Tia Lydia e bebê roubado: Todas as Flores é cópia de Handmaid’s Tale?

A Fundação Cinco Horizontes, de Todas As Flores, parece ter dado aquele Ctrl+C na série The Handmaids Tale. As semelhanças vão da ideia de apagamento da individualidade das mulheres até um aspecto estético, com fotografia escurecida. Sem falar na caracterização da chefona da fazenda escravocrata, idêntica à tia Lydia (Ann Dowd) da série disponível no Paramount+.

As comparações da novela de João Emanuel Carneiro para o Globoplay com a série que foi traduzida para o português como O Conto da Aia não param por aí. Muito em breve, o futuro de Maíra (Sophie Charlotte) vai bater à porta da história de June Osborne (Elisabeth Moss) quando ela tiver seu bebê sequestrado.

Ao fim da primeira parte do folhetim, Maíra descobrirá que está grávida de Rafael (Humberto Carrão). A gestação será reclusa e secreta, já que a moça desaparecerá do mapa por causa de um golpe planejado pela irmã, Vanessa (Letícia Colin), e pela mãe, Zoé (Regina Casé). Quando a mocinha deficiente visual der à luz, porém, seu pesadelo vai ficar ainda pior –o bebê será sequestrado pela própria avó.

O mesmo ocorreu com June em The Handmaid’s Tale –só é preciso trocar o algoz do sequestro. Ao parir Holly/Nichole, a protagonista teve a criança retirada de suas mãos para que as regras do governo totalitário se cumprissem. 

Duda Batsow em Todas as Flores e Elisabeth Moss em The Handmaid's Tale

Reprodução/Globoplay e Hulu

Sequência de semelhanças

Na produção distópica inspirada no livro de Margaret Atwood, um governo totalitário cristão, baseado nas “leis divinas”, derruba a gestão democrática dos Estados Unidos. A partir daí, a sociedade passa a limitar os direitos das mulheres. Já no folhetim do streaming nacional, a imposição é velada. Moças e rapazes jovens de baixa renda aceitam participar de um programa que promete capacitação, emprego e salário para eles.

Ao chegarem à fazenda, contudo, se deparam com uma realidade bem diferente da prometida. Presos, os jovens são submetidos a exames que atestem a boa saúde de cada um deles. Ou seja, tanto pela ilusão de um futuro melhor quanto pela obrigação de um governo impositivo, os jovens da novela e as mulheres da série perdem liberdade, autonomia e contato familiar.

Jéssica (Duda Batsow), por exemplo, ficou sem se comunicar com mãe e irmãos após cair nas garras da gangue traficante de pessoas. June, por sua vez, perdeu o marido e teve sua filha dada para outra família criar por não cumprir os requisitos básicos para a manutenção da República de Gilead.

A convergência nas produções acontece numa espécie de repeteco de personagens. Em Todas As Flores, há uma inspetora que é claramente uma releitura de tia Lydia. Responsável pelas aias da série, a mulher adota uma postura de liderança durona e fria no trato. Além do traço psicológico, a personagem sem nome escrita por João Emanuel Carneiro usa roupa cáqui e cabelos presos em um coque. O “núcleo” The Handmaid’s Tale da novela também apresenta uma imagem mais escura que o restante do folhetim exibido pelo Globoplay.

Nas duas produções, os recém-chegados ficam hospedados em um quarto compartilhado, cheio de beliches, e que lembra um grande acampamento militar. Por causa da proximidade das camas, Jéssica consegue conversar com a amiga Ciça (Samantha Jones). O método era aplicado na troca de confidências da personagem principal de O Conto da Aia com sua melhor amiga, Moira (Samira Wiley).

Dequinha é atropelada em Todas as Flores

Reprodução/Globoplay

Tragédia copiada

A morte de Dequinha (Kelzy Ecard) também parece ter saído diretamente da quarta temporada de The Handmaid’s Tale. Ao tentar fugir do picareta Galo (Jackson Antunes), a mãe de Jéssica é tragicamente atropelada por um caminhão. A cena é praticamente idêntica ao atropelamento de Alma (Nina Kiri) e Brianna (Bahia Watson), amigas da aia líder. Ambas morrem durante uma fuga por não conseguirem atravessar um trilho de trem a tempo.

Aias são atropeladas por trem em The Handmaid's Tale

Reprodução/Hulu