MÚSICA

A cantora Cat Power posa para a câmera com uma camisa jeans

Divulgação/Mario Sorrenti

Entrevista

Cat Power retorna ao Popload após climão em 2014: ‘Fiquei protetora’

Cantora se apresentou no mesmo festival oito anos atrás, quando estava grávida do primeiro filho, e abandonou o palco durante performance

Lucas Almeida
Lucas Almeida

Atração do Popload, que acontece nesta quarta-feira (12) em São Paulo, Cat Power retorna ao festival depois de uma passagem um tanto conturbada pelo festival em 2014. A cantora acabou fazendo dois shows no evento para cobrir a banda Beirut. Na primeira noite, ela interrompeu a performance e abandonou o palco depois de ouvir uma pessoa da plateia gritar “fuck you” (vai se foder, em português).

“Acredito que estava grávida naquela turnê. Por estar com uma criança, estava mais protetora. Não de mim mesma, mas do espírito dentro de mim”, relembra Cat Power em entrevista à Tangerina. “Acho que é por isso que eu, muito rapidamente, fiquei muito protetora de mim mesma. Normalmente, estaria muito mais descontraída. Esse foi o motivo”, explica ela.

As primeiras especulações sobre a gravidez de Chan Marshall (nome verdadeiro de Cat Power) surgiram no início de outubro de 2014, quase dois meses antes da passagem da cantora pelo Brasil. Ela confirmou o nascimento do primeiro filho em abril do ano seguinte, sem revelar a identidade do pai da criança.

Influenciada pelo blues e pelo soul, Cat Power veio ao Brasil pela primeira vez em 2001, quando fez um show intimista no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Ela ainda passou com duas outras turnês por capitais do país antes da apresentação no Popload. Mesmo com as situações conturbadas, a norte-americana guarda boas memórias das viagens. “Dançar, suar, nadar”, lista ela entre os momentos que viveu por aqui.

A cantora ainda revela que tem um vizinho brasileiro atualmente. Ela mora em Miami, na Flórida. “Eu comi feijoada antes de vir para cá. E, meu Deus, estava maravilhosa. Ele é um fedelho, cheio de machismo, falando como tinha que preparar”, diz a artista, que perde a linha de raciocínio frequentemente entre as respostas, mas não deixa o carinho e a autenticidade de lado em qualquer sentença.

As turnês de Cat Power

Cat Power retorna ao Brasil durante uma agenda de shows cheia de bons momentos. Ela passou dois meses em turnê com Alanis Morissette e a banda Garbage como parte da celebração dos 25 anos do álbum Jagged Little Pill (1995). Recentemente, ainda tem servido como atração de abertura para Jack White, que também se apresenta no Popload.

A cantora afirma que acompanhar a turnê dos artistas tem sido como “ir a uma igreja batista”. “Eu não sou uma superestrela, mas estar perto disso, ver aquelas pessoas que guardaram dinheiro para ir ao show e dar amor, é mágico e saudável”, descreve ela. Chan ainda agradece os novos trabalhos após o período em quarentena, em que ficou ensinando o filho de sete anos a ler e fazer cálculos básicos.

Poucos dias antes do período em casa, ela estava fotografando a capa do álbum Covers (2022) em Nova York, com o amigo Mario Sorentino. Ela ainda passou por Los Angeles para gravar músicas inéditas para o filme Flag Day, Lembranças Perdidas (2021). Dirigido e estrelado por Sean Penn, o longa conta a história baseada em fatos reais de uma mulher que precisa lidar com um pai que, apesar de amoroso, está envolvido em casos criminais envolvendo falsificação.

“É basicamente a história da minha vida de uma maneira muito boa. É a história real de outra pessoa, o que é totalmente bizarro ter tantos paralelos”, diz Chan, que viveu uma infância conturbada antes de cortar laços com a família aos 16 anos.

“O mundo estava perdendo tantas pessoas, enquanto pensávamos que tínhamos planos e pensávamos que nos conhecíamos”, reflete a cantora sobre o período de isolamento. “Acho que criou uma mudança de consciência no mundo. É horrível dizer isso, mas acho que fez algo conosco.”

Álbum de covers

I'll Be Seeing Yo

Ouça o cover de Cat Power

Covers (2022), terceiro álbum da carreira de Cat Power com regravações de canções consagradas por outros artistas, foi lançado em janeiro. O novo projeto vai de I’ll Be Seeing You (conhecida na voz de Billie Holiday) a Bad Religion, de Frank Ocean. Lana Del Rey, que nunca escondeu as inspirações que tomou de Chan no início da carreira, ainda foi homenageada em White Mustang.

A cantora olha com humildade ao ser perguntada sobre as referências que deixou para as próximos gerações na junção do soul com melodias pop —sem esquecer as composições exageradamente tristes. “Todos os artistas são uma extensão do passado. Tudo vai continuar andando”, diz ela. “Se a gente não matar a porra do planeta, com foguetes em formato de pênis e carros esportivos vermelhos”, complementa, entre resmungos.

O novo disco surgiu de maneira espontânea. Cat foi ao estúdio com a sua banda para fazer um álbum autoral, mas decidiu pelas regravações enquanto ainda estavam aquecendo. A escolha também surgiu por um motivo prático. “Eu dispunha de uma quantidade certa de tempo para gravar. E uma certa quantidade de dinheiro para bancar a gravação. Consegui fazer tudo no tempo certo antes de voltar a trabalhar em turnê”, explica ela.

Chan é transparente ao dizer que o processo foi semelhante nos álbuns de covers anteriores. Ela já lançou The Covers Record (2000) e Jukebox (2008). “Em todas as vezes, foi porque eu sabia que eu tinha urgência para gravar e cantar”, explica. O diferencial é que agora ela não deixa de elogiar o selo atual, Domino, fundado de forma independente no Reino Unido.

A parceria de anos com a Matador Records acabou por causa de conflitos criativos com Wanderer (2018). Agora, Cat Power mostra entusiasmo para criar novas músicas autorais: “Tenho tempo para trabalhar no novo álbum”, alfineta.

‘Meu tempo e do meu filho’

Apesar da boa variedade de artistas e da incrível capacidade de dar a sua personalidade em cada cover, Cat Power deixa claro que não gastou tempo a mais pensando no projeto. “Sendo uma mãe solo, eu tenho que priorizar o meu tempo e o do meu filho. O trabalho é o segundo lugar. Agora que ele está com sete anos, estou aprendendo a me priorizar”, explica.

“Eu o eduquei direito. Ele é forte, engraçado, divertido, bondoso, empático, inteligente”, lista a cantora entre tantos outros elogios ao filho soltos espontaneamente ao longo da conversa com a Tangerina. Chan já falou anteriormente que teve uma relação breve com o pai da criança, que não se envolveu com a criação.

A situação mudou quando ela entrou na turnê de Alanis Morissette. “Ele mora em Nova York e eu em Miami. Então, ele voou para cá e, basicamente, assumiu o comando para mim pela primeira vez. Essa foi uma grande ajuda”, revela Cat Power, que mostra uma boa relação com o ex. “Ele está lá com o meu filho agora. E sei que é difícil para ele, porque ele não tem essa experiência. Mas ele só tem mais um mês pela frente, e aí estará liberado.”

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Lucas Almeida

Lucas Almeida

Repórter. Passou pela MTV Brasil e Veja.com. É fã de um pop triste e não deixa de ouvir todos os lançamentos musicais da semana.

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