lado podre: as coelhinhas eram drogadas e estupradas pelo fundador da revista ou por seus amigos, e muitas vezes acabavam silenciadas ou tinham sua sanidade questionada.
A sujeira varrida para debaixo do tapete durante décadas vem à tona na série documental Segredos da Playboy, que o canal A&E estreia neste domingo (19), às 22h. Ao longo de 12 episódios, que serão exibidos em seis fins de semana, a diretora Alexandra Dean puxa a cortina do mundo dos sonhos e revela a podridão que Hefner tanto quis esconder.
“Não é legal estourar a bolha, mas é necessário. A Mansão da Playboy era como Las Vegas: o que acontece lá, fica lá. Na teoria, era um parque de diversões para adultos onde as pessoas poderiam se divertir. E, se isso fosse 100% verdade, eu não teria problema nenhum. Se todos tivessem diversão consensual, pudessem deixar suas preocupações na porta e passar momentos divertidos lá dentro, eu seria a primeira a aplaudir”, conta Alexandra em conversa com a Tangerina.
“O problema é que não era bem assim. Muitas meninas estavam sendo destruídas lá dentro. Alguns poucos em posição de poder se divertiam, enquanto outros eram tratados como animais. Aliás, nem animais deveriam ser tratados daquele jeito. Então, às vezes, você precisa estourar essa bolha reluzente e bonita para explicar que, se nem todo mundo está se divertindo, não é diversão de verdade. Não é assim que as coisas funcionam. Não no mundo de hoje, pelo menos.”
Os 12 episódios de Segredos da Playboy contam com depoimentos de modelos que passaram pela capa e pelo recheio da revista, além de nomes como Holly Madison, uma das várias ex-namoradas de Hefner e que estrelou o reality As Garotas da Mansão da Playboy (2005-2009) ao lado de Bridget Marquardt e Kendra Wilkinson –que também se relacionavam com o empresário na época.
Miki Garcia é uma das ex-playmates que abre o jogo sobre sujeira da Mansão Playboy
Divulgação/A&E
No documentário, Holly assume que não via o estilo de vida propagado pelo dono da Playboy como algo negativo na época, mas que agora consegue enxergar o quanto estava cega e era manipulada pelo então namorado, 53 anos mais velho do que ela. A loira chega a descrever a situação toda como uma síndrome de Estocolmo –aquela em que um sequestrado cria empatia pelo seu agressor.
Miki Garcia, playmate de janeiro de 1973 e que depois do ensaio sensual assumiu o cargo de diretora de Promoções da Playboy, não só concorda com as alegações de Holly Madison como compara Hugh ao líder de uma seita. “Nós não sabíamos muito sobre cultos na época, mas ele apresentava todas as características. Hefner tinha total controle sobre você, sobre suas atitudes, sobre suas finanças. Ele definia como você deveria agir, o que você deveria dizer, com quem você poderia conversar”, fala ela à reportagem.
Como era Hefner quem definia qual das mulheres seria a playmate do mês e quem seria elevada à playmate do ano, todas queriam agradá-lo para conseguir uma posição de destaque na Playboy, com a esperança de usar a revista para começar uma carreira no entretenimento. “Mas acho que nenhuma delas sabia exatamente no que estava se metendo. Existia muita pressão de executivos para que elas fizessem certos atos. Eles diziam: ‘Escute, é assim que as coisas são. Se você não topar, você está fora e vai perder tudo'”, lembra Miki.
Miki e Alexandra contam que Hefner dopava as mulheres na Mansão da Playboy com Quaalude (metaqualona), cocaína e muitas bebidas. Depois, ele ou seus convidados abusavam sexualmente de suas vítimas, e ameaçavam acabar com a vida delas caso alguma decidisse abrir a boca. “Eu não conseguia nem escalar algumas delas para certos eventos porque as drogas as deixavam com uma aparência de doentes, como se estivessem em decomposição. Hugh Hefner criou um caminho de destruição, e todas que cruzavam o caminho dele se davam muito mal”, ressalta Miki.
Após a exibição de Segredos da Playboy nos Estados Unidos, Alexandra recebeu muitas mensagens de pessoas que se diziam chocadas com as revelações da série. No entanto, ela critica que a revista segue em alta no país. A rapper Cardi B foi apontada como nova diretora de criação da publicação, atraindo o interesse de uma geração mais jovem para os ensaios sensuais.
“Algumas marcas colocam o coelhinho da Playboy em seus produtos, então eles estão muito bem financeiramente, continuam vendendo. Acho que temos uma batalha muito grande pela frente para revelar tudo o que realmente acontecia lá dentro e para tirar um pouco desse fascínio que o coelhinho traz”, encerra a diretora.
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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