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Enchente e rodízio: Fãs acampam no perrengue por Louis Tomlinson

Em barracas, o público se organiza à frente do Espaço Unimed, local onde o músico se apresenta neste final de semana

Nicolle Cabral
Nicolle Cabral

Marcado para este sábado (28), o show de Louis Tomlinson vai, enfim, acontecer. A turnê mundial do músico precisou ser prorrogada duas vezes devido à pandemia da Covid-19. Com duas datas no Espaço Unimed (novo nome do Espaço das Américas), o ex-One Direction terá a casa cheia na primeira noite, enquanto a apresentação extra para o domingo (29) ainda aguarda o sold out. Mas isso é só um detalhe

O que chama a atenção, na verdade, são as barracas localizadas a poucos metros da frente do estabelecimento onde o britânico irá se apresentar. Quem passa desavisado nem imagina que se tratam de fãs que esperam há meses naquele mesmo local por Louis Tomlinson. Mas quem são essas pessoas e como elas se organizam? Para sanar todas essas dúvidas, a Tangerina foi apurar essa história. Leia a seguir:

Fãs acampam à espera de Louis Tomlinson

Fãs acampam à espera do ídolo

Tangerina/Nicolle Cabral

Divisão por barracas: B1, B2…

A primeira movimentação em torno da vinda do cantor ao país ocorreu em novembro de 2019,  mês em que as vendas de ingressos foram iniciadas. O show seria em maio de 2020. Portanto, o grupo da barraca B1 se organizou para o acampamento em dezembro de 2019, em um distante mundo pré-pandêmico.

A barraca B1 no dia de montagem

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Pela época do ano, com provas escolares e festas de fim de ano, poucas pessoas estavam disponíveis para segurar o lugar na fila. Mas Erika Anastacio, de 20 anos, que mora em Jundiaí, se ofereceu para essa jornada. Ela havia acabado de encerrar o ensino médio. 

Em entrevista à Tangerina, ela conta que durante boa parte do mês de dezembro se deslocou durante 1 hora e 40 minutos até o Espaço das Américas para vigiar o acampamento. “Normalmente, por dia, eu fazia de sete a oito horas de revezamento”, conta. “Eu era uma das únicas que não tinha responsabilidades como estudar ou trabalhar. As outras meninas revezavam antes do trabalho ou depois, algumas acordavam para ir trabalhar. Já presenciei várias estudando lá dentro [da barraca].”

O revezamento é a principal regra. Assim, a barraca nunca fica sem um responsável. “Todo começo de semana, as meninas mandavam uma listinha com os dias e os horários que cada uma podia”, explica. 

Com a pandemia da Covid-19, porém, o esquema teve de ser suspenso. O retorno da barraca B1 só aconteceu em fevereiro de 2022. Ao juntar os meses de acampamento pré-isolamento social até a volta, foram oito meses de espera na fila. “Saber que todo esse tempo sofrendo será recompensado daqui a dois dias é uma sensação muito inexplicável”, vibra Érika. 

Além da estudante de Psicologia, a barraca B1 tem entre 60 a 65 participantes. Pedro Honorato, de 20 anos, de São Paulo, também é um dos integrantes. Em entrevista à Tangerina, ele conta que boa parte desse grupo se construiu devido ao amor mútuo pelos ex-integrantes do One Direction. “Muita gente aqui se conhece de longa data. Mas sempre rola de chegar gente nova”, explica. 

Se a escala de revezamento precisa sofrer alguns ajustes pela disponibilidade dos integrantes, eles recorrem ao Twitter. “Quando precisamos de pessoas para dormir ou passar o dia, espalhamos [a notícia] até encontrar alguém.” 

Pagante, revezante e ADMs

Na barraca B2, que conta com cerca de 50 pessoas, o grupo se organiza em uma planilha do Google Docs e por pulseiras divididas por cor. As brancas são dos revezantes, azul dos pagantes e as pretas são para os ADMs, apelido para “administradores” das barracas. “Desta forma conseguimos nos organizar, visualmente falando”, explica Mariana Joy, de 21 anos, moradora de Guarulhos, em São Paulo. Ela é uma das administradoras da B2 desde 2020, ano em que o acampamento surgiu.

Print da escala de revezamento da barraca

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“Desde lá, temos um grupo de fãs [do Louis] que se disponibilizaram a acampar. Temos revezantes que ajudam ao longo dos dias a ficarem nas barracas e os pagantes, que dão um valor para nos sustentarmos, desde as passagens até a nossa alimentação”, explica. Mariana não quis revelar o valor “cobrado” pela barraca. De acordo com ela, sempre que alguém do revezamento precisa de algum dinheiro para chegar ao local ou até mesmo para comer, as “pagantes” fornecem os valores. “Temos uma conta [bancária] somente para esse dinheiro”.

