MÚSICA

Desfiles 2022: O Sambódromo do Rio de Janeiro

Divulgação/Riotur

Carnaval

De Martinho a Paulo Gustavo: Um guia para assistir aos desfiles do RJ

Depois de dois anos de adiamentos, as 12 escolas do Grupo Especial desfilam pela Sapucaí em abril; conheça os enredos

Bernardo Araujo
Bernardo Araujo

Alô, povão, agora é sério! Os desfiles estão de volta em 2022. Nos dias 22 e 23 de abril —sim, depois da Páscoa, de Tiradentes, junto com São Jorge, ou Ogum—, as escolas de samba dos Grupos Especiais de Rio e São Paulo voltam à avenida. O retorno vem mais de dois anos depois dos desfiles de 2020, já às vésperas da pandemia.

Entre os enredos, os temas africanos predominam, principalmente no Rio, mas tem lenda indígena, personagem clássico da literatura teletransportado para o Nordeste, política e figuras importantes das artes brasileiras.

Bem-vindo de volta, Momo! Se cuida!

Desfiles 2022: Os enredos do Rio de Janeiro

Imperatriz Leopoldinense
Meninos eu vivi… Onde canta o sabiá, Onde cantam Dalva & Lamartine

De volta ao Grupo Especial, a certinha de Ramos, multicampeã, se une à carnavalesca Rosa Magalhães, em uma combinação que viveu anos de glória nos anos 1990-2000, com cinco títulos. Pisando devagar no retorno ao grupo, a Imperatriz vai na bola de segurança ao louvar outro carnavalesco histórico, Arlindo Rodrigues (1931-1987), bicampeão lá mesmo em 1980-81. Se uma catástrofe não acontecer, fica no grupo sem problemas.

Mangueira
Angenor, José & Laurindo

Capitaneada pelo carnavalesco popstar Leandro Vieira, a verde-e-rosa vai com um enredo até caretinha, se comparado a seu passado recente, em que denunciou a falsa história oficial e levou Jesus ao morro nos dias de hoje. A Mangueira homenageia três de seus personagens mais importantes, o compositor Cartola (Angenor de Oliveira), o intérprete Jamelão (José Clementino Bispo dos Santos) e o mestre-sala Delegado (Hélio Laurindo da Silva), homens negros de profunda importância na escola e no Carnaval. Também diferente dos últimos anos, não aparece como uma das favoritas ao campeonato.

Salgueiro
Resistência

A gigante alvirrubra da Tijuca é a primeira do ano a mergulhar na africanidade. Com um enredo que defende a cultura negra, a escola declara guerra ao racismo e lembra carnavais correlatos do próprio Salgueiro —uma das escolas mais tradicionais nos enredos de sabor africano—, como Tambor (campeã em 2009), Xangô (2019) e A Ópera dos Malandros (2016). Tem boa chance de voltar no sábado das campeãs, como sempre, mas não aparece como candidata ao título.

São Clemente
Minha vida é uma peça!

Única representante da Zona Sul do Rio no Grupo Especial, a escola aurinegra —diz a lenda que suas cores foram escolhidas após a ida de um de seus fundadores a um jogo entre Fluminense e Peñarol, do qual ele voltou encantado com o amarelo e preto do esquadrão uruguaio— homenageia o ator e comediante Paulo Gustavo. O artista foi uma das mais de 600 mil vítimas da Covid-19 no Brasil, aos 42 anos, em maio de 2021.

O lema do astro, “Rir é um ato de resistência”, norteia o desfile da escola, que lembra a obra dele, a inesquecível Dona Hermínia (baseada na mãe de Paulo, Déa Lúcia) e o casamento com o médico Thales Bretas. Como sempre, a escola briga para se manter no Grupo Especial.

Viradouro
Não há tristeza que possa suportar tanta alegria

A campeã do Carnaval carioca —embora venha de Niterói, assim como outras agremiações que são de fora do Município, vide Beija-Flor e Grande Rio— aposta em samba e enredo badalados para tentar um inédito bicampeonato. Aproveitando o (saravá!) fim da pandemia, a Viradouro traça um paralelo com o carnaval de 1919, o primeiro depois da Gripe Espanhola, epidemia de influenza que dizimou, segundo alguns cálculos, um quarto da Humanidade, cerca de 500 milhões de vidas.

Com um originalíssimo samba em formato de carta de amor ao Carnaval, a alvirrubra deixa cair a máscara para cair na folia.

Beija-Flor
Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor

Sempre em vias de beliscar um título (com justiça ou não, mas isso é outro papo), a agremiação de Nilópolis mergulha fundo na cultura negra, louvando escritores como Jefferson Tenório, Conceição Evaristo, Paulo Lins, Eliana Alves Cruz e Elisa Lucinda e lembrando a força da negritude, desde a África, além das injustiças sofridas até hoje pelo povo preto. Eterna candidata ao lugar mais alto do pódio.

