Reprodução/Interscope Records
Em 1992, o mundo cantava I Will Always Love You com Whitney Houston enquanto comentava os novos discos de Madonna, Dr. Dre e R.E.M.
O início dos anos 1990 marcou um momento decisivo para a música. Além da infinidade de artistas apresentados ao mundo, muitos deles —e seus discos— se tornaram clássicos e mudaram o rumo da indústria fonográfica.
Um dos principais fatores desse chacoalhão musical foi a popularização do grunge em 1991, que tomou conta do público e dos artistas que se arriscaram na guitarra. Em 1992, então, o rock estava em alta, assim como o hip-hop, especialmente nos Estados Unidos. Esse contexto propiciou as estreias em disco de Dr. Dre e Rage Against the Machine. Enquanto isso, o rádio fazia o mundo cantar I Will Always Love You com Whitney Houston.
A fim de celebrar essas obras que repercutem até hoje, a Tangerina separou 10 discos que completam 30 anos em 2022 para lembrar do contexto de lançamento de cada um deles. Assim, você poderá entender o motivo desses álbuns serem tão históricos, mesmo passadas três décadas. Leia a seguir:
Nos anos 1980, R.E.M alcançou a fama com integridade. O grupo lotou estádios com The One I Love e inspirou toda a geração posterior de compositores. Na década seguinte, portanto, se estabeleceram como uma das peças fundamentais do rock alternativo.
Com o sétimo disco Out of Time (1991), Michael Stipe e companhia viveram um sucesso ainda mais esmagador. Losing My Religion, um dos hits do grupo, levou dois prêmios Grammy. Com isso, pensar em um novo álbum que atendesse as expectativas dos fãs —e da crítica—, poderia ser considerada uma tarefa difícil para alguns. Mas isso só os motivou a dar continuidade a uma sequência quente de hits presentes no Automatic for the People, que completa 30 anos em 2022. Sucesso comercial e da crítica, o disco conquistou a segunda posição no Hot 100 da Billboard, além de ter alavancado três hits no top 40 nos Estados Unidos.
Canções como Drive, Everybody Hurts e Man on the Moon fazem do registro uma dose vigorosa do rock alternativo, que serviu de inspiração lírica para outros vocalistas que agitavam a geração grunge, como Kurt Cobain e Eddie Vedder.
Estreia do rapper e inigualável produtor Dr. Dre, The Chronic é considerada uma bíblia para o hip-hop. Lançado em 1992, o registro redefiniu o rap da Costa Oeste com bases mais lentas, beats graves e menos frenéticos —embora os instrumentos orgânicos dividissem a atenção audição com apitos, comentários ao vivo, sirenes e uma cidade em chamas.
Musicalmente mais agressivo, o disco reúne alguns dos principais parâmetros do gangsta rap: faixas com menos batidas por minuto —característica que destoa da maioria dos trabalhos do período—, letras contundentes e meticulosamente bem trabalhadas e a redução notável do uso de samples.
Dos três singles lançados, Nuthin’ But a ‘G’ Thang, Fuck wit Dre Day e Let Me Ride, o primeiro conquistou a segunda posição no Hot 100 da Billboard, e ocupou o topo na Hot R&B/Hip-Hop. A sonoridade da faixa não se equiparava a nada feito na cena do hip-hop no começo dos anos 1990. A presença coadjuvante e descontraída de Snoop Dogg também conquistou o carisma da crítica e deu à parceria o título moral de uma das músicas mais bem sucedidas do hip-hop.
O Pavement fez sua estreia com um disco enigmático mas acessível, e melódico. Essas características faziam com que Slanted and Enchanted caminhasse sutilmente ao lado oposto do que o sucesso esmagador de Nevermind, do Nirvana, trouxe para a indústria no início dos anos 1990.
Enquanto algumas bandas têm sucessos estrondosos e imediatos, com o Pavement foi necessário tempo para que a obra fosse revisitada e olhada com mais carinho —embora a estética caseira com riffs sujos e vibrantes tenham prescrito a fórmula da música independente das décadas seguintes.
As 14 faixas de Slanted and Enchanted imprimiram o retrato de três jovens testando os limites dos ouvintes com estruturas sonoras dissonantes, vinda da influência pós-punk de grupos como My Bloody Valentine e The Fall.
Um dos primeiros grupos a fundir gêneros tão diversos como o hip-hop e o metal, Rage Against the Machine abriu o caminho para as bandas que surgiram no final da década de 1990. Os discursos inflexíveis sobre política e o choque imediato da capa, que traz o monge Thích Quảng Đức pegando fogo durante um protesto contra a opressão ao budismo em 1963, anuncia a acidez do grupo —e do registro em questão.
Sonoramente, o primeiro ponto a ser notado é o riff de Tom Morello. O guitarrista revolucionou o manuseio do instrumento ao tocar linhas “arranhadas” combinadas ao pedal Wah-wah, que atenua as frequências das notas. O feito estruturou a musicalidade sonoridade perfeita para as composições ríspidas do Rage Against The Machine.
Altamente influenciado pelo heavy metal, o disco de estreia da banda chegou a primeiro lugar no top Heatseekers da Billboard, além de conquistar a 45º posição do Top 200. A canção Wake Up entrou na trilha de The Matrix, além de marcar presença em jogos eletrônicos como Guitar Hero II e Guitar Hero Smash Hits.
O mundo estava pronto para a estreia de Dirty. Em 1992, o Nirvana havia desbancado o primeiro lugar ocupado pelo rei do pop, Michael Jackson, e a música alternativa pavimentava o próprio espaço. Com a produção de Butch Vig, mesma figura à frente de Nevermind, o disco virou trilha dos entusiasmados por Nirvana e da cena grunge.