Pulseiras da barraca B2

Pulseiras da barraca B2

Acervo Pessoal

Cada função equivale a um lugar na fila. A estudante explica: “A ordem é feita por ADM e revezante (quem tiver mais horas de barraca fica na frente) e os pagantes, que são por ordem de chegada”. Mariana intercala a rotina de estudos e trabalho, de segunda a sexta-feira, com o acampamento na barraca. “É uma loucura”, conta aos risos.

Ao lado dela, na liderança, estão mais três amigas: Mariana Dias, de 21 anos, de Carapicuíba, Vitória Basalia, de 19 anos, e Sarah Eleutério, de 20 anos. As duas últimas são de São Paulo, capital. A amizade começou em 2019 pelo Twitter, durante a venda de ingressos do show de Louis. “Hoje em dia a nossa relação é além da barraca, o que nos ajuda a nos manter como ADMs”, conta Mariana Joy.

Na barraca B1, os termos e a lógica da fila são as mesmas. Érika conta que, em seu grupo, quem é pagante deposita um valor mensal na conta da administradora da barraca. Esse dinheiro é dividido entre produtos de limpeza, refeição para quem está acampando e passagens de transporte público.

Mas eles estudam? Trabalham? 

“99% dos nossos revezantes são maiores de idade, trabalham e estudam”, explica Pedro Honorato, da B1. Quando é o caso de algum menor de idade querer acampar, só é permitido com um acompanhante legal, e os horários são ajustados. “Fazemos combinados para não prejudicar a escola nem nada”. 

Em meio à função de coordenar o acampamento e os horários da faculdade e do trabalho, Mariana Dias, da B2, faz uma ressalva: “Muitas pessoas acham que quem acampa é desocupado, pelo contrário. A maioria das revezantes trabalha, e outras são universitárias, por isso temos uma escala”.

Barraca B2

Barraca B2

Tangerina/Nicolle Cabral

Frio e segurança

Durante a queda de temperatura que ocorreu em São Paulo nas últimas duas semanas, todos disseram que foi “difícil” manter a barraca. “Normalmente, deixamos três cobertas lá e cada uma leva a sua. Também jogamos duas lonas para proteger um pouco do frio”. Na hora de dormir, as barracas são fechadas com cadeados. “Questão de segurança”, explica Mariana Joy. Além disso, elas também instalaram um “lustre” improvisado, para não ficarem no escuro na hora que o sol se vai.

Luz da barraca B2

Luz da barraca B2

Acervo Pessoal

Mas o que os pais acham disso? “Eles têm receio, porque aqui é perigoso”, conta Vitória. “Todas são maiores de idade, mas rola um receio. Como somos ADMs, passamos os nossos números para os pais, assim, mantemos essa relação para ajudar as meninas.”

No TikTok, uma das integrantes da barraca B1 fez um vídeo narrando a rotina do acampamento. No registro, ela brinca que o despertador delas são os ônibus que passam pela avenida e que, vez ou outra, acontecem algumas brigas nos arredores.

Necessidades básicas

A escala é a regra mais importante dos acampamentos. Por isso, há horário para tudo. Ninguém deixa de fazer as necessidades básicas, como ir ao banheiro, comer ou tomar banho. No caso, eles utilizam o banheiro do supermercado mais próximo, ou o da Estação Palmeiras-Barra Funda, que fica aberto até meia-noite. 

“Passando disso, precisa segurar até abrir de manhã [às 4h40] ou ir até o outro lado da estação e usar o da Rodoviária, que é 24 horas”, explica Honorato. Ele conta também que, vez ou outra, alguém passa pelo acampamento e pergunta se eles não tomam banho. “Sempre explicamos o revezamento”, diz. Todo o esforço, inclusive, vem da vontade de ficar na grade e ver Louis de pertinho. “Precisamos fazer certos sacrifícios para ficar perto dele.”

Enchente

Os sacrifícios, inclusive, incluem passar por uma inundação. Érika conta que, no início do acampamento, o acampamento sofreu com uma enchente que tomou a rua. “Tivemos que pedir para os seguranças nos deixarem colocar as barracas e as nossas coisas no Espaço das Américas”, relembra. “Foi uma loucura. Em poucos minutos, a rua estava toda alagada.”

Rua alagada

Rua alagada

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Perrengues à parte…

Embora o dia do grande show não dispense cuidados e preparo, o que fica é a ansiedade de ver o grande ídolo. “Valeu cada segundo acampando para ver o Louis de pertinho”, comemora Mariana Dias. “Ver cada detalhe dele que eu sonho desde os 12 anos”, aponta Érika.

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Antes de ser repórter da Tangerina, Nicolle Cabral passou por Rolling Stone, Revista Noize e Monkeybuzz. Nas horas vagas, banca a masterchef para os amigos, testa maquiagens e cantarola hits do TikTok.

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