Paraíso do Tuituti
Ka ríba tí ÿe – Que nossos caminhos se abram

Em sua primeira passagem longa pelo Grupo Especial (desde 2017, indo para o quinto ano consecutivo), a escola do bairro de São Cristóvão é mais uma a mergulhar na africanidade, no desfile que marca a volta do mago Paulo Barros à agremiação. Foi no Tuiuti, em 2003, em um desfile sobre o pintor Cândido Portinari, ainda nos grupos inferiores, que ele chamou a atenção da Unidos da Tijuca, para onde foi criar uma revolução (ainda que breve) no Carnaval.

Em uma rara incursão de Barros pela África, o Tuiuti briga para permanecer no Grupo Especial mostrando os caminhos do povo preto desde a África, pelas mãos dos orixás.

Portela
Igi Osè Baobá

É bom estudar os idiomas e dialetos africanos para compreender bem os desfiles do Carnaval carioca em 2022. A Portela é mais uma a viajar pelo Continente Negro, usando o majestoso baobá, árvore de origem africana que pode viver mais de mil anos, como espinha dorsal.

A cultura negra trazida ao Brasil pelas pessoas escravizadas também vem representada pelas raízes do baobá e suas ramificações, desde o Cais do Valongo, na região portuária do Rio. Apesar de comandada pelo poderoso casal de carnavalescos formado por Renato e Márcia Lage, a Portela, em condições normais de concentração e dispersão, não disputa o título.

Mocidade Independente de Padre Miguel
Batuque ao Caçador

De volta às cabeças desde o título de 2017, a alviverde da Zona Oeste une habilmente os orixás e o poder do próprio batuque no enredo desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo.

Contando a história de Oxóssi, o caçador de uma flecha só, segundo o samba —um dos mais badalados do ano, na voz do operístico Wander Pires—, a Mocidade chega aos próprios tambores, lembrando mestres de bateria como Jorjão, Coé, o lendário Mestre André (criador da paradinha e de outras bossas que valeram o apelido de Não Existe Mais Quente, com uma forcinha da canção gravada por Elza Soares) e o atual, Mestre Dudu. Boas chances de volta nas campeãs, alguma de título.

Unidos da Tijuca
Waranã – A Reexistência Vermelha

Em um 2022 de desfiles africanos por todos os lados, a escola do Morro do Borel vai por um lado também tradicional entre as escolas de samba, mas raro em 2022: a cultura indígena. Com um certo sabor de anos 1970, a Tijuca conta a Lenda do Guaraná, uma guerra entre Tupana, criador das boas coisas do mundo, e Yurupari, o regente da escuridão.

O samba, puxado pelo veterano Wantuir com sua filha, Wictoria Tavares, gera reações de amor e ódio. Não deve brigar em cima nem embaixo.

https://open.spotify.com/track/5nurTrsFZVPev3ex7iwgdL?si=48a03442c43343b2

Grande Rio
Fala Majeté! Sete Chaves de Exú

Depois de várias batidas na trave, inclusive no último Carnaval, em 2020, a tricolor de Duque de Caxias aposta mais uma vez na dupla de jovens carnavalescos Leonardo Bora-Gabriel Haddad e em um enredo tirado das religiões afro-brasileiras para, finalmente, sair da fila.

Nunca faltou dinheiro à Grande Rio, mas sim o que o povo do samba chama de “chão”—componentes, compositores, baianas, o esteio de uma escola de samba. Depois de 30 anos, pode ser que ela esteja pronta. O samba é, mais uma vez, um dos maiores sucessos do Carnaval.

Unidos de Vila Isabel
Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho

Quando Martinho da Vila completou 80 anos, desfilando no carro abre-alas de sua escola, em 2018, o mundo do samba se perguntava porque ele não era o enredo da Vila Isabel. Na época, o próprio Martinho não quis, mas agora, para os desfiles de 2022, o mestre topou a homenagem, com um samba que tem a assinatura de compositores como André Diniz e Dudu Nobre.

De azul e branco por este mundo sem fim, a Vila conta a história do compositor nascido em Duas Barras, no interior fluminense, e que se tornou sinônimo da própria escola compondo sambas, propondo enredos ou simplesmente desfilando no chão, recebendo o carinho do povo. Boas chances de retorno nas Campeãs, quiçá de título.

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QUEM FEZ
Bernardo Araujo

Bernardo Araujo

Bernardo Araujo é jornalista e crítico de música há uns trinta anos, embora ninguém diga. Carioca e tricolor, milita no heavy metal desde antes do Rock in Rio de 1985, sendo um orgulhoso traidor do movimento ao escrever sobre samba, MPB e outros absurdos. Apresenta o Panorama, na Rádio Cidade (RJ), edita a revista Traços-RJ e faz jornalismo por aí, sempre tentando acertar as crases.

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