Guitarras altas, bateria pesada e a “aura suja” são alguns dos elementos que dão liga ao álbum. Nele, Kim Gordon, dona de um vocal desafiador, desfila com gracejo nas composições. 100%, faixa de abertura do disco, foi lançada como single, mas não bateu como um hit nas rádios. As distorções cruas —embora sejam as favoritas de Kurt Cobain— não soavam como algo comercial.
Dirty chegou ao sexto lugar no UK Albums Chart, mas estreou na 83ª posição nos Estados Unidos. O verdadeiro alcance da canção foi no nicho de rádios alternativas e universitárias, que rendeu ao grupo o 4º lugar na Billboard Alternative Songs. Após Dirty, a influência sonora do Sonic Youth passou a fazer parte da música popular americana.
Check Your Head foi produzido pela própria banda e pelo brasileiro Mario Caldato Jr. No disco, os Beastie Boys abrigam timbres acústicos, samples e misturam, com maestria, o rap oitentista, o punk rock, e o hardcore.
Em harmonia com as raízes instrumentais do grupo, eles se inspiraram no baixo do Funkadelic (Gratitude, Funky Boss e POW), em samples de Bob Dylan e nos arranhões frenéticos presentes nas pick-ups dos DJs. As influências latinas aparecem em Groove Holmes e o hardcore nervoso do Beastie Boys em Time for Livin. Quando o hip-hop é assunto, Stand Together e a Finger Lickin’ Good são as mais marcantes.
Com 20 faixas, o disco chegou à décima posição do top 200 da Billboard e à 37ª posição no chart R&B/Hip-Hop, além de ser certificado com platina duas vezes pela RIAA. Check Your Head é considerado até hoje uma das grandes obras do grupo. Entre as músicas mais icônicas estão Pass the Mic, Jimmy James e Professor Booty.
Fear of the Dark viria a ser o último registro de Bruce Dickinson nos vocais até seu retorno definitivo, em 1999. O nono disco do grupo inglês ficou conhecido mundialmente principalmente pela faixa-título —que se consolidou ao lado de The Number of The Beast com um dos grandes hits Iron Maiden.
Be Quicky or Be Dead faz as honras da abertura do registro com riffs hipnotizantes, enquanto From Here to Eternity se aproxima mais do estilo No Prayer for Dying com influências do hard rock e heavy metal. O disco também foi importante para revelar a habilidade do produtor Janick Gers, que depositou experiência em canções sombrias, com temáticas melancólicas e melodias à la Iron Maiden.
O álbum foi o terceiro do grupo a conquistar as paradas musicais da Inglaterra, honrando o posto de melhores bandas de heavy metal com o primeiro lugar. Até 2008, vendeu cerca de 438 mil cópias.
Como o primeiro álbum de Madonna a receber o selo Parental Advisory, por conteúdo sexual explícito, Erotica gerou polêmicas no lançamento. A faixa Did You Do It, por exemplo, chegou a ser proibida em países como China e Singapura.
O registro foi simultaneamente vendido com o livro Sex, que possui fotografias explícitas da cantora, e se apresenta como um disco conceitual de sexo e romance. Sonoramente brinca com as texturas do dance pop, techno e modern house. As composições se desenvolveram sob a perspectiva do alter-ego Mistress Dita, adotado por Madonna e inspirado na atriz Dita Parlo.
Entre os singles de divulgação de Erotica, Deeper and Deeper conquistou a primeira posição do Hot 100 da Billboard dos Estados Unidos. O disco aparece como inspiração para outros nomes pop ousados, como Christina Aguilera, Britney Spears e Janet Jackson.
Keep the Faith chegou após um período incerto de Bon Jovi. Em 1988, com o lançamento de New Jersey, o grupo havia embarcado em uma turnê mundial que gerou exaustão entre os integrantes e o empresário da época, Doc McGhee. Embora o entrosamento do grupo existisse, nos bastidores, a banda enfraquecia.
Em 1991, o guitarrista Richie Sambora e o frontman Jon Bon Jovi se reuniram para decidir o próprio futuro e optaram pela demissão de McGhee. Com isso, o vocalista criou a Bon Jovi Managements para cuidar dos próximos passos da banda. Em um contexto onde o grunge influenciava todos os segmentos do rock, algumas mudanças entre eles precisaram acontecer.
Com isso, em Keep the Faith, abandonaram o glam rock e lançaram 12 faixas com influência nítida dos Rolling Stones e de Bruce Springsteen. O disco chegou ao quinto lugar do Top 200 da Billboard e permaneceu entre os 200 álbuns mais ouvidos por 49 semanas. No Reino Unido, estreou em primeiro lugar.
É nele que estão hits como a faixa-título, Bed of Roses e In These Arms.
Foi a partir da trilha sonora do filme O Guarda-Costas, de 1992, que I Will Always Love You, interpretada por Whitney Houston, se tornou um hino romântico mundial. O disco chegou a ganhar o Grammy de álbum do ano e apresenta colaborações de Kenny G, Nick Lowe, Bill Withers, Joe Cocker, Lisa Stansfield e mais.
Após repaginar o clássico de Dolly Parton com a própria assinatura, a super estrela do pop Houston conquistou a primeira posição do Hot 100 da Billboard, além de permanecer no topo por 14 semanas consecutivas, um recorde para a época. O fenômeno movimentou 3,1 milhões de cópias e se tornou o single mais vendido do ano em nove semanas, de acordo com a Nielsen Music.
O disco chegou a ganhar a certificação em platina e contribuiu para que Whitney Houston fosse a primeira artista negra a ter três álbuns de diamante em sua discografia.
Nicolle Cabral
Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.
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