Reprodução/Multishow
Supergrupo carioca formado na pandemia trocou beijões no palco e brincou com a possibilidade iminente de chover na Cidade do Rock
Espécie de supergrupo jovem formado por amigos de infância talentosos durante a pandemia, o Bala Desejo estreou no Rock in Rio neste sábado (10). Um feito e tanto para quem fez seu primeiro show em dezembro, numa casa para 100 pessoas, em São Paulo.
Apesar dos privilégios evidentes pelas conexões dos músicos —Dora Morelenbaum é de uma linhagem musical importante, Lucas Nunes, Zé Ibarra e Julia são grandes amigos de Tom Veloso, filho de Caetano, e por aí vai—, o grupo supera as desconfianças com boa música. E não negam as influências diretas: os Doces Bárbaros, grupo formado por Caetano, Gil, Gal e Bethânia, é citado nominalmente no palco, antes de uma releitura de São João Xangô.
Além da versão para a composição de Gil e Caetano, o Bala Desejo levou ao palco Sunset o repertório do disco Sim Sim Sim (2022), um dos melhores do primeiro semestre, para a Tangerina —abençoado pelo próprio Caetano Veloso, inclusive. O público, porém, não botou muita fé. Foi o show mais vazio que o palco viu nesta edição, até agora. A grande maioria preferiu circular pela Cidade do Rock e conhecer o espaço.
No palco, a proposta é clara: trazer sonoridades da década de 1970, do tropicalismo ao Clube da Esquina, de Mutantes a Novos Baianos, para uma estética atual, o que também reflete nos figurinos. Para isso, Dora, Zé, Julia e Lucas —todos exímios cantores e compositores, com trabalhos solo— são acompanhados no palco por uma banda completa, sopros, percussão e tudo que tem direito, formada por alguns dos melhores músicos em seus instrumentos.
O repertório do Bala Desejo no Sunset ainda trouxe outra canção que não está no álbum de estreia da banda. Love Love, uma parceria suingada de Julia Mestre com o trio Gilsons, a atração seguinte do Rock in Rio.
Julia aproveitou o número para distribuir beijos de língua nos três amigos de banda, justificando o “desejo” do nome do grupo.
A sensualidade reflete também no clima carnavalesco de músicas como Lambe Lambe e Baile de Máscaras, que fecharam o show, e no flerte com ritmos latinos em canções como Nana del Caballo e a lânguida Dourado Dourado, e caribenhos, como no reggae Clama Floresta.
Nos poemas que declamaram no palco, o grupo brincou com a possibilidade iminente de chover na Cidade do Rock. “Eu quero que caia chuva, sim”, disseram Julia e Dora, para desespero do público presente.
Pelo menos até o Bala Desejo se despedir do palco, a chuva ainda não tinha dado as caras.
O Rock in Rio segue neste sábado liderado pelo Coldplay, grande atração do palco Mundo, que terá ainda Camila Cabello, Bastille e Djavan. No Sunset, Gilsons, Maria Rita e CeeLo Green seguem o baile.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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