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Rapper rebateu ‘pessoal falando que festival não é lugar para falar sobre política’, como Roberta Medina, uma das responsáveis pelo Rock in Rio
Emicida esquentou a plateia em uma noite fria e chuvosa na Cidade do Rock ao começar sua apresentação deste domingo (4) com um combo de Triunfo e Pantera Negra que valorizou as guitarras e os metais de sua banda. “Senhoras e senhores, eu voltei”, anunciou o rapper, pedindo para o público erguer as duas mãos pro alto.
Antes, o diretor artístico do palco Sunset, Zé Ricardo, tinha anunciado Emicida lembrando que ele havia estreado ali em 2011. De lá para cá, o rapper paulistano se transformou não só num dos principais músicos do país, como também num pensador social.
Boa Esperança veio na sequência com destaque para a percussão, e Priscilla Alcantara foi a primeira convidada da noite, fazendo as vezes de Pitty na canção Hoje Cedo. Os dois emendaram com Você Aprendeu a Amar?, música da cantora que conta com feat de Emicida, mas teve protagonismo da cantora pop forjada no gospel.
Priscilla Alcantara participa de show de Emicida no Rock in Rio
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Em Gueto, o rapper citou Eu Só Quero É Ser Feliz, clássico do funk carioca de Cidinho e Doca, que estiveram no mesmo palco Sunset com Papatinho no sábado. Com grave no talo, foi a vez do amigo Rael fazer dobradinha em A Chapa É Quente, do disco lusófono Língua Franca (2017).
Drik Barbosa apareceu para somar ao time Laboratório Fantasma, produtora gerida por Emicida (que vestia boné da empresa) e o irmão Fióti. Luz, música que reúne os três no álbum Drik (2019), marcou o encontro.
Ainda com Rael e conduzida pelo naipe de metais, Levanta e Anda também empolgou o público, que estava nas mãos de Emicida. Sem deixar a peteca cair, veio Envolvidão, grande sucesso da carreira de Rael.
Rael com Emicida durante show no Rock in Rio
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Emicida mais cantou do que falou. Preferiu discursar através dos versos que compôs e gravou. AmarElo fez a Cidade do Rock, Drik e Rael cantarem Belchior em coro “tenho sangrado demais/ tenho chorado pra cachorro/ ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” —um dos hinos da pandemia no Brasil.
Foi a deixa para o coro contra Jair Bolsonaro. “É difícil ouvir o que vocês estão dizendo, vocês poderiam dizer mais alto?”, pediu. “Dia 2 de outubro, por favor. Façam isso na urna”. Então, os fãs cantaram por Lula.
Foi a vez de Emicida, enfim, se posicionar. “Teve um pessoal falando que não era de bom tom falar sobre política sobre festival. Mas se eu tô aqui é porque 30 anos atrás os Racionais resolveram fazer política com música”, falou ele, numa indireta a Roberta Medina. A vice-presidente do Rock in Rio tinha dado entrevistas dizendo que festival não era lugar para fazer política.
“Que daqui a 30 anos a gente seja espelho a outros, para que a gente nunca mais precise importar o coração do colonizador, porque a gente tem gente com coração nessa porra”, seguiu Emicida, agora falando sobre o coração de dom Pedro 1º trazido ao Brasil por Jair Bolsonaro.
Drik Barbosa participou de show do Emicida
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Principia, com o refrão “tudo o que nós tem é nós”, fechou o show trazendo Priscilla Alcantara de volta ao palco em clima de comunhão artista e público.
O Rock in Rio segue com Gilberto Gil, Demi Lovato e Justin Bieber neste domingo.
Luccas Oliveira
Luccas Oliveira é editor de música na Tangerina e assina a coluna Na Grade, um guia sobre os principais shows e festivais que acontecem pelo país. Ex-jornal O Globo, fuçador do rock ao sertanejo e pai de gatos, trocou o Rio por São Paulo para curtir o fervo da noite paulistana.